Um mergulho cultural - Encontro Internacional de Presidentes da AIESEC

Postado por Babi Silva , sábado, 20 de março de 2010 18:12

Minha primeira responsabilidade como futura responsável pela AIESEC na Bolivia, foi participar do encontro internacional de presidentes da AIESEC. Esse ano o encontro aconteceu na Tunisia.

A conferencia já prometia ser inesquecível apenas pelo seu formato. Dez dias com 150 pessoas, de pelo menos 100 países diferentes, aprendendo mais sobre como é ser responsável por uma AIESEC em um país. Como alinhar todos os comitês locais, planejar estratégias para garantir a qualidade de experiência para todos os quase 50 mil membros da AIESEC pelo mundo. Além disso, ter a oportunidade de conhecer, interagir e conhecer um pouco a cultura de mais de 100 países.

Foram 10 incríveis dias de capacitações com grandes empresas como DHL, Ingersol entre outras, sobre liderança, planejamento estratégico, gerenciamento de equipe etc. Dias de planejamento sobre os novos direcionamentos que a AIESEC terá nos próximos anos e foi onde também aconteceu a eleição para a nova diretoria Internacional. Escolhemos o novo presidente da AIESEC Internacional para a gestão 2010-2011.

Um dos momentos mais incríveis do evento foi quando simulamos o mapa-mundi com os representantes de cada país. Cada um representando o posicionamento geográfico de seu país. De repente, dentro do auditório percebemos quão privilegiados éramos em ter quase o mundo inteiro representado em um pequeno espaço. 

O mundo inteiro estava ali, ao alcance de nossas mãos.  Foi interessante perceber também as distancias geográficas e assim, entender bem diferenças e similaridades culturais. Os representantes dos países Europeus apertados por representarem suas dezenas de pequenos países, o representante da Russia com um espaço gigante. Perceber as distâncias geográficas da Africa e como uma cultura de um país pode ser totalmente diferente um do outro.  Ver a Nova Zelandia e a Austrália solitárias, isoladas do resto do Mundo. Islandia la no alto, no gelo, sozinha, quase esquecida pelo mundo. Ao mesmo tempo perceber que o mundo não precisa ter fronteiras e nem diferenças políticas e culturais. De repente, ver o representante da China ao lado do representante de Taiwan, conversando sobre dia-a-dia e cultura, esquecendo-se das diferenças e conflitos históricos.

Num segundo momento, cada representante ia até um país à sua escolha, conversar com o representante daquele país para entender um pouco mais sobre ele. Fui até o Egito e foi incrível ouvir de um Egipcio o que ele achava de ter nascido em uma terra milenar. Ele falou sobre seu orgulho de ser Egipcio, orgulho de sua cultura, de sua historia e de sua frustração ao ver que um país que tinha uma importância tão grande no mundo há milênios atrás, hoje não ter representatividade mundial. E como, apesar de ter sido um país tão avançado para sua época há milênios atrás, hoje se encontra estancado, vivendo de um passado remoto. Falou também de sua vontade em mudar um pouco essa realidade. Querendo manter essa valorização e orgulho por sua história, mas mostrando que os Egipcios ainda são capazes de oferecer inovações para o resto do mundo.

Outras pessoas vinham até os representantes do Brasil perguntar um pouco mais sobre nossa cultura e historia. Algumas pessoas perguntaram por que o Brasil mesmo sendo tão grande geograficamente e tendo tanta diversidade cultural não tinha conflitos internos.  A representante do Brasil apenas respondeu: É porque somos brasileiros. Quando voltei do Egito e me contaram essa historia, comecei a pensar: Realmente, alguns países bem menores que o Brasil, possuem diferenças culturais enormes, falam as vezes 2 ou até 3 idiomas distintos e possuem fortes conflitos internos políticos, religiosos e culturais.

E nesse mergulho cultural, pude perceber quão privilegiado nós, brasileiros, somos. Claro que temos problemas, como qualquer outro país. Porém, não temos grandes desastres naturais. Durante minha viagem à Tunisia aconteceu o terremoto no Chile e pude acompanhar de perto a aflição dos chilenos presentes, que não conseguiam contatar seus familiares e amigos para saber se estavam bem.  O Brasil não tem terremoto, não tem vulcões, conflitos internos por causa de diferenças políticas, religiosas ou culturais. Somos brasileiros! Sim, somos alegres, receptivos, educados e inteligentes. Temos problemas internos, violência, tráfico de drogas, políticos corruptos, mas somos brasileiros. E com todas as pessoas que conversei, pude perceber a admiração que eles possuem pelos brasileiros. Somos admirados pela capacidade de conversar com todos sem se preocupar com diferenças culturais, a capacidade de ser alegre, mesmo em situações não favoráveis. Somos admirados por viver em um país naturalmente lindo, acolhedor e até certo ponto seguro para visitar. Não temos guerras! Somos admirados pela capacidade que temos em demonstrar nossos sentimentos. Pela capacidade que nós temos de chorar de alegria e de tristeza, de abraçar sinceramente, de dar um forte aperto de mão. Coisas tão naturais para nós brasileiros, mas tão desafiador para certas culturas. Ouvi histórias de pessoas que nunca tinham recebido um abraço na vida. Pessoas que haviam chorado apenas quando crianças, culturas que educam que demonstrar sentimentos é feio.

Também percebi como no fundo no fundo, somos da mesma espécie. Percebi como, independente do país, origem, religião ou cultura, todos temos medo de errar, temos inseguranças quanto ao desconhecido, ansiedade sobre o futuro, necessidade de atenção, amor e carinho. Podemos ter idiomas, historias, religiões e culturas completamente diferentes, mas todos somos seres humanos.  Perceber quão igual somos, me deu um sentimento de pertencimento do mundo.  

Tenho certeza que os 150 participantes desse evento possuem esse mesmo sentimento de unidade  e pertencimento e tenho certeza que com esse sentimento, é impossível haver intolerância, que é a causa de tantas guerras e conflitos. A AIESEC foi criada em 1948 por 7 estudantes de vários países da Europa que, inconformados com a 2ª Guerra, decidiram criar uma associação que promoveria o entendimento cultural entre países através de intercâmbios, conferencias e comunicação entre seus membros, para evitar futuras guerras. O entendimento e conhecimento sobre a cultura do outro, aumenta o respeito e diminui a intolerância. Acabando com a intolerância, promovemos a paz entre as nações. 

A AIESEC foi criada há 62 anos com a missão de promover a paz e desenvolver o potencial humano.  Depois da conferencia pude sentir o real impacto dessa missão, a responsabilidade de ser multiplicadora e perceber que sim, é possível. Sinto orgulho de fazer parte disso tudo.

A conferencia foi apenas o inicio da minha viagem para o mundo. Logo depois partiria em um tour pela Tunisia, passagem relâmpago em Milão e outra incrível conferencia internacional no Peru. Mais detalhes nos próximos posts.