Bolivia - Voltando à rotina normal

Postado por Babi Silva , terça-feira, 13 de abril de 2010 23:54


Música do momento: Paciência


Depois de quase 2 meses viajando de um país ao outro finalmente cheguei em Cochabamba... Estava com tanta saudade dos jardins, do clima, da linda cordilheira que aqui é muito mais verde que em outras partes dos Andes, da traquilidade das ruas, das pessoas...

A chegada foi um pouco conturbada. Fui assaltada no terminal de La Paz, quando estava à caminho de pegar o ônibus para Cochabamba. O ultimo meio de transporte de tantos que eu peguei nas últimas semanas... O malandro levou minha bolsa com cartão de banco, dinheiro e minha preciosa câmera... Pelo menos fiquei com meu passaporte e notebook... Bom, vão-se os anéis, ficam-se os dedos... A vida continua e afinal, estava voltando pra casa... Estava tão cansada e com tanta vontade de chegar logo, que nem consegui assimilar e sentir a perda.

Seguindo a rotina de conferencias, minha primeira semana em Cochabamba, também foi baseada em congressos. Dessa vez o congresso foi pela Fundação onde estou fazendo meu intercambio. Uma semana num congresso sobre diabetes e como orientar os diabéticos a viverem bem com a doença. Foi bom ver facilitadores, sessões e conteúdo “out of AIESEC”.
Apesar de ser um assunto de saúde, as palestras foram bem interessantes, focadas em estilo de vida saudável e de boa comunicação para grupos que possuem diabetes. Estilo de vida saudável e como se comunicar bem, são assuntos úteis para qualquer campo de trabalho.

Finalmente estava voltando à rotina normal... Sai da minha rotina no inicio de Fevereiro e por causa das tantas viagens, idas e vindas e conferencias nem percebi que o tempo tinha passado. Caramba, já estamos no final de Março!

Logo veio a semana santa. Feriado...aaahhh... Três dias em casa, me permitindo fazer nada... Como é boa a arte de fazer nada... e depois de quase 6 meses, decidi ligar a TV pra ver o que estava acontecendo nessa caixinha eletrônica que prende a atenção de bilhões de pessoas, mas que, por falta de paciência, não fazia parte da minha rotina há anos... Até que foi interessante... Era sexta-feira da paixão e pra variar estava passando filmes sobre a paixão de Cristo. Dessa vez, parei pra ver a versão em Espanhol... O filme também era de origem diferente dos que costumam passar no Brasil... Versão um pouco modificada... Entre um bloco e outro, propagandas... Nossa, como eu pude esquecer que ver propagandas era tão legal. Lembrei porque decidi entrar no curso de Publicidade e Propaganda... Fico ansiosa esperando os comerciais entre um bloco e outro... Sou muito mais os comercias que os próprios programas. Simplesmente passei a tarde inteira vendo televisão. Estava passando uma série de filmes e fiquei vendo um após o outro. Sem me preocupar em escolher o filme, simplesmente aceitando o que a emissora escolhia pra mim...

Aqui na Bolivia eles possuem a tradição dos 12 pratos no almoço da sexta-feira da paixão. Ainda não descobri a origem da tradição. Todos os 12 pratos são feitos com peixe ou são vegetarianos. Ai ai ai... não consegui chegar nem ao 3º prato. No domingo, a tradição de presentear as pessoas com ovos de páscoa também prevalece. Os pais costumam esconder os ovos de chocolate para que as crianças encontrem.

No sábado e domingo de Páscoa me dediquei a fazer nada também... Meditando e assimilando tudo que tinha acontecido comigo nas ultimas semanas... Tantos novos verdadeiros amigos. Pessoas que me ajudarão nessa nova fase que estou entrando. Tantos lugares novos que conheci. Quanta cultura! Quanta perspectiva! Quantos novos sonhos criados...

Depois da semana santa, finalmente voltei à rotina normal de trabalho. Ainda estou me adaptando à velocidade natural de trabalho. A Fundação também não é mais a mesma... Quase todos que deixei quando fui pra Tunísia, já não estão mais aqui... Sensação de perder a melhor parte do filme e voltar quando ele já está no final.

