Ninguém é insubstituível

Postado por Babi Silva , quinta-feira, 17 de março de 2011 14:48


A cidade é a mesma: Cochabamba.  
A casa é a mesma.
Os quartos são os mesmos.
Mesmos móveis e até o mesmo clima (com um pouco mais de chuva).
As pessoas...essas sim mudam.
Nem deu tempo de sentir saudades, pois a novidade vem logo para substituir o sentimento.
No mesmo dia, uma vai e a outra chega... O quarto ocupado pela Simone, agora é ocupado pela Ayla que, no lugar de ter a Ju como companheira, tem a Gi. Nesse mesmo quarto que antes havia a Lise e um pouco antes a Natasha... Isso sem contar do quarto do Rafa, agora vazio esperando o próximo “dono”...O mesmo quarto que já foi do Douglas, Santi, Anny e Wendy.

Meu quarto também é o mesmo. Porém entre uma viagem e outra foi ocupado por Toby, Rafa, Ayla, aquela que agora é companheira da Gi, que já ocupou também o quarto que já foi do Rafa... O mesmo quarto que antes de mim recebeu a Dallas...

Claro que não posso esquecer-me do quarto da Naty, Colombiana que mora comigo e agora vive no mesmo quarto que antes foi da Morgan e eventualmente do Santi e da Simone, a mesma que foi roomate da Ju.

Assim como a casa e os quartos recebem moradores temporários. Nossas vidas também recebem pessoas permanentes temporariamente, numa rotatividade que poderia calejar qualquer coração. São pessoas que vão e vêm... Que fazem parte de nossa rotina por um tempo e logo se vão. Em pouco tempo vêm outras pessoas que exercem o mesmo papel de permanente temporário e logo se vão.

Diante disso logo concluo: “Ninguém é insubstituível”.  Ok, ninguém é insubstituível. Porém, são inesquecíveis e, apesar de terem seu papel substituído por outro, deixaram sua marca na alma e no pensamento daqueles que viveram aquele momento da história.

Hoje não consigo ouvir sobre a cidade de Tarija, sem deixar de lembrar-me de Dallas e do Leandro e nossas incríveis aventuras regadas à vinho. Como ir à Copacabana, no lago Titicaca e não me lembrar do Thiago e Mariana? Ler um poema ou ouvir “Bad Romance” da Lady Gaga sem me lembrar do Rafa? Ouvir a palavra pollo sem recordar-me instantaneamente da dança do Pollo criada pela Simone? Escutar a expressão "Hace parte" e não lembrar da Raquelzinha? 

Tantas pessoas que pararam seus cotidianos para viver uma nova rotina num intercambio. Vieram de outros países, culturas e realidades para compartilharem experiências com os que estavam em Cochabamba no mesmo período.

E de novo a magia de misturas de cores acontece... Cada um trazendo sua cor e misturando à tantas cores. Pequenas, mas intensas e coloridas experiências.

Ao final, cada um volta à sua rotina anterior com uma cor diferente, com muitas estórias pra contar. Alguns, eu já revi e continuam muito presente em minha vida. Com outros, apenas troco rápidas frases em redes sociais... outros nunca mais vi, nem conversei... Porém ainda estão e estarão marcados em minha memória... Cada um exercendo seu papel de ser substituível, mas nunca inesquecível. 



2010 – “Brindo à casa, brindo à vida, meus amores, minha família”

Postado por Babi Silva , sábado, 29 de janeiro de 2011 16:32


*Esse post é para agradecer e dizer quão abençoado foi o ano de 2010 pra mim.


Leia ouvindo: Mar de gente (Rappa)

2010 começou com o fechamento de um ciclo, um intercambio. Lembro-me que vim pra Bolivia passar apenas 6 meses trabalhando numa Fundação que trabalha com jovens diabéticos. Foi o inicio da certeza do que eu quero pra minha vida... Trabalhar com negócios sociais. Afinal, porque eu preciso escolher entre ganhar dinheiro ou fazer a diferença no mundo?

Já no inicio de 2010, em janeiro, estava me preparando para novos desafios e a possibilidade de ficar 1 ano mais na Bolivia. Lembro-me da correria de final do ano de 2009 e o incrível desafio de planejar, organizar e realizar um evento para jovens diabéticos... lembro-me que naquela época, comecei a aprender a criar aliados e aproveitar melhor a ajuda dos outros... como foram importantes os mineiros Thiago e Mariana que vieram fazer intercambio de férias na Fundação. Como foi super importante a ajuda da Erica, uma americana que veio participar de um dos acampamentos realizados pela fundação Ayuda e que resolveu ficar 1 ano mais na Bolivia, ajudando a comunidade de jovens diabéticos daqui. Ela me ensinou um pouco mais sobre o respeito às diversidades e sobre altruísmo... Ao final de 4 dias de evento, estava com o sentimento de dever cumprido e com a certeza da minha estadia por mais um ano.

Em Fevereiro começou a grande nova fase. De repente me vi em pleno sábado de carnaval, no aeroporto de Guarulhos esperando meu vôo para Tunisia. Que ansiedade. Estava a caminho da conferencia internacional de presidentes da AIESEC. Minha ansiedade em conhecer esse desconhecido ambiente, onde iria ter contato com 200 pessoas de 100 países diferentes quase não me deixava respirar...
Tinha a ansiedade e o medo que se fez tão presente, quando era criança e tinha mudado de cidade, de escola e tinha que encarar uma nova turma e possibilidades. Medo da rejeição, de não sentir-se pertencente a um grupo... No inicio foi estranho e me senti um peixe fora d´água. Porém, depois dos primeiros dias, fiz as primeiras amizades, que depois se mostraram e se mostram bem fortes até hoje. De repente, conheci um grupo de incríveis pessoas, de tantos países diferentes, mas com valores comuns. Hoje não consigo imaginar minha vida sem esses amigos, que vivem em tantos lugares diferentes e tão distantes, mas que estão presentes no meu dia-a-dia. Alguns países agora são personificações de pessoas queridas...

Venezuela e seu jeito animado e carinhoso de ver a vida, transmitido por Thais, uma pequena grande guerreira, que leva no peito o orgulho de ser Venezuelana, mesmo com todos os problemas internos e políticos.

Conosur (Argentina, Chile e Uruguai), companheiro e sensato... Muito sério a distancia, porém uma diversão quando se conhece um pouquinho mais de perto. Esse era o Emil, grande representante dessa região de 3 países. Tive empatia e amizade logo de cara. Logo depois, minha antiga companheira Alejandra, que foi presidente do comitê da AIESEC de Buenos Aires, na época que eu também era presidente do comitê de BH. Nós começamos nossa amizade virtualmente. Em 2009 ela foi fazer seu intercambio em SP e nos conhecemos pessoalmente, num final de semana que a levei pra conhecer Ouro Preto. Essa mesma Alê, que tinha tanto em comum comigo, logo depois decidiu tentar ser presidente da AIESEC Conosur e conseguiu. Garantia sobre a continuidade do amor incondicional que sinto por esses 3 países, representados por essa pessoa incrível.

Guatemala, um país que era quase desconhecido pra mim, mas que se fez muito vivo com a amizade do Ismael, um Guatemalteco que aprendeu a falar português incrivelmente sem sotaque espanhol, durante sua estadia de 2 meses na AIESEC Getulio Vargas, em SP. Ismael me ensinou que nada é impossível e além de amigo e confidente é uma fonte de inspiração. Ele que logo depois, tornou-se diretor nacional de gestão de talentos da AIESEC no Brasil. Ironia do destino? Ele foi meu guia, meu “irmão mais velho” me ensinado os principais desafios de ser representante de um país na AIESEC, dando-me uma transição do “ser Presidente” de como interagir e fazer tantas amizades ao redor do mundo. Logo depois lá estava ele, aprendendo um pouco mais sobre minha própria cultura, vivendo um pouco a minha história, conhecendo meus amigos e interagindo diretamente com eles... O Guatemalteco agora também é brasileiro e com isso, continuo aprendendo com a incrível experiência de troca de culturas...

Filipinas era outro país quase desconhecido por mim...Na verdade, só sabia que era um país situado em algum lugar da Ásia. Porém, de repente, através da Denise, descobri que mesmo um país tão distante pode ter similaridades com nossa cultura, eles adoram falar Espanhol. Alegre, carinhosa, responsável e muito empática, com a Denise, aprendi que os Filipinos possuem uma incrível força interior de ir mais além e mostrar que eles também podem ser reconhecidos como os grandes. A mistura da seriedade e grande foco dos asiáticos com a acolhedora e carinhosa atitude do latino americano. Assim são os Filipinos. Durante essa viagem aprendi muito sobre os países asiáticos, descobri que não tem nada disso de pessoas frias, tímidas e fechadas... Foi de onde consegui o maior número de abraços sinceros e fortes... Malasia, Indonésia, Singapura, Vietnã, todos agora são mais que países distantes e desconhecidos... são amigos queridos e que aprendo a cada dia com cada um deles.