Erica, uma voluntária americana que conheci logo no 1º acampamento que ajudei a realizar, dias depois que cheguei em Cochabamba. Ela que tanto me ajudou na adaptação, planejamento e realização das atividades da Fundação. Que foi companheira de trabalho e de viagens, já tinha voltado para os EUAs quando voltei pra Cochabamba. Muito estranho viver em Cochabamba sem nossas conversas sobre tudo e nada...

A Mariana e o Thiago, os brasileiros que tanto animaram minhas horas de trabalho e diversão também já não estavam.

Dos cinco que estavam na Fundação agora só restaram a Aukje e eu. Aukje, holandesa que chegou 15 dias antes de eu viajar. Que quando eu fui ainda estava no período de adaptação à cultura, ao trabalho e principalmente ao idioma, agora está super adaptada, nos seus 3 meses de Bolivia. Agora é ela quem me atualiza e me ajuda na readaptação.

A lembrança dos “bons tempos” está registrada no porta-retrato, que está no escritório da diretora da Fundação, com a foto que tiramos no nosso almoço de despedida, na véspera da minha viagem pra Tunísia.

Foto do porta-retrato
Aukje, Mariana, Eu, Thiago, Dra.Blanco e Erica

O trabalho da Fundação também está super tranqüilo. Os projetos dos acampamentos para diabéticos estão suspensos por tempo indeterminado por falta de verba. Assim como os outros projetos. Meus dias se resumem em melhorar e reescrever o projeto do laboratório móvel para conseguir financiamentos com instituições internacionais. Finalmente estou conseguindo focar no projeto que me trouxe aqui. A Aukje tem mestrado em investigação, um dos objetivos do projeto e está sendo uma super ajuda nesse processo. Porém estou sentindo um pouco a falta da velocidade, dinamismo e trabalho sob pressão que tinha quando eu estava trabalhando nos outros projetos da Fundação...

Esse tédio que estou sentindo esta me fazendo questionar o que eu realmente gosto e quero fazer... Já percebi que não gosto de ficar sentada em frente ao computador escrevendo projetos... O meu negócio é ação... Que saudade de planejar e organizar tantos eventos...de resolver os problemas de ultima hora... de sair às ruas pra defender um projeto. Apresentar e defender idéias e responder questionamentos de gerentes e diretores de empresas... Não gostei desse negócio de buscar fundos internacionais... A gente passa dias escrevendo o projeto, envia para um email e espera a data da resposta. Daí vem a resposta: Sim ou Não. Sem olhar nos olhos, sem perceber os sinais que o corpo transmite sobre aceitação ou não daquilo que estamos dizendo... Sem possibilidade de mudar de estratégia de comunicação quando percebemos que nossa ideia não esta sendo aceita.  Simplesmente um email polido, agradecendo o interesse e dando uma desculpa qualquer pra justificar a não aceitação do projeto. Com uma notinha final dizendo que a resposta é irrefutável. Pronto. Só nos resta recomeçar a pesquisa por novos possíveis financiadores.

Estou aprendendo a arte de fazer aquilo que é necessário ser feito e não necessariamente aquilo que gosto de fazer. Também sei que essa é uma fase necessária e que sem ela a outra fase “legal” não irá chegar.  Meu objetivo atual é buscar outras atividades desafiantes entre um email e outro que enviamos para Instituições Internacionais. A diretora da Organização, Aukje e eu, estamos planejando os next steps da Fundação.

Boas idéias e possibilidades surgiram essa semana... Acho que em breve a ação volta a ser rotina... Oba =)

Durante as noites e finais de semana, me dedico às atividades da AIESEC. Reuniões com meus futuros diretores nacionais, com a diretoria local de Cochabamba e com os membros. Planejamentos e reuniões virtuais com membros da diretoria de todo o país. Encontros com os membros para eventos sociais nos finais de semana e conferencias locais, também animam meu dia-a-dia aqui na Bolivia. Já estou entrando no clima de trabalhar na AIESEC por mais 1 ano por aqui. Ainda não sei como será a transição e a adaptação entre o trabalho que faço na Fundação e a rotina de trabalho na diretoria nacional da AIESEC Bolivia.

Almoço durante a Conferencia para Novos Membros da AIESEC em Cochabamba

Por enquanto também não quero pensar muito nisso. Só penso em aproveitar bem minhas últimas semanas de trabalho na Fundação, preparar bem o “terreno” para os próximos voluntários que virão e meu retorno de férias para o Brasil.

Finalmente, depois de tanto viajar, conhecer e buscar entender outras realidades irei voltar para a minha realidade.

E haja paciência para superar a ansiedade de voltar pra casa, para os amigos e família. 
Recarregar as energias na minha BELO HORIZONTE e voltar com a força total pra Bolivia...

PERU - Quase uma Bolivia - Cultura Andina

Postado por Babi Silva , terça-feira, 6 de abril de 2010 21:47


Depois de quase 1 semana de descanso em La Paz, parti em direção à Lima, onde iria passar 7 dias em outra conferencia internacional. A conferencia iria ter quase 200 pessoas, mas dessa vez, estava focada em membros da AIESEC que fazem parte da Iberoamerica. Além dos países Latino Americanos, também estariam pessoas dos EUAs, Espanha, Portugal e alguns visitantes de outros países da Europa e Ásia.

Apesar de estar ainda cansada e me readaptando ao fuso horário, estava super animada. Seria uma viagem por terra, com 12 membros da delegação da Bolivia. Seria uma longa viagem e muito tempo para conhecer melhor cada um deles, já que estarei trabalhando com eles, por mais 1 ano. Também estava animada em conhecer um outro país, apesar de já saber que a cultura do Peru é bem parecida com a cultura da Bolivia. Além disso tudo, ainda tinha os reencontros. Na conferencia iria reencontrar amigos feitos durante esses quase 3 anos de AIESEC. Amigos que moram longe e que um dia me despedi sem previsão de reencontros. 
Tirando o susto com a confusão de pessoas em Desaguadero, fronteira da Bolivia com o Peru, a viagem para Lima foi bem mais tranqüila do que imaginava.

A conferencia em si, não teve muita novidade, foi basicamente o mesmo conteúdo passado e criado durante a conferencia da Tunisia, agora retransmitido para os demais membros da Organização. Porém, a conferencia foi muito rica e proveitosa no sentido de relacionamentos. Foi a primeira vez que a AIESEC na Bolivia compareceu à uma conferencia internacional com tanta gente. Éramos 15 representantes da Bolívia. Pude sentir a força de um grupo que tem valores e objetivos comuns e a energia deles em fazer com que AIESEC em seu país seja reconhecida na rede da AIESEC pelo mundo. A AIESEC na Bolivia, em seus 16 anos de história, nunca foi grande conhecida pela rede da AIESEC, por seus baixos números de intercambio e pela baixa participação de seus membros em eventos internacionais. Nisso eles foram vitoriosos e sentia orgulho a cada vez que alguém me contava que tinha vontade de conhecer a Bolivia por ter conversado com algum boliviano e por saber mais sobre a cultura boliviana.

Além disso, os 15 representantes da Bolivia conheceram um mundo de possibilidades. Muitos deles tinham saído da Bolivia pela primeira vez e estar em um ambiente com mais de 25 nacionalidades foi algo único na vida deles.  É muito comum ouvir aqui na Bolivia a desculpa: “É porque somos Bolivianos e Bolivia é pobre”, para justificar, isolamentos, problemas ou condições de vida. Como se Bolivia fosse o único e mais pobre país do mundo e por isso eles seriam obrigados a aceitar essa condição de isolamento do mundo.
Durante a conferencia, os bolivianos ouviram e conheceram outras histórias, outras realidades e outras superações. Perceberam que não são os únicos com problemas no mundo e com isso, perceberam que sim, é possível mudar uma realidade e que a Bolivia tem muita coisa boa. Já percebo a mudança no orgulho, no olhar e na atitude dos que estiveram presentes e minha vontade de “mostrar o mundo” para os demais membros, aumentou. Gerar mais oportunidades para que eles conheçam o mundo. Seja trazendo o mundo até a Bolivia, através dos intercambistas que vêm, seja levando eles para conhecerem outros países.
Delegação de  Bolívia