Em 2010 descobri um mundo sem fronteiras. Foram horas e horas de conexões, de noites mal dormidas em aeroportos e em vôos que cruzam oceanos. Meu passaporte agora é a lembrança dos tantos países que conheci. Países que NUNCA pensei em conhecer. Culturas, pessoas, experiências. Fora o número de intercambistas que vieram para Bolivia e que deixaram sua marca por aqui, na vida dos que aqui estão ao mesmo tempo que, pude ver como a experiência na Bolivia modificou a vida deles, abriu os horizontes, derrubou preconceitos, assim como fez comigo.

Em 2010 descobri o poder das conexões sinceras. Conexões que são frutos de amizades construídas na descoberta do ser irmão que há por trás de cada pessoa... "Atirei-me ao mar. Mar de gente onde eu mergulho sem receio... Mar de gente onde eu me sinto por inteiro.." Conheci um mar de gente...Quantos amigos 1 única pessoa pode ter?

Amar o próximo como a si mesmo. Aprendi também que isso é MUITO fácil, à medida que percebemos que no fundo somos quase um só. Asiáticos, africanos, árabes, europeus, latinos...todos possuem os mesmo desejos, vontades e necessidades... O amor vem da aceitação do outro como ele é. Sem juízos e pré julgamentos. Sem o PRÉ conceito que é tão incrustado em nossa sociedade... Quem disse que europeu é frio? Que asiáticos é nerd? Que africano tem que ser pobre? Que latino é festeiro e só pensa em sexo e que árabe é religioso extremista?

Em 2010 também foi o ano que mais sai e voltei pra casa... Durante essas viagens tive a oportunidade de fazer “escalas” em casa e experimentar o estar no lar e sair do lar, várias vezes. Reafirmei também o sentimento de duplo lar. Chegar em BH e rever todos os amigos, familiares... Boas vindas e despedidas... Chegar em Cochabamba e sentir-me em casa, ficar feliz em rever todos os amigos e minha “nova familia” por aqui... A reafirmação de que agora a Bárbara Cocha faz parte do meu ser... e já sinto a aflição de saber que isso tem um tempo limite...já penso quão duro será a despedida final dessa vida que estou vivendo aqui.

2010 foi um ano de celebração, transformação e profundo aprendizado. E pra tudo isso, nada melhor que um réveillon de reflexão. Durante minhas ultimas semanas de Dezembro enquanto estava de “férias” no Brasil, tinha uma certeza: Não queria um réveillon como os anteriores...

E através das conexões sinceras, descobri que havia outras pessoas (amigos) que estavam na mesma vibe que eu. Conversando com a Tati, minha grande amiga e mentora, depois de procurar, procurar, sem encontrar a opção ideal, decidimos criar por nós mesmos nossa própria opção. Foi o réveillon mais simples e profundo que tive até hoje. Durante 3 dias, reunimos alguns amigos no sitio dela e criamos um ambiente para reflexão... Toda a agenda e conteúdo foram criados a partir da necessidade que tínhamos em analisar nosso ano de 2010 para entrar bem focado em 2011 e das experiências que havíamos vivido e aprendido durante os últimos anos... Melhor que aprender e viver, é compartilhar o aprendizado...

Com isso criamos um “self building” (busca pela construção pessoal) e plantamos sementes para ativar nas pessoas a necessidade de ser um agente multiplicador de impactos positivos. Claro que o “evento” não teve a pretensão de ser algo muito sério, rígido e inflexível. A construção foi feita por todos nós, que estávamos com o coração aberto e leve, na busca de respostas ou perguntas que irão nos guiar durante 2011. Foi um simples encontro guiado e formado por conexões sinceras de pessoas que buscam algo diferente... Algo além do viver para trabalhar, do viver por inércia.

2011 começa com a certeza de não ter nenhuma certeza. Porém, as perguntas estão sendo criadas e estas mesmas perguntas é que irão iluminar meu futuro para possibilidades... Até quando ficarei na Bolivia? Ficarei na Bolivia? E depois de terminar minha gestão de presidente em Julho, o que farei? Outro intercambio? Outro desafio em outro país? Voltar pra casa? Ir pra São Paulo? Casar e ter filhos? Criar minha empresa?


Incredible India II - Varanasi e o Rio Ganges

Postado por Babi Silva , terça-feira, 5 de outubro de 2010 01:36

Durante a Conferencia Internacional, encontrei a Leticia, amiga da AIESEC em BH, que está fazendo seu intercambio na Tata em Delhi, desde o inicio do ano. Desde que soube que ia pra India, já estava programando com ela uma viagem para conhecer melhor o país... Porém, demoramos tanto decidindo o destino que as opções foram ficando cada vez mais caras. Por fim, 2 dias antes da Conferencia terminar, decidimos (ela decidiu) que íamos para Varanasi. Ok... Eu, com meu conhecimento limitado de India, apenas perguntei o que tinha de interessante por lá. “O Rio Ganges”, ela disse. Uhm...interessante...

Sempre quis conhecer o Rio Ganges, mas confesso que não era, necessariamente, meu objetivo na India. Eu queria ir à um lugar onde houvesse elefantes, queria ir numa cidade que tivesse a “verdadeira India” sem máscaras pintadas para turistas e, claro, ver o Taj Mahal. Nesse sentido Varanasi prometia encaixar-se bem em minhas expectativas.


Se India é incrível, posso dizer que Varanasi, além de incrível é IMPRESSIONANTE.
*Impressionante: Aquilo que impressiona; que causa comoção; que abala; que perturba; que alvoroça; que enternece (Michaelis)


Depois de 4 horas voando numa companhia aérea doméstica, que “só dava passageiros estranhos”, segundo estatísticas da Lets, chegamos em Varanasi. Durante a viagem a Marina, ex-coordenadora da Lets, na TATA e que nos acompanhava na aventura, nos disse que as pessoa iam para Varanasi morrer, pois lá era um bom lugar para morrer. Olhei pra Leticia e comecei a rir sem parar... Ok, agora não tem tanta graça, mas na hora não pude segurar a crise de riso. Ainda mais depois que a Leticia disse: “Uai, pensei que fosse por causa da companhia aérea”. Realmente o voo estava cheio de passageiros doentes e muita, mas muita gente anciã.

Logo depois que chegamos ao minúsculo aeroporto, que deveria ter no máximo 30m²  ou 2 salas-de-estar, fomos buscar um taxi para nos levar até o centro da cidade...

Os taxistas nos avisaram que não entrava carro na cidade. “Que legal, deve ser igual Veneza”, exclamou Leticia... Uhum, vamos ver essa Veneza Indiana...

Assim que chegamos nos limites da cidade, percebemos que Varanasi mais parecia uma favela que Veneza... Depois de 15 min caminhando com minha mala gigante, por entre becos com esgoto a céu aberto, vacas e muita sujeira, seguindo um pequeno, velho indiano que nos insistia em indicar o caminho, chegamos em nosso hostel ou Guest House, como é mais conhecido por aqui.  Meu primeiro pensamento foi “O que eu vim fazer aqui?”... Ok ,vivamos a diversidade! Minha mala é muito pesada  e grande pra eu  ir embora agora... O que me motivava era saber que ficaria ali apenas 2 dias. O hotel até que era bonitinho e no final saiu suuper barato :18US por 2 dias, em um quarto triplo com banheiro(normal) privado e com Ar condicionado. O AC no quarto deu uma super mega valorizada no serviço do hotel =)

Estávamos famintas. Por isso decidimos deixar as malas no quarto e subir para o ultimo andar do hotel, onde havia um restaurante... Subindo as escadas para o restaurante, sentimos cheiro de churrasco e já gritamos: “Obaaaa carne de vaca, finalmente!”... Apressamos o passo e quando chegamos lá em cima, nada de churrasco... Ok, pode ter sido a fome nos enganando, pensei. Sentamos à mesa e fizemos nosso pedido... O hostel ficava à 2 quadras do Rio Ganges e mesmo sendo noite, podíamos perceber a grandiosidade do Rio... À margen do rio havia um grande templo Hindu e desse templo saía uma enorme fumaça... Ouvíamos uma música que vinha do templo e alguns cânticos, era aniversário de Krishna... Tive vontade de descer, mas olhando pra baixo, só via um emaranhado de casas, becos e pequenos templos. É como olhar uma favela de cima. Por isso, achamos mais seguros ficar no hotel.