Depois da conferencia teve o famoso study tour. Porém, dessa vez, decidi pegar o caminho paralelo, mais econômico. O Study Tour é muito prático quando não conhecemos a realidade nem ninguém do país. Nesse caso, já conhecia um pouco a realidade do Peru (bem parecida com a da Bolívia) e percebi que o preço estava muito acima do normal. Além disso, tinha o Juan (Peruano que foi fazer seu intercambio na AIESEC BH e morou quase 1 ano em minha casa) que eu queria muito visitar. Então, aproveitei que o João (amigo da AIESEC BH) tinha ido pra conferencia e programamos juntos um passeio pelo país, incluindo no roteiro, uma passagem por Arequipa para visitar o Juan.

O João tinha 4 dias antes de seu retorno à BH. De Lima até Arequipa seriam 17 horas de ônibus, decidimos ir de avião para economizar tempo e o Juan nos ajudou indicando a Peruvian Airlines, que vendia passagens a 1/3 do valor das outras empresas.  O roteiro seria, Lima - Arequipa – Puno – Arequipa – Lima. Queríamos muito ir à Cusco, mas todos diziam que 1 dia seria muito pouco para conhecer Cusco, mesmo assim decidimos arriscar e então mudamos o roteiro. Lima- Arequipa – Cusco e se desse tempo Puno- Arequipa – Lima. Eu ficaria em Puno, que fica no Lago Titicaca, fronteira com a Bolivia.

Ficamos 2 dias em Arequipa e a cidade me surpreendeu. Quando o Juan me falava da cidade, não conseguia imaginá-la bem. É uma cidade moderna, apesar de tranqüila. É bem parecida com Cochabamba e isso me encantou. É uma cidade plana, cercada por cordilheiras, cheias de jardins e flores. A diferença com Cochabamba fica nos Vulcões que são 3 e rodeiam a cidade e os terremotos que são bem freqüentes. Tem plaquinha verde de “lugar seguro em caso de sismo” em todo estabelecimento ou casa. A grandiosidade dos vulcões me fascinou... Toda a cidade é marcada pelas pedras vulcânicas, explicando o porquê da cidade ser chamada de “ciudad blanca”.  Sua arquitetura colonial também é encantadora. Encantadora. Essa é uma boa palavra para descrever Arequipa. Encantadora também é a família do Juan que nos acolheu tão carinhosamente durante 2 dias. Foi estranho conhecer o lar e a família do estrangeiro que morou em minha casa quase 1 ano, ouvir as histórias e conhecer lugares que foram importantes em sua infância. Agora era ele quem guiava o carro contando historias e mais historias sobre a cidade onde nasceu.
  
Lugar seguro em caso de Cismo(Terremoto)

De Arequipa, seguimos em direção à Cusco com sanduíches  feitos pela mãe do Juan e que seriam nossa principal refeição nas próximas horas. Chegamos a Cusco antes das 6 da manhã e já fomos recepcionados por vários vendedores de passeios turísticos e vagas em hostels da cidade. Esse povo não dorme! O João tentou negociar alguns preços, mas ao final decidimos ir por conta própria. Fizemos uma mochila essencial para passar o dia em Cusco (aprendi bem com o camping no Sahara), compramos nossa passagem para Puno às 23 horas do mesmo dia e deixamos nossas bagagens na empresa de ônibus. Pronto! Já podíamos ir para nossa aventura em Terras Incas.