Poucos minutos depois, o cheiro de churrasco voltou. Nos olhamos e ficamos chocadas por alguns segundos sem conseguir acreditar no que estávamos sentindo. Será? Não, não pode ser... Sim, é isso mesmo que estamos pensando. OMG! O cheiro que estávamos sentindo era da fumaça do templo, que na verdade era o maior crematório de Varanasi. Sim, eles estavam queimando corpos! Desde então, não consigo comer carne vermelha, pois só de sentir o cheiro tenho enjôos e me lembro do cheiro daquela noite.

No dia seguinte, fomos conhecer melhor a Veneza Indiana.  Até que durante o dia, sem o cansaço e a mala gigante, consegui perceber melhor as peculiaridades da cidade. A cada passo uma surpresa, vendas, restaurantes, casas, templos, tendas que vendiam garrafas vazias para levar a água sagrada do Ganges pra casa, peregrinos hindus, tudo muito real, nada turístico... Tudo seguindo seu ritmo natural e claro, suas centenas de vacas dividindo as ruelas com os tantos transeuntes. Tantas cores, cheiros e sensações causadas também pelo calor intenso e a alta umidade do ar.   Entramos num discreto café para tomarmos nosso café da manhã. mesas baixas e grandes bancos confortáveis... muitos tapetes, centenas de chás, incensos e outras especiarias indianas nas prateleiras, o ambiente era preenchido pelos cheiros e uma suave música Hindi ao fundo.  “Caramba! Estou na India!”  Sai do café com muita energia de conhecer melhor aquele lugar tão sagrado, tão especial.

Varanasi é uma das cidades mais antigas do mundo. Tem mais de 5 mil anos, foi bem perto dali que o Buda pregou pela primeira vez há muitos séculos atrás. É a cidade sagrada dos Hindus, às margens do sagrado rio Ganges. Em Varanasi existem dezenas de Gaths (umas escadarias que desembocam no Rio) onde os Hindus tomam seu banho sagrado, lavam roupas, rezam, e também cremam gente. Sim, várias das gaths são crematórios. Morrer em Varanasi é o sonho de todo Hindu.

Gaths

Logo depois do café da manha, fomos a uma das maiores Gaths negociar um barco que pudesse nos levar a um passeio pelo Rio Ganges. Depois de muita negociação, da Leticia, usando e abusando do seu Hindu básico/intermediário, subimos numa embarcação sem motor, que nos levaria pelas principais gaths da cidade. O rio Ganges é um dos rios mais poluídos do mundo. Também é um dos mais sagrados. Apesar disso, fiquei assustada ao ver crianças, jovens e anciãos dentro do rio, colocando um pouco de água em garrafas, rezando ou até mesmo bebendo! Lindos templos ao lado de cada uma das Gaths.



Ficamos admirando aquela cultura intrigante até que chegamos numa Gath crematório. Fotos são proibidas e o que pude ver foi uma pequena fogueira. Não nos aproximamos muito e ficamos ouvindo nosso guia explicando o ritual. Normalmente a cerimônia é acompanhada apenas pelos homens. Segundo ele, “é um ritual muito forte para as mulheres”. Depois disso, ele nos perguntou se queríamos conhecer o templo onde há o maior crematório da cidade. Claro que isso teria um custo adicional no passeio. Perguntamos a distancia e a direção e percebemos que era o tal crematório que fica muito próximo ao nosso hotel. Decidimos aceitar a oferta e lá fomos nós conhecer o mais famoso crematório Hindu da India.
Ao fundo o maior crematório de Varanasi

Ao chegarmos à Gath, tivemos que pedir licença aos zebus que se banhavam à margem do rio. Subimos ao templo e logo fomos recepcionadas por um guia. Ele nos convidou a entrar dizendo que não cobraria por nada, pois é um lugar sagrado e que gostaria de mostrar sua cultura pra gente... Aham, senta lá Claudia.


Mesmo sabendo que era papo de bom negociante Indiano, o seguimos. O templo é realmente muito grande, existem pilhas e pilhas de madeira e ele nos explicou que o quilo da madeira é muito caro, por isso nem todos tem o privilegio de serem cremados. Ele nos explicou que quando um Hindu é cremado em Varanasi, ele acaba com seu karma, não necessitando assim, voltar em outras vidas para pagá-los. Os corpos dos seres puros, como os bebês, as mulheres grávidas e as vacas são jogados diretamente ao rio sem necessidade de cremar.

Do alto pudemos ver o ritual da cremação. O corpo é embalado em panos dourados e prateados e banhado ao rio. Logo depois, eles colocam o corpo em cima de uma pilha de madeiras, e mais madeira em cima do corpo. No crematório que estávamos, são cremados de 300 a 400 corpos por dia. Funciona 24 horas.
Depois de 3 hora cremando as cinzas são jogadas no rio. O mais chocante foi ver a falta de pudor dos Hindus ao nadarem ao lado de onde se jogam cinzas. Ainda bem que de perto, não senti o tal cheiro de churrasco... Acho que é só a fumaça que tem esse cheiro mesmo.

Claro que ao final do passeio o nosso pequeno guia nos cobrou uma doação de apenas 250 rúpias, para que as pessoas pobres pudessem ser cremadas.  Esse foi o valor foi mais do que cada um de nós pagamos por ter 2 horas de passeio de barco no Rio Ganges. Um abuso. Resolvemos pagar 100, mesmo sabendo que já era um preço abusivo. De la, fomos conhecer melhor a cidade, no caminho cruzamos com muitos cortejos fúnebres...

Queríamos conhecer o Golden Temple, um templo hindu construído com muito ouro... Assim como para entrar em outros edificios públicos da India, para entrar no templo dourado, tive que passar por detectores de metais, revistas e ser seguida pelos olhos de muitos policiais. Passeamos por entre o templo, mas como não éramos Hindus, não pudemos entrar...

Duas vezes ao dia acontece a cerimônia em homenagem ao rio Ganges. Uma acontece às 5 da manhã e a outra às 7 da noite. Tentamos na primeira manhã ver essa das 5, mas não pudemos levantar...Fomos às 7 da noite mesmo. Chegamos à Ghat onde iria ter a cerimonia e negociamos o preço de assistir sentados num barco. Assim, poderíamos ver a cerimônia de frente. À medida que caminhávamos em direção à Ghat, vários sacerdotes ofereciam bênçãos, colocando uma tinta vermelha em nossa testa... Outra dezenas de mulheres e crianças nos vendiam barquinhos de flores com velas dentro para que pudéssemos libertá-las com um pedido ao rio Ganges. A cerimônia é bem bonita, com tambores, vários instrumentos musicais, cânticos e fogos.
Cerimonia do fogo em homenagem à Ganga
Para vídeo clique aqui


No dia seguinte pedimos para o senhor do Hotel chamar alguém que pudesse nos ajudar com as malas... Arrastar aquela mala gigante por aquelas ruas é que eu não iria fazer mesmo. Foram as 100 rúpias mais bem pagas na India.  De lá seguimos, pelas ruas da Nova Varanasi, numa incrível corrida de rickshaw para a estação onde pegamos um trem para Delhi. 17 horas de viagem. Na estação, vacas se misturavam aos passageiros e às vezes, realmente pareciam que estavam esperando o trem...

Vaquinhas na Estação (Para ver o vídeo, clique aqui)
Leticia, amiga e companheira de viagens, querendo me mostrar “the real India”, em lugar de comprar tickets na 2ª classe, que custaria menos de 20US, nos comprou classe “sleeper” que custou menos de 2,00 US.
Ok, sem problemas... Afinal, quem é que queria viver a verdadeira India? A classe sleeper é dividida em cabines (abertas) onde existem 3 camas de cada lado da cabine e uma cama oposta à cabine. Então, se tivéssemos sorte, iríamos sozinhas ou com no máximo outras 4 pessoas.