Mal tínhamos começado a viagem e já estava cansada de negociar. Logo à primeira oferta do taxista, quando percebemos que o preço era maior que o normal, dissemos não e decidimos ir a pé à procura da “praça de armas”, das catedrais e alguns pontos turísticos que tínhamos listado com a ajuda do Juan. Trinta minutos depois de caminhada, às 6:30 da manhã, chegamos à primeira catedral. João aproveitou pra comer um dos sanduíches que a mãe do Juan fez e eu preferi esperar encontrar um café. Visitamos a Catedral, onde é possível entrar de graça até as 10:00 por causa das missas. Depois fomos abordados por mais alguns vendedores de passeios turísticos e decidimos negociar. Já eram quase 7:30 e os passeios começavam às 8:30. Pegamos o roteiro de 1 dia, que iria visitar 3 ruínas Incas do Valle Sagrado. Incluía a visita às ruínas da antiga Cusco, capital do Império Inca. Antes de ir rumo ao Valle Sagrado, decidimos dar mais uma volta na cidade.
Parte com pedras maiores foi construída pelos Incas

Famosa pedra dos 12 ângulos - Acima da base de pedra, construção Colonial

A cidade é marcada pelos restos da cultura Inca e é visível a invasão física e cultural dos espanhóis. As maiores e mais belas construções têm como base as pedras geometricamente ligadas umas às outras sem auxílio de cimento ou outro material dos Incas e a arquitetura colonial dos Espanhóis. Em algumas paredes é até perceptível ver onde foram os Incas que fizeram e onde foram os Espanhóis (Chamados pelos nativos de INCApazes) que fizeram. Eles não conseguiam ligar uma pedra geometricamente à outra e colocavam um tipo de cimento entre elas.  As casas coloniais construídas em cima de bases de construções Incas também são bem numerosas. Um sentimento de vazio, de vontade de ter mais conhecimento e ver construções da época Inca foi enorme. Esse sentimento de vazio me acompanhou durante toda a viagem à Cusco. Visitamos 3 ruínas que foram vilarejos Incas e a cada história que o guia contava, a cada pedaço de construção que víamos, crescia minha vontade de conhecer um pouco mais. De saber o que faziam, como trabalhavam, como se pareciam, como eram as construções originais. Como um povo tão avançado em sua época, que dominou grande parte da América Latina, foi destruído totalmente pelos Espanhóis sobrando apenas um vazio sobre sua cultura e história? E no meio da nossa excursão no Valle Sagrado, nos encontramos com a delegação da Espanha que estava na Conferencia em Lima. Ironico? De repente o João fala: “Você viu os espanhóis?” Sim, consigo vê-los em todos as partes.
Antiga Cusco, Capital do Império Inca
Olha! São os Espanhóis!


À noite voltamos à cidade e fomos a uma pub esperar o horário do ônibus. Tomamos cerveja peruana gelada e fomos para o terminal de ônibus. Antes das 7 da manhã chegamos em Puno, João tinha que chegar em Arequipa até a mesma madrugada para pegar seu vôo pra Lima que sairia às 6 horas da manhã do dia seguinte. Ele resolveu comprar sua passagem para às 16:30. Assim, chegaria em Arequipa antes das 22:00, poderia aproveitar a night de Arequipa com Juan, o que era pouco provável por ser Terça-feira, mas pelo menos poderia descansar bem antes de pegar seu vôo de manhã para Lima.
Como de praxe, assim que descemos do ônibus em Puno, fomos recepcionados por vendedores de passeios turísticos e vagas em hostels. Esse povo começa cedo mesmo!

Como estávamos cansados pelos 2 dias de viagem, decidimos aceitar a oferta do primeiro vendedor. Fomos para um hostel e já compramos um pacote que incluía passeio de barco e visita à comunidade dos Indios Uros, que vivem em ilhas artificiais no meio do Lago Titicaca.

O tour começaria às 9:00, então teríamos quase 2 horas de descanso até lá.  Nesse momento já comecei a sentir os males da altitude. Sai de Lima que está no nível do mar. Fui pra Arequipa, 2500 metros de altitude. Depois Cusco, 3100 metros. Porém, só senti a altitude em Puno com 3800 metros de altitude. Tenho resistência baixa a altura. O João não tinha sentido nada até aquele momento...
Com o mal estar, não consegui comer nada durante toda minha estadia em Puno. Me lembrou minha viagem ao Lago Titicaca no final do ano... O Lago é tão lindo, mas me faz tão mal. Por falar em lindo, o lado boliviano é mais bonito que o lado peruano. A água do Lago Titicaca no lado Boliviano é mais limpa e mais azul, chega a lembrar o mar. Porém o jeito que os peruanos exploram o turismo, melhor, usam o turismo é bem mais saudável que o lado Boliviano. Tanto para os turistas, quanto para os nativos.

Para visitar a Isla Del Sol, no Lago Titicaca, do lado boliviano, tive que pagar pequenas taxas de uso da “terra deles”. Todo o tempo os nativos ficavam pedindo “gorgetas” para contar histórias, gorgeta pra tirar fotos, gorgetas para entrar nos museus, gorgeta para ver praias e lugares. Se não pediam no começo, pediam depois que já tínhamos entrado ou ouvido a história. A cada passo um pedido, mesmo que seja muito pouco(quase nada), essa pedição cansa.  Já do lado peruano pagamos uma taxa e tivemos tudo incluído e se tivesse alguma taxa extra, o guia avisaria com antecedência onde e quanto deveríamos pagar. Daí a gente pagaria se quiser e não seria surpreendido com o pedido no final.

Fomos então visitar os Indios Uros que vivem em Ilhas Artificiais no meio do Lago Titicaca. As ilhas são feitas com uma planta, tipo bambu, muito parecida com a palha de esteira. A planta é resistente a água e é leve. Com ela, eles fazem as ilhas, as embarcações, as casas, os chapéus e ainda por cima comem. São mais de 2mil índios e 200 ilhas na mesma região. O turismo é feito em formato de rodízio. A cada semana, 50 famílias são visitadas e todo dinheiro arrecadado com o turismo é reinvestido na própria comunidade. Com o rodízio, cada família é visitada, no máximo, uma vez ao mês e as visitas acontecem só na parte da manhã. Cada ilha é visitada no máximo por 15 pessoas ao dia. Cada ilha tem um “presidente” que decide como e quando o dinheiro será investido. Essa harmonia e organização é transmitida aos turistas. Quando passamos de barco entre as ilhas, fomos saudados por índios sorridentes.  Quando chegamos à ilha que fomos visitar, fomos recebidos pelas índias que vestiam roupas com cores fortes feitas especialmente para essas visitas. Elas nos ajudaram a descer e nos saudaram sempre com um sorriso no rosto. Os sorrisos não pareceram ser falsos e o guia nos avisou que, se as famílias se sentissem à vontade nos convidariam para conhecer suas casas, se não estivessem num bom dia, não convidariam. Durante a nossa visita eles permitiram no máximo 2 pessoas em cada casa. Eles falam uma mistura de aymara com espanhol. Então deu pra conversar um pouco com a índia que apresentou sua casa pra mim. Ela mora em uma pequena casa de palha com seu marido e suas filhas gêmeas pequenas (que não estavam lá, por causa da visita dos turistas). Me convidou a vestir sua roupa típica, a mesma roupa que as cholitas da Bolivia usam e ofereceu a roupa de seu marido para o João experimentar também. Tiramos algumas fotos. Elas ofereceram  alguns artesanatos para venda e logo depois o guia nos avisou que poderíamos dar um passeio com o barco tradicional, claro que era o custo à parte que ele havia nos informado. Estava passando mal por causa do forte calor e altitude. Desde minha primeira visita ao Lago Titicaca, no Reveillon, morria de vontade de passear num desses barquinhos tradicionais. O Indios Uros vem de uma cultura que antecede a cultura Inca. Estar de novo em contato com o Lago Titicaca foi bem energizante. Tanta energia que chego a ficar esgotada.

Depois do passeio às ilhas artificiais, fomos almoçar. O João já começava a sentir os primeiros sintomas do Sorochi e eu já estava pedindo arrego por causa desses sintomas. João resolveu experimentar Alpaca. Apesar de ser mais leve que carne de boi ou porco, preferi ficar na sopinha de tomate,meu menu principal sempre que estou no Lago Titicaca.