Logo que entramos, percebemos que iríamos ter 2 companheiros. As primeiras 2 horas de viagem foram tranqüilas. Eu lia a biografia do Gandhi que eu comprei em Mumbai, enquanto a Marina e a Leticia se distraiam conversando com um dos indianos, tentando explicar onde o Brasil ficava no mapa. Os Indianos adoram estrangeiros e possuem uma curiosidade interessante. É bem comum perguntarem coisas muito pessoais, antes mesmo de perguntarem seu nome. Nosso amigo indiano desceu em uma das estações, onde o trem resolveu demorar mais do que o necessário. Normalmente o trem fica parado no Maximo 20 min. Nessa estação esperamos por mais de 1 hora. Resolvemos almoçar o lanchinho que levamos. Eu comi minha Cheese Parantha (tipo de pão/panqueca com queijo)que pedi no hotel... Conversamos, tiramos fotos e nada do trem sair. Resolvi voltar para meu livro, Leticia resolveu subir pra cama dela, que ficava quase perto do teto do trem e a Marina resolveu tirar um cochilo. Fiquei concentrada no meu livro, quando percebi um burburinho vindo à nossa frente. Quando levantei a cabeça, onde havia antes apenas 1 indiano, haviam mais de 15. Todas se aglomerando em cima do pobre que estava sentado em sua cama/cadeira. Dos corredores haviam outros tantos indianos em pé, conversando e rindo, enquanto nos apontavam. Foi aí que percebi que estavam lá por nossa conta. Claro, não é todo dia que eles vêem 3 estrangeiras, sem a presença de nenhum homem na classe sleeper. Quando olhei pra janela, haviam outros tantos indianos me olhando. E a coisa só foi piorando. Chamei a Leticia que com seu Hindu, começou a pedir que eles se retirassem. Como não surtia muito efeito, tivemos que chamar o maquinista, que espantou alguns, mas não todos os curiosos. Então, ele resolveu chamar os policiais que vieram com enormes armas de madeira que tenho certeza que erão da época da colonização britânica na India. Os guardinhas ficaram la nos olhando até que o trem saísse de novo. Na hora ficamos assustadas, mas até que foi divertido. Hehehehe
A gente no trem...Olha a arma do policial
Para ver o vídeo clique aqui



Depois de 17 horas de viagem, chegamos em Delhi. Ficaria em Delhi tempo suficiente para descansar, reencontrar pela última vez, os amigos da conferencia que já estavam por lá e claro, organizar minha viagem para a tão famosa Agra, onde fica o Taj Mahal. Ainda faltavam os Elefantes... Então fiz um malabarismo com o tempo para conseguir conhecer Delhi, Agra (Taj Mahal) e Jaipur, a cidade cor de rosa, onde haviam os famosos elefantes. Essas 3 cidades também são conhecidas como triangulo de ouro e fiquei bem feliz em saber que poderia visitá-las em 2 dias e meio e tomar um avião para Mumbai onde pegaria meu vôo de volta para o Brasil. Porém, detalhes dessa viagem ficarão para o próximo capítulo.

Ao final, não sei explicar meus sentimentos quanto à minha viagem à Varanasi. Impressionada, é como consigo me descrever... Uma impressão que ficou marcada em minha mente e coração até hoje. 

Varanasi é uma das cidades mais especiais que conheci até hoje. Talvez seja a incrível história, o misticismo, tranqüilidade, jeito de ver e encarar o outro lado da vida, contrastada ao jeito indiano de viver coletivamente, sem se preocupar muito com o conforto e organização da vida ocidental e modernidade, fora o respeito aos animais e a natureza (apesar do rio poluído). Não sei explicar... Só sei que ao final tinha um misto de sentimentos...
Vontade de sair logo e ao mesmo tempo ficar... Varanasi me ensinou muito sobre desapego e até mudou um pouco meus hábitos diários... 











Incredible India I

Postado por Babi Silva , domingo, 12 de setembro de 2010 13:00

E depois de muuuuito tempo, resolvi atualizar meu blog.
Os últimos meses foram corridos e cheios de novidades, porém, acabo de voltar de uma das viagens mais incríveis que fiz na minha vida e se eu não ressuscitasse meu blog dessa vez, não o faria nunca mais...

Incredible India

Por mais que tivesse pesquisado no Google, ouvido histórias, dicas e conselhos de quem já esteve ou esta por lá, por mais que tivesse lido livros, blogs e visto a novela “Caminho das Indias”, nada, nada mesmo teria me preparado suficientemente para viver a Incredible India.

Agora realmente entendo o status que as pessoas que estão por lá colocam em seus msns, skypes, facebook e afins: Incredible India. Só essa expressão chega perto de explicar o que é viver a India...

Incrível
 Adj. 1 Que não se pode acreditar. 2 Extraordinário, inexplicável. 3 Excêntrico, singular. sm O que é difícil de acreditar. (Michaelis).

Realmente difícil de acreditar e de explicar.

Nos 20 dias que passei por la, 10 passei vivendo a maravilhosa experiência de uma conferencia internacional da AIESEC, com a presença de 600 pessoas de mais de 100 países diferente. Porém detalhes ficarão para próximos posts.

Um pouco antes da conferencia, passei 3 dias em Mumbai.  A idéia inicial era chegar em Mumbai às 2 da manhã, esperar até a manhã seguinte e pegar um vôo para Hyderabad, onde entrei em contato com alguns brasileiros que estão fazendo seu intercambio da AIESEC por lá, para me darem um help e um lugar pra ficar. Porém, na escala que eu fiz na África do Sul, encontrei a delegação do Brasil e resolvi juntar me a eles, que ficariam 3 dias em Mumbai, conhecendo a cidade. Ai começou minha aventura.

Paguei 10US para trocar minha passagem para Hyderabad e me juntei aos brasileiros. Assim que saímos do aeroporto um bafo quente nos recepcionou. É época de Monções (para saber + clique aqui) e chove pra caramba. Ficamos esperando o carro do hostel nos buscar. Os meninos conseguiram pela internet um hostel e lá fomos nós, esperar por esse serviço que depois descobri ser bem comum na India. Se você se hospeda no hostel, ganha “Free Pick up & Drop” para o aeroporto.

Chegamos no Anjali Inn às 3 da manhã, o Hostel fica em Maharashtra, ao lado de Dharavi, a maior favela da Ásia, aquela do filme “Quem quer ser um milionário”. Foi nosso primeiro grande choque. Chegar às 3 da manhã, numa favela, cheia de corvos gritando e chuva, muita chuva... Foi quase um cenário de filme de terror, o sentimento geral foi: “O que eu estou fazendo aqui?” . Vontade de pedir para nos levarem de novo para o aeroporto e sair voando de lá. Até que por dentro, o hostel era bonitinho e arrumado. O dono do hostel nos recepcionou com a simpatia típica dos Indianos. Preço de 15 dólares diários sem direito a café da manhã, mas com internet free =)

No dia seguinte, seguimos o conselho de Raj, dono do hostel e alugamos 2 taxis que nos acompanharam durante todo o dia, nos levando para os principais pontos turísticos da cidade... O hostel ficava à 1 hora e meia do centro comercial de Mumbai. Toda essa disponibilidade saiu por 200 rúpias por pessoa ou pouco mais de 4 dólares. E lá fomos nós...

Segundo choque: O trânsito caótico da Índia. Não existem faixas ou pelo menos elas não são respeitadas... então, num espaço que caberiam 3 carros lado a lado, existem 5. Adoro o senso de espaço dos indianos. Quase nenhum carro possui retrovisores e as motos colocam os retrovisores pra dentro, pois assim possuem mais espaço para manobras. Buzina aqui serve pra dizer, “estou passando”. Alguns caminhões possuem a frase "Horn please" (Buzine por favor) na traseira. Durante mais de 1 hora, tivemos como paisagem, edifícios escuros por causa dos musgos das paredes... A cidade é extremamente úmida e cada prédio parece um charque de samambaia.  O grito dos corvos nos acompanhou durante todo o trajeto. Por causa da chuva, não conseguimos ver muita coisa. Visitamos a casa do Gandhi, comprei um livro da autobiografia dele, tentamos ver a orla de Mumbai, visitamos um ponto turístico que não sabemos o nome, rejeitamos a entrada num museu de arte (prefiro história a arte),  passamos em frente ao Gateway de India (sem descer por causa da chuva), comemos MC Donalds que por lá só tem hambúrguer de carne de frango, peixe ou vegetariano, nada que contenha carne bovina. Promoção completa 3 dólares. Fizemos tentativas de fazer compras, mas os motoristas só nos levaram para lugares para turistas, onde tudo era obviamente muito mais caro que o normal. No final do dia resolvemos nos aventurar num bar para beber uma cerveja e jogar conversa fora. No bar nos arriscamos a pedir nossos primeiros pratos tipicamente indianos... Na verdade ninguém tinha a mínima noção do que estava pedindo, a única coisa que perguntávamos era se era picante, coisa difícil de evitar na India. Comemos um pão, macarrão frito e frango... Estavam muito bons e ninguém passou mal =)  O que mais me chamou a atenção foi a completa ausência de mulheres no bar. Outra coisa que chamou a atenção foi como nós estrangeiros chamamos a atenção... Os homens das mesas ao lado ficavam nos olhando, sorrindo e comentando coisas em Hindi ou Ingles Indiano que não dava pra entender nada.

 Criatório de Corvos na Orla de Mumbai
Ponto alto do 1º dia - Casa do Gandh
No 2º dia fizemos a mesma coisa. Chamamos nossos 2 taxistas e lá fomos nós conhecer outros pontos turísticos. Dessa vez não estava chovendo, nosso humor e disponibilidades estavam bem melhores que no dia anterior. Algo aconteceu, a cidade já não parecia tão feia, o trânsito já não nos tirava o humor, já até fazíamos piada do inglês Indiano. Fomos visitar um templo hindu, fomos num mercado fazer compras, o que super animou nós, garotas, que nos esbaldamos comprando coisas super hiper mega baratas (depois descobrimos que Mumbai é uma das cidades mais caras da India, obaaaa)... E com o humor ainda melhor depois das compras, tivemos ainda mais vontade de conhecer a cidade. Fomos conhecer um templo budista na orla de Mumbai e pudemos ver melhor a famosa orla, cenário dos tantos filmes de Bollywood. Depois voltamos para conhecer melhor o Gateway of India, construído pelos britânicos na época da colonização. Fotos, fotos, fotos, jantar no MC Donalds e mais comprinhas rápidas antes de voltar para o Hostel. Nessa altura do campeonato já tinha começado a pegar o jeito na barganha com os Indianos... Você pergunta o preço, diz que tá caro. Dai eles perguntam quanto você quer pagar, vc diz um preço baixo, eles reclamam, vc dá as costas e 3 segundos depois eles te chamam aceitando a proposta. Claro que foi a 1ª experiência de muitas... Pude praticar bastante a arte de barganhar com Indianos. 















No 3º dia o jetlag (para saber + clique aqui) nos afetou e passamos todo o dia dormindo e descansando. Na madrugada do 3º para o 4º dia viajamos para Hyderabad. O aeroporto de Mumbai é outra atração a parte. Nas entradas, assim como em todas as entradas de edifícios públicos, os famosos detectores de metais e muitos policiais. Muitos aviões saindo e chegando... Uma fila de aviões esperam a hora de decolar, filas e filas de pessoas esperando o momento de entrar nos ônibus que levam para as aeronaves... Dentro do ônibus, viajei quase 10 minutos pela pista, passando por centenas de aeronaves até chegar à minha e la dentro, avião lotado, cheiro de comida indiana no ar e muito, muito barulho de pessoas conversando o tempo todo.

Mumbai, como qualquer megalópole, possui seu lado moderno, bonito, dinâmico, confortável e prático. Assim como seu lado pobre, feio, barulhento e cheio de diferenças sociais.  No final o saldo foi positivo. Passar pela orla no final da tarde e ver dezenas de casais sentados olhando para o mar deu uma sensação de leveza à cidade... Gostei muito de Mumbai, só não sei se iria gostar de viver lá, assim como não sei se iria gostar de viver em SP. 

Chegando em Hyderabad, outra visão. Aeroporto hiper moderno, enorme, cheio, mas mais organizado que o de Mumbai. Do lado de fora, verde, verde e mais verde. Muitos jardins nos recepcionam...Que saudade de Dharavi hahahaha...

Nessa altura do campeonato, como peguei um vôo diferente do resto da delegação, claro que eu me perdi dos demais. Impossível encontrar alguém no meio de centenas de vôos com um mesmo destino, num aeroporto gigante como o de Hyderabad. Porém, já no meu vôo encontrei com um Norueguês, que estava indo para a mesma conferencia que eu e no momento de pegar minha mala encontrei com alguns membros da AIESEC Kenia e Nigéria, que também estavam indo para a mesma conferencia que eu. Essa é a vantagem de se usar camiseta com a logo AIESEC, você sempre ouve alguém gritar: Hey AIESEC!  

A organização do evento também foi ótima. Assim que saímos do aeroporto já dava pra ver um stand com a placa da AIESEC bem grande e pessoas com a plaquinha AIESEC nos esperando. Impossível se perder... Pegamos um ônibus que nos levaria até o Novotel Hyderabad, um hotel que fica dentro dos limites do aeroporto. Daí já iria começar minha experiência em mais uma conferencia internacional da AIESEC. Porém, contarei em próximos posts.

* Reportagem do fantástico sobre Mumbai e Dharavi: Clique aqui  
*Trilha Sonora do filme de Bolywood que vi no vôo de Joanesburgo para Mumbai. História romântica que se passa em Mumbai durante período de Monções: Clique aqui 

BH – Brasil – “Não há lugar como nosso lar”.

Postado por Babi Silva , quarta-feira, 5 de maio de 2010 00:26

*Homenagem ao clássico Mágico de Oz e ao novo filme que está em cartaz e que até hoje não consegui ver por causa das lotações do cinema.

Minhas últimas semanas em Cochabamba e na Fundação foram bem tranqüilas. Além da ansiedade de voltar logo pra casa rever a família e os amigos, sentia um leve desespero em pensar que seriam minhas últimas semanas naquele ambiente trabalho/casa da Fundação.

Depois de 7 meses de intercambio alguns temores iniciais se concretizaram e outros não. Tinha receio de enjoar em trabalhar e viver num mesmo ambiente, além do receio de não me adaptar ou ter algum tipo de problema de relacionamento, já que iria viver quase 24 horas num mesmo ambiente e com as mesmas pessoas. Nada disso aconteceu. Os últimos dias foram bem difíceis e o clima de despedida era intenso para todos. O vinculo com a Doutora Patricia, presidente e fundadora da ONG, com a Aukje,voluntária holandesa que também estava morando na Fundação e os filhos da Doutora, estavam bem fortes.  A Doutora tem um jeito bem parecido com o da minha mãe... Talvez por serem do mesmo signo, não sei. Só sei que me senti como se estivesse em casa e sair foi quase o mesmo sentimento de despedida de casa há 7 meses.  Cheguei a conversar um pouco com a Doutora, sobre minha frustração em não ter conseguido ainda o financiamento para o laboratório móvel para diabéticos e então ela foi me lembrando de todo meu trabalho durante esses 7 meses. Dois acampamentos para jovens diabéticos, 3 novos voluntários para ajudar na execução dos projetos, o contato com a rede boliviana de diabetes juvenil, os americanos da Universidade Columbia que foram fazer o estudo financeiro do laboratório móvel e outras tantas pequenas vitórias que me fizeram valorizar minha experiência de intercambio. As lembranças das preocupações das coisas que não iam bem e como, que por mágica, tudo se resolvia e conseguíamos ajuda de onde nem acreditávamos. Vivi e experimentei a todo espírito o ditado Indiano que diz: “Be positive, think positive”. Trabalhar em ONG tem dessas coisas... Por vezes ficávamos com essa frase na cabeça e no final, tudo dava certo. O financiamento aparecia, as pessoas também e pronto. Mais uma realização.

Despedidas. Essa foi minha rotina da ultima semana. Despedidas quase meio que surpresas da Aukje, que terminou seu intercambio, praticamente no mesmo dia que eu.  E minhas despedidas como intercambista. Aukje e eu decidimos gastar nosso tempo visitando parques, praças, lagos e outros lugares "normais" que não tínhamos conhecido ainda... Despedidas com os membros da AIESEC e despedidas na Fundação...Fiz um almoço brasileiro com sobremesa holandesa da Aukje. Pra quem me conhece sabe o desafio que foi fazer um almoço e posso dizer que meu Strogonoff Brasileiro ficou muito bom.


Porém, todo o tempo ficamos naquele clima antecipado de nostalgia. O mais bonitinho, foi a despedida que os meninos de Santa Cruz de La Sierra fizeram pra mim. Meu vôo para o Brasil iria sair às 4:40 da manhã, do aeroporto de Santa Cruz de La Sierra. Avisei aos membros da AIESEC de lá que precisaria de companhia durante o dia até o inicio da noite, quando eu iria para o aeroporto esperar por lá, as horas que faltavam. Eles não ficaram satisfeitos. Quando cheguei em Santa Cruz eles foram me buscar, me levaram para passeios turísticos, para tirarmos fotos de turista e logo depois fomos para uma “piyamada” ou pijamada , um tipo de festa, com musica tranquila, violão e regada à muito café para que todos esperassem bem despertos a hora de ir ao aeroporto.  Às 2 da manhã, 3 carros saíram em direção ao aeroporto, que não fica muito perto da cidade... Despediram-se com o mesmo carinho despretensioso que me receberam 7 meses atrás.
Despedida no aeroporto de Santa Cruz de La Sierra

E depois de tantas despedidas, chegou finalmente o momento das “Boas Vindas”. Como eu senti falta do Brasil, de BH e de todos por aqui. Nunca tinha passado tanto tempo longe de casa e longe do Brasil. Foram quase 5 meses desde a última vez. Tudo bem, a rotina nesses últimos 5 meses foi bem movimentada, cheia de descobertas e novidades, mas mesmo assim foi muito bom voltar a fazer coisas que fazia antigamente.
Nada de novidades dessa vez. Quero apenas desfrutar antigas sensações, amizades e emoções. Ver o pôr-do-sol ou deitar na cama e ficar observando às estrelas da minha janela. Sentar numa mesa de bar e conversar a toa sobre o passado, presente e futuro com os amigos, tomando a boa e deliciosa cerveja gelada brasileira ao som de um sambinha ou um MPB, comendo um típico tira-gosto mineiro.
De repetente, sinto a Bolivia como um episodio em minha vida. É como se eu nunca tivesse saído daqui. A diferença é que tenho algumas histórias pra contar, de experiências que são quase como um sonho que tive...  Dessa vez não estou com a mesma sensação de ser estrangeira na própria terra como tive em Dezembro, quando vim pra cá passar alguns dias.