Uma coisa que me chamou bastante atenção em várias cidades do Peru, foi o uso dos Rickshaws, aqueles triciclos muito usados como transporte na Índia. Decidimos tomar um desses na hora do João ir embora. Depois que deixei o João no terminal de ônibus, voltei para o Hostel de rickshaw e passei o resto do dia e noite descansando. Na manhã seguinte segui viagem para Copacabana, lado boliviano do Lago Titicaca. A fronteira entre Peru e Bolivia aí, é bem mais tranqüila e bonita que a fronteira por Desaguadero. Passei algumas horas em Copacabana, que me traz boas lembranças do réveillon e em menos de 3 horas estava em La Paz. Fui para a casa do Andrés, pegar parte da bagagem que deixei la pra ir ao Peru e em pouco menos de 10 horas já estaria de volta em Cochabamba. Depois de quase 2 meses viajando estaria de volta ao meu lar atual...

Viajar pelo Peru que tem uma cultura Andina, bem parecida com a da Bolivia e estar ao lado de pessoas queridas e falando português, aliviou um pouco a saudade que estava sentindo de casa. 

Italia - Brasil - Paraguai - Tudo e nada

Postado por Babi Silva , domingo, 4 de abril de 2010 18:24

Entre Tunes e La Paz, uma longa viagem me esperava. O vôo iria fazer conexões em Milão, Roma, SP, Assunção, para só então chegar em La Paz. Mesmo assim, não chegaria a minha cidade de origem, Cochabamba... Se quisesse chegar em Cochabamba, necessitaria mais 10 horas de ônibus ou 1hora em avião.

Sai de Tunes na manhã do dia 6 de março,o vôo chegou em Milao no final da manhã e meu vôo pra Roma sairia no inicio da noite. Perguntei para algumas pessoas do aeroporto se valeria à pena sair pra conhecer a cidade. Disseram que sim e lá fui eu. Peguei um ônibus do aeroporto de Malpense para a Estação Central (7 Euros). Fiquei encantada com a grandiosidade e arquitetura da Estação Central. Dali, tentei entrar em um museu, mas estava fechado. Eles ficam abertos até as 13:00, depois fecham para a famosa “siesta” e só reabrem às 16:30. Como não teria tempo suficiente para ver o museu e voltar para o aeroporto, decidi só dar uma caminhada pela cidade, comer uma massa italiana e tomar um café italiano. Não achei nada demais na cidade... Talvez fosse pelo frio que estava fazendo... Achei tudo muito cinza. Queria mesmo era ter passado uma tarde em Roma... Fiquei com um gostinho de quero mais... Não sei quando, mas voltarei...

Depois de passar 45 minutos corridos (literalmente) em Roma, entrei no vôo para SP. Seria mais 10 horas de viagem até SP.

Na ida pra Tunisia, passei longas 8 horas no aeroporto de Guarulhos em pleno sábado de carnaval. A ansiedade em chegar à Tunisia e todas as novas possibilidades que estavam por vir, não me deixaram pensar sobre estar no Brasil e não poder ficar no Brasil, mesmo sendo sábado de carnaval...

Porém na volta foi bem pior, não sei se pelo tempo que foi maior, pois dessa vez passei o dia todo (desde as 6 da manhã até às 22:00) no aeroporto ou se foi por ser a volta, mas foi a primeira vez que senti saudade de verdade, daquelas de apertar o coração até sentir uma pontinha de dor. Vontade de tomar o primeiro avião pra BH. Tentei trocar meu vôo em vão, para ficar alguns dias no Brasil, antes de voltar para a Bolivia, pois teria 1 semana livre até minha próxima viagem para o Peru. Lembrei que tinha que trocar minha passagem de retorno do intercambio que estava marcado para o dia 18 de Março. Era 7 de março e, de acordo com meus planos anteriores, em 11 dias estaria voltando definitivamente para o Brasil. Quanta coisa aconteceu em 6 meses. Quantos países conheci... Quantos planos mudaram... quantas novas perspectivas.

Há 6 meses estava planejando passar os próximos 6 meses em Cochabamba e ponto. Nunca imaginaria estar trocando minha passagem de retorno da Bolívia para o Brasil no Brasil! Troquei para o dia 30 de Abril com a esperança de passar o mês de maio de férias em BH. Esperança, porque aprendi a não fazer tantos planos, a não ter tanta certeza... De repente, meu destino pode mudar... Quem sabe?