Estou vivendo o momento... Ainda não tive tempo de sentir saudade da Bolivia e de enjoar da minha vida aqui em BH... Estou no momento de viver a rotina de uma mineira em férias.  Tenho certeza que em alguns dias terei a mesma sensação que me assombrava nas últimas semanas na Bolivia. Quando tinha ansiedade de ir logo e o leve desespero em saber que estava por partir... Bom, no momento não estou querendo pensar nisso... Quero continuar aproveitando a família, minha casa, os amigos e tudo que Minas e o Brasil pode me oferecer... 

É... não há mesmo lugar como nosso lar...

Bolivia - Voltando à rotina normal

Postado por Babi Silva , terça-feira, 13 de abril de 2010 23:54


Música do momento: Paciência


Depois de quase 2 meses viajando de um país ao outro finalmente cheguei em Cochabamba... Estava com tanta saudade dos jardins, do clima, da linda cordilheira que aqui é muito mais verde que em outras partes dos Andes, da traquilidade das ruas, das pessoas...

A chegada foi um pouco conturbada. Fui assaltada no terminal de La Paz, quando estava à caminho de pegar o ônibus para Cochabamba. O ultimo meio de transporte de tantos que eu peguei nas últimas semanas... O malandro levou minha bolsa com cartão de banco, dinheiro e minha preciosa câmera... Pelo menos fiquei com meu passaporte e notebook... Bom, vão-se os anéis, ficam-se os dedos... A vida continua e afinal, estava voltando pra casa... Estava tão cansada e com tanta vontade de chegar logo, que nem consegui assimilar e sentir a perda.

Seguindo a rotina de conferencias, minha primeira semana em Cochabamba, também foi baseada em congressos. Dessa vez o congresso foi pela Fundação onde estou fazendo meu intercambio. Uma semana num congresso sobre diabetes e como orientar os diabéticos a viverem bem com a doença. Foi bom ver facilitadores, sessões e conteúdo “out of AIESEC”.
Apesar de ser um assunto de saúde, as palestras foram bem interessantes, focadas em estilo de vida saudável e de boa comunicação para grupos que possuem diabetes. Estilo de vida saudável e como se comunicar bem, são assuntos úteis para qualquer campo de trabalho.

Finalmente estava voltando à rotina normal... Sai da minha rotina no inicio de Fevereiro e por causa das tantas viagens, idas e vindas e conferencias nem percebi que o tempo tinha passado. Caramba, já estamos no final de Março!

Logo veio a semana santa. Feriado...aaahhh... Três dias em casa, me permitindo fazer nada... Como é boa a arte de fazer nada... e depois de quase 6 meses, decidi ligar a TV pra ver o que estava acontecendo nessa caixinha eletrônica que prende a atenção de bilhões de pessoas, mas que, por falta de paciência, não fazia parte da minha rotina há anos... Até que foi interessante... Era sexta-feira da paixão e pra variar estava passando filmes sobre a paixão de Cristo. Dessa vez, parei pra ver a versão em Espanhol... O filme também era de origem diferente dos que costumam passar no Brasil... Versão um pouco modificada... Entre um bloco e outro, propagandas... Nossa, como eu pude esquecer que ver propagandas era tão legal. Lembrei porque decidi entrar no curso de Publicidade e Propaganda... Fico ansiosa esperando os comerciais entre um bloco e outro... Sou muito mais os comercias que os próprios programas. Simplesmente passei a tarde inteira vendo televisão. Estava passando uma série de filmes e fiquei vendo um após o outro. Sem me preocupar em escolher o filme, simplesmente aceitando o que a emissora escolhia pra mim...

Aqui na Bolivia eles possuem a tradição dos 12 pratos no almoço da sexta-feira da paixão. Ainda não descobri a origem da tradição. Todos os 12 pratos são feitos com peixe ou são vegetarianos. Ai ai ai... não consegui chegar nem ao 3º prato. No domingo, a tradição de presentear as pessoas com ovos de páscoa também prevalece. Os pais costumam esconder os ovos de chocolate para que as crianças encontrem.

No sábado e domingo de Páscoa me dediquei a fazer nada também... Meditando e assimilando tudo que tinha acontecido comigo nas ultimas semanas... Tantos novos verdadeiros amigos. Pessoas que me ajudarão nessa nova fase que estou entrando. Tantos lugares novos que conheci. Quanta cultura! Quanta perspectiva! Quantos novos sonhos criados...

Depois da semana santa, finalmente voltei à rotina normal de trabalho. Ainda estou me adaptando à velocidade natural de trabalho. A Fundação também não é mais a mesma... Quase todos que deixei quando fui pra Tunísia, já não estão mais aqui... Sensação de perder a melhor parte do filme e voltar quando ele já está no final.

Erica, uma voluntária americana que conheci logo no 1º acampamento que ajudei a realizar, dias depois que cheguei em Cochabamba. Ela que tanto me ajudou na adaptação, planejamento e realização das atividades da Fundação. Que foi companheira de trabalho e de viagens, já tinha voltado para os EUAs quando voltei pra Cochabamba. Muito estranho viver em Cochabamba sem nossas conversas sobre tudo e nada...

A Mariana e o Thiago, os brasileiros que tanto animaram minhas horas de trabalho e diversão também já não estavam.

Dos cinco que estavam na Fundação agora só restaram a Aukje e eu. Aukje, holandesa que chegou 15 dias antes de eu viajar. Que quando eu fui ainda estava no período de adaptação à cultura, ao trabalho e principalmente ao idioma, agora está super adaptada, nos seus 3 meses de Bolivia. Agora é ela quem me atualiza e me ajuda na readaptação.

A lembrança dos “bons tempos” está registrada no porta-retrato, que está no escritório da diretora da Fundação, com a foto que tiramos no nosso almoço de despedida, na véspera da minha viagem pra Tunísia.

Foto do porta-retrato
Aukje, Mariana, Eu, Thiago, Dra.Blanco e Erica

O trabalho da Fundação também está super tranqüilo. Os projetos dos acampamentos para diabéticos estão suspensos por tempo indeterminado por falta de verba. Assim como os outros projetos. Meus dias se resumem em melhorar e reescrever o projeto do laboratório móvel para conseguir financiamentos com instituições internacionais. Finalmente estou conseguindo focar no projeto que me trouxe aqui. A Aukje tem mestrado em investigação, um dos objetivos do projeto e está sendo uma super ajuda nesse processo. Porém estou sentindo um pouco a falta da velocidade, dinamismo e trabalho sob pressão que tinha quando eu estava trabalhando nos outros projetos da Fundação...

Esse tédio que estou sentindo esta me fazendo questionar o que eu realmente gosto e quero fazer... Já percebi que não gosto de ficar sentada em frente ao computador escrevendo projetos... O meu negócio é ação... Que saudade de planejar e organizar tantos eventos...de resolver os problemas de ultima hora... de sair às ruas pra defender um projeto. Apresentar e defender idéias e responder questionamentos de gerentes e diretores de empresas... Não gostei desse negócio de buscar fundos internacionais... A gente passa dias escrevendo o projeto, envia para um email e espera a data da resposta. Daí vem a resposta: Sim ou Não. Sem olhar nos olhos, sem perceber os sinais que o corpo transmite sobre aceitação ou não daquilo que estamos dizendo... Sem possibilidade de mudar de estratégia de comunicação quando percebemos que nossa ideia não esta sendo aceita.  Simplesmente um email polido, agradecendo o interesse e dando uma desculpa qualquer pra justificar a não aceitação do projeto. Com uma notinha final dizendo que a resposta é irrefutável. Pronto. Só nos resta recomeçar a pesquisa por novos possíveis financiadores.

Estou aprendendo a arte de fazer aquilo que é necessário ser feito e não necessariamente aquilo que gosto de fazer. Também sei que essa é uma fase necessária e que sem ela a outra fase “legal” não irá chegar.  Meu objetivo atual é buscar outras atividades desafiantes entre um email e outro que enviamos para Instituições Internacionais. A diretora da Organização, Aukje e eu, estamos planejando os next steps da Fundação.

Boas idéias e possibilidades surgiram essa semana... Acho que em breve a ação volta a ser rotina... Oba =)

Durante as noites e finais de semana, me dedico às atividades da AIESEC. Reuniões com meus futuros diretores nacionais, com a diretoria local de Cochabamba e com os membros. Planejamentos e reuniões virtuais com membros da diretoria de todo o país. Encontros com os membros para eventos sociais nos finais de semana e conferencias locais, também animam meu dia-a-dia aqui na Bolivia. Já estou entrando no clima de trabalhar na AIESEC por mais 1 ano por aqui. Ainda não sei como será a transição e a adaptação entre o trabalho que faço na Fundação e a rotina de trabalho na diretoria nacional da AIESEC Bolivia.

Almoço durante a Conferencia para Novos Membros da AIESEC em Cochabamba

Por enquanto também não quero pensar muito nisso. Só penso em aproveitar bem minhas últimas semanas de trabalho na Fundação, preparar bem o “terreno” para os próximos voluntários que virão e meu retorno de férias para o Brasil.

Finalmente, depois de tanto viajar, conhecer e buscar entender outras realidades irei voltar para a minha realidade.

E haja paciência para superar a ansiedade de voltar pra casa, para os amigos e família. 
Recarregar as energias na minha BELO HORIZONTE e voltar com a força total pra Bolivia...

PERU - Quase uma Bolivia - Cultura Andina

Postado por Babi Silva , terça-feira, 6 de abril de 2010 21:47


Depois de quase 1 semana de descanso em La Paz, parti em direção à Lima, onde iria passar 7 dias em outra conferencia internacional. A conferencia iria ter quase 200 pessoas, mas dessa vez, estava focada em membros da AIESEC que fazem parte da Iberoamerica. Além dos países Latino Americanos, também estariam pessoas dos EUAs, Espanha, Portugal e alguns visitantes de outros países da Europa e Ásia.

Apesar de estar ainda cansada e me readaptando ao fuso horário, estava super animada. Seria uma viagem por terra, com 12 membros da delegação da Bolivia. Seria uma longa viagem e muito tempo para conhecer melhor cada um deles, já que estarei trabalhando com eles, por mais 1 ano. Também estava animada em conhecer um outro país, apesar de já saber que a cultura do Peru é bem parecida com a cultura da Bolivia. Além disso tudo, ainda tinha os reencontros. Na conferencia iria reencontrar amigos feitos durante esses quase 3 anos de AIESEC. Amigos que moram longe e que um dia me despedi sem previsão de reencontros. 
Tirando o susto com a confusão de pessoas em Desaguadero, fronteira da Bolivia com o Peru, a viagem para Lima foi bem mais tranqüila do que imaginava.

A conferencia em si, não teve muita novidade, foi basicamente o mesmo conteúdo passado e criado durante a conferencia da Tunisia, agora retransmitido para os demais membros da Organização. Porém, a conferencia foi muito rica e proveitosa no sentido de relacionamentos. Foi a primeira vez que a AIESEC na Bolivia compareceu à uma conferencia internacional com tanta gente. Éramos 15 representantes da Bolívia. Pude sentir a força de um grupo que tem valores e objetivos comuns e a energia deles em fazer com que AIESEC em seu país seja reconhecida na rede da AIESEC pelo mundo. A AIESEC na Bolivia, em seus 16 anos de história, nunca foi grande conhecida pela rede da AIESEC, por seus baixos números de intercambio e pela baixa participação de seus membros em eventos internacionais. Nisso eles foram vitoriosos e sentia orgulho a cada vez que alguém me contava que tinha vontade de conhecer a Bolivia por ter conversado com algum boliviano e por saber mais sobre a cultura boliviana.

Além disso, os 15 representantes da Bolivia conheceram um mundo de possibilidades. Muitos deles tinham saído da Bolivia pela primeira vez e estar em um ambiente com mais de 25 nacionalidades foi algo único na vida deles.  É muito comum ouvir aqui na Bolivia a desculpa: “É porque somos Bolivianos e Bolivia é pobre”, para justificar, isolamentos, problemas ou condições de vida. Como se Bolivia fosse o único e mais pobre país do mundo e por isso eles seriam obrigados a aceitar essa condição de isolamento do mundo.
Durante a conferencia, os bolivianos ouviram e conheceram outras histórias, outras realidades e outras superações. Perceberam que não são os únicos com problemas no mundo e com isso, perceberam que sim, é possível mudar uma realidade e que a Bolivia tem muita coisa boa. Já percebo a mudança no orgulho, no olhar e na atitude dos que estiveram presentes e minha vontade de “mostrar o mundo” para os demais membros, aumentou. Gerar mais oportunidades para que eles conheçam o mundo. Seja trazendo o mundo até a Bolivia, através dos intercambistas que vêm, seja levando eles para conhecerem outros países.
Delegação de  Bolívia

Depois da conferencia teve o famoso study tour. Porém, dessa vez, decidi pegar o caminho paralelo, mais econômico. O Study Tour é muito prático quando não conhecemos a realidade nem ninguém do país. Nesse caso, já conhecia um pouco a realidade do Peru (bem parecida com a da Bolívia) e percebi que o preço estava muito acima do normal. Além disso, tinha o Juan (Peruano que foi fazer seu intercambio na AIESEC BH e morou quase 1 ano em minha casa) que eu queria muito visitar. Então, aproveitei que o João (amigo da AIESEC BH) tinha ido pra conferencia e programamos juntos um passeio pelo país, incluindo no roteiro, uma passagem por Arequipa para visitar o Juan.

O João tinha 4 dias antes de seu retorno à BH. De Lima até Arequipa seriam 17 horas de ônibus, decidimos ir de avião para economizar tempo e o Juan nos ajudou indicando a Peruvian Airlines, que vendia passagens a 1/3 do valor das outras empresas.  O roteiro seria, Lima - Arequipa – Puno – Arequipa – Lima. Queríamos muito ir à Cusco, mas todos diziam que 1 dia seria muito pouco para conhecer Cusco, mesmo assim decidimos arriscar e então mudamos o roteiro. Lima- Arequipa – Cusco e se desse tempo Puno- Arequipa – Lima. Eu ficaria em Puno, que fica no Lago Titicaca, fronteira com a Bolivia.

Ficamos 2 dias em Arequipa e a cidade me surpreendeu. Quando o Juan me falava da cidade, não conseguia imaginá-la bem. É uma cidade moderna, apesar de tranqüila. É bem parecida com Cochabamba e isso me encantou. É uma cidade plana, cercada por cordilheiras, cheias de jardins e flores. A diferença com Cochabamba fica nos Vulcões que são 3 e rodeiam a cidade e os terremotos que são bem freqüentes. Tem plaquinha verde de “lugar seguro em caso de sismo” em todo estabelecimento ou casa. A grandiosidade dos vulcões me fascinou... Toda a cidade é marcada pelas pedras vulcânicas, explicando o porquê da cidade ser chamada de “ciudad blanca”.  Sua arquitetura colonial também é encantadora. Encantadora. Essa é uma boa palavra para descrever Arequipa. Encantadora também é a família do Juan que nos acolheu tão carinhosamente durante 2 dias. Foi estranho conhecer o lar e a família do estrangeiro que morou em minha casa quase 1 ano, ouvir as histórias e conhecer lugares que foram importantes em sua infância. Agora era ele quem guiava o carro contando historias e mais historias sobre a cidade onde nasceu.
  
Lugar seguro em caso de Cismo(Terremoto)

De Arequipa, seguimos em direção à Cusco com sanduíches  feitos pela mãe do Juan e que seriam nossa principal refeição nas próximas horas. Chegamos a Cusco antes das 6 da manhã e já fomos recepcionados por vários vendedores de passeios turísticos e vagas em hostels da cidade. Esse povo não dorme! O João tentou negociar alguns preços, mas ao final decidimos ir por conta própria. Fizemos uma mochila essencial para passar o dia em Cusco (aprendi bem com o camping no Sahara), compramos nossa passagem para Puno às 23 horas do mesmo dia e deixamos nossas bagagens na empresa de ônibus. Pronto! Já podíamos ir para nossa aventura em Terras Incas.

Mal tínhamos começado a viagem e já estava cansada de negociar. Logo à primeira oferta do taxista, quando percebemos que o preço era maior que o normal, dissemos não e decidimos ir a pé à procura da “praça de armas”, das catedrais e alguns pontos turísticos que tínhamos listado com a ajuda do Juan. Trinta minutos depois de caminhada, às 6:30 da manhã, chegamos à primeira catedral. João aproveitou pra comer um dos sanduíches que a mãe do Juan fez e eu preferi esperar encontrar um café. Visitamos a Catedral, onde é possível entrar de graça até as 10:00 por causa das missas. Depois fomos abordados por mais alguns vendedores de passeios turísticos e decidimos negociar. Já eram quase 7:30 e os passeios começavam às 8:30. Pegamos o roteiro de 1 dia, que iria visitar 3 ruínas Incas do Valle Sagrado. Incluía a visita às ruínas da antiga Cusco, capital do Império Inca. Antes de ir rumo ao Valle Sagrado, decidimos dar mais uma volta na cidade.
Parte com pedras maiores foi construída pelos Incas

Famosa pedra dos 12 ângulos - Acima da base de pedra, construção Colonial

A cidade é marcada pelos restos da cultura Inca e é visível a invasão física e cultural dos espanhóis. As maiores e mais belas construções têm como base as pedras geometricamente ligadas umas às outras sem auxílio de cimento ou outro material dos Incas e a arquitetura colonial dos Espanhóis. Em algumas paredes é até perceptível ver onde foram os Incas que fizeram e onde foram os Espanhóis (Chamados pelos nativos de INCApazes) que fizeram. Eles não conseguiam ligar uma pedra geometricamente à outra e colocavam um tipo de cimento entre elas.  As casas coloniais construídas em cima de bases de construções Incas também são bem numerosas. Um sentimento de vazio, de vontade de ter mais conhecimento e ver construções da época Inca foi enorme. Esse sentimento de vazio me acompanhou durante toda a viagem à Cusco. Visitamos 3 ruínas que foram vilarejos Incas e a cada história que o guia contava, a cada pedaço de construção que víamos, crescia minha vontade de conhecer um pouco mais. De saber o que faziam, como trabalhavam, como se pareciam, como eram as construções originais. Como um povo tão avançado em sua época, que dominou grande parte da América Latina, foi destruído totalmente pelos Espanhóis sobrando apenas um vazio sobre sua cultura e história? E no meio da nossa excursão no Valle Sagrado, nos encontramos com a delegação da Espanha que estava na Conferencia em Lima. Ironico? De repente o João fala: “Você viu os espanhóis?” Sim, consigo vê-los em todos as partes.
Antiga Cusco, Capital do Império Inca
Olha! São os Espanhóis!


À noite voltamos à cidade e fomos a uma pub esperar o horário do ônibus. Tomamos cerveja peruana gelada e fomos para o terminal de ônibus. Antes das 7 da manhã chegamos em Puno, João tinha que chegar em Arequipa até a mesma madrugada para pegar seu vôo pra Lima que sairia às 6 horas da manhã do dia seguinte. Ele resolveu comprar sua passagem para às 16:30. Assim, chegaria em Arequipa antes das 22:00, poderia aproveitar a night de Arequipa com Juan, o que era pouco provável por ser Terça-feira, mas pelo menos poderia descansar bem antes de pegar seu vôo de manhã para Lima.
Como de praxe, assim que descemos do ônibus em Puno, fomos recepcionados por vendedores de passeios turísticos e vagas em hostels. Esse povo começa cedo mesmo!

Como estávamos cansados pelos 2 dias de viagem, decidimos aceitar a oferta do primeiro vendedor. Fomos para um hostel e já compramos um pacote que incluía passeio de barco e visita à comunidade dos Indios Uros, que vivem em ilhas artificiais no meio do Lago Titicaca.

O tour começaria às 9:00, então teríamos quase 2 horas de descanso até lá.  Nesse momento já comecei a sentir os males da altitude. Sai de Lima que está no nível do mar. Fui pra Arequipa, 2500 metros de altitude. Depois Cusco, 3100 metros. Porém, só senti a altitude em Puno com 3800 metros de altitude. Tenho resistência baixa a altura. O João não tinha sentido nada até aquele momento...
Com o mal estar, não consegui comer nada durante toda minha estadia em Puno. Me lembrou minha viagem ao Lago Titicaca no final do ano... O Lago é tão lindo, mas me faz tão mal. Por falar em lindo, o lado boliviano é mais bonito que o lado peruano. A água do Lago Titicaca no lado Boliviano é mais limpa e mais azul, chega a lembrar o mar. Porém o jeito que os peruanos exploram o turismo, melhor, usam o turismo é bem mais saudável que o lado Boliviano. Tanto para os turistas, quanto para os nativos.

Para visitar a Isla Del Sol, no Lago Titicaca, do lado boliviano, tive que pagar pequenas taxas de uso da “terra deles”. Todo o tempo os nativos ficavam pedindo “gorgetas” para contar histórias, gorgeta pra tirar fotos, gorgetas para entrar nos museus, gorgeta para ver praias e lugares. Se não pediam no começo, pediam depois que já tínhamos entrado ou ouvido a história. A cada passo um pedido, mesmo que seja muito pouco(quase nada), essa pedição cansa.  Já do lado peruano pagamos uma taxa e tivemos tudo incluído e se tivesse alguma taxa extra, o guia avisaria com antecedência onde e quanto deveríamos pagar. Daí a gente pagaria se quiser e não seria surpreendido com o pedido no final.

Fomos então visitar os Indios Uros que vivem em Ilhas Artificiais no meio do Lago Titicaca. As ilhas são feitas com uma planta, tipo bambu, muito parecida com a palha de esteira. A planta é resistente a água e é leve. Com ela, eles fazem as ilhas, as embarcações, as casas, os chapéus e ainda por cima comem. São mais de 2mil índios e 200 ilhas na mesma região. O turismo é feito em formato de rodízio. A cada semana, 50 famílias são visitadas e todo dinheiro arrecadado com o turismo é reinvestido na própria comunidade. Com o rodízio, cada família é visitada, no máximo, uma vez ao mês e as visitas acontecem só na parte da manhã. Cada ilha é visitada no máximo por 15 pessoas ao dia. Cada ilha tem um “presidente” que decide como e quando o dinheiro será investido. Essa harmonia e organização é transmitida aos turistas. Quando passamos de barco entre as ilhas, fomos saudados por índios sorridentes.  Quando chegamos à ilha que fomos visitar, fomos recebidos pelas índias que vestiam roupas com cores fortes feitas especialmente para essas visitas. Elas nos ajudaram a descer e nos saudaram sempre com um sorriso no rosto. Os sorrisos não pareceram ser falsos e o guia nos avisou que, se as famílias se sentissem à vontade nos convidariam para conhecer suas casas, se não estivessem num bom dia, não convidariam. Durante a nossa visita eles permitiram no máximo 2 pessoas em cada casa. Eles falam uma mistura de aymara com espanhol. Então deu pra conversar um pouco com a índia que apresentou sua casa pra mim. Ela mora em uma pequena casa de palha com seu marido e suas filhas gêmeas pequenas (que não estavam lá, por causa da visita dos turistas). Me convidou a vestir sua roupa típica, a mesma roupa que as cholitas da Bolivia usam e ofereceu a roupa de seu marido para o João experimentar também. Tiramos algumas fotos. Elas ofereceram  alguns artesanatos para venda e logo depois o guia nos avisou que poderíamos dar um passeio com o barco tradicional, claro que era o custo à parte que ele havia nos informado. Estava passando mal por causa do forte calor e altitude. Desde minha primeira visita ao Lago Titicaca, no Reveillon, morria de vontade de passear num desses barquinhos tradicionais. O Indios Uros vem de uma cultura que antecede a cultura Inca. Estar de novo em contato com o Lago Titicaca foi bem energizante. Tanta energia que chego a ficar esgotada.

Depois do passeio às ilhas artificiais, fomos almoçar. O João já começava a sentir os primeiros sintomas do Sorochi e eu já estava pedindo arrego por causa desses sintomas. João resolveu experimentar Alpaca. Apesar de ser mais leve que carne de boi ou porco, preferi ficar na sopinha de tomate,meu menu principal sempre que estou no Lago Titicaca.

Uma coisa que me chamou bastante atenção em várias cidades do Peru, foi o uso dos Rickshaws, aqueles triciclos muito usados como transporte na Índia. Decidimos tomar um desses na hora do João ir embora. Depois que deixei o João no terminal de ônibus, voltei para o Hostel de rickshaw e passei o resto do dia e noite descansando. Na manhã seguinte segui viagem para Copacabana, lado boliviano do Lago Titicaca. A fronteira entre Peru e Bolivia aí, é bem mais tranqüila e bonita que a fronteira por Desaguadero. Passei algumas horas em Copacabana, que me traz boas lembranças do réveillon e em menos de 3 horas estava em La Paz. Fui para a casa do Andrés, pegar parte da bagagem que deixei la pra ir ao Peru e em pouco menos de 10 horas já estaria de volta em Cochabamba. Depois de quase 2 meses viajando estaria de volta ao meu lar atual...

Viajar pelo Peru que tem uma cultura Andina, bem parecida com a da Bolivia e estar ao lado de pessoas queridas e falando português, aliviou um pouco a saudade que estava sentindo de casa.