Ainda no aeroporto, com tanto tempo, pensei zilhões de vezes se deveria sair e passar algumas horas entre amigos de SP, mas ao final, decidi ficar no aeroporto mesmo, lendo livros e revendo fotos da minha viagem à Tunisia.

Entre SP e La Paz, faria uma conexão em Assunção e vôo que iria de Assunção para La Paz foi cancelado. Já era inicio de madrugada e a TAM nos levou para um hotel 5 estrelas. Passaríamos todo o dia seguinte em Assunção, esperando o próximo vôo que estava marcado para a meia noite (seria tão bom se isso tivesse acontecido em Roma).

Não sei se era porque era domingo, mas Assunção não tinha nada pra fazer. Não tinha NINGUEM nas ruas e não tinha nenhuma atração turística. Andrés, atual presidente da AIESEC em Bolivia e eu, fomos até o porto do Rio Paraguai, que é lindo por sinal, mas estava fechado. Vimos o palácio do Governo, que estava deserto. Visitamos algumas praças desertas, que diziam serem praças importantes e caminhamos pelas ruas e avenidas literalmente desertas. Com exceção de um povoado que vivia em barracões, que parecia ser uma pequena favelinha, às margens do Rio Paraguai, atrás do palácio do governo, me senti em uma cidade fantasma.

Encontrei um buteco aberto numa esquina, me lembrou o Brasil. Perguntei se tinha cerveja gelada e a senhora respondeu: “Si, por supuesto. Tenemos Brahma, quieres?” “O que?! Brahma gelada? Claro que quero!” Foi o único ponto alto da viagem à Asunción. La Brahma Paraguaya bien fria. Depois disso, Andres e Eu, decidimos ficar no hotel que tinha mais atrações turísticas que a própria cidade...
Rio Paraguai    

E... finalmente, depois de 4 dias de viagem cheguei à La Paz. Menos de 1 semana depois de retornar da Tunisia, iria para o Peru atender outra conferencia da AIESEC. Por esse motivo, preferi ficar em La Paz mesmo, descansando, pois iria para o Peru de ônibus e precisava reservar energias... Mais uma semana dormindo em quartos e camas desconhecidos... Vivendo uma vida de passagem. Ficaria mais um tempo sem voltar pra Cochabamba... Já estava “extrañando” meu quarto, minha cama, minha rotina na Fundação...



Incrível Tunísia - Parte II

Postado por Babi Silva , sexta-feira, 2 de abril de 2010 14:20

Tunisia é um pais que fica ao norte da Africa, faz limite com Algéria e Libia e tem sua costa norte banhada pelo Mar Mediterraneo. Quase 40% de todo seu território é tomado pelo deserto do Sahara. Tunisia foi um país muito importante há milhares de anos atrás. Sua província de Cartaghe é a região mais ao norte que a África possui e é o ponto mais próximo entre a África e a Itália, durante milênios foi um dos principais pontos de comercio do Mar Mediterraneo e foi uma das províncias mais importantes da África para o Império Romano. Tunisia também foi ocupada pelo Fenicios, Bárbaros, Bizantinos, Árabes e Otomanos. Foi colônia da França até 1957, quando finalmente tornou-se independente. Tunisianos falam árabe e Frances. A religião predominante é o islamismo (99% da população) e também é a religião do Estado de acordo com a Constituição.

Bom, isso é o que eu já sabia antes de viajar por causa de pesquisas no Google.


Durante 5 dias, convivi com Tunisianos e vivi um pouco a cultura fora do mundo criado para “gringos”, que vivi durante o Study Tour.

A primeira coisa que chama a atenção de todos que chegam à Tunisia é a quantidade de bandeiras do país espalhadas pelas cidades. São milhares delas por todos os lados. O mais engraçado é que não estão a venda. Procurei uma pra comprar e não consegui. Ainda não descobri o porquê.
Todo estabelecimento e casa tem a foto do presidente General Zine El Abidine Ben Ali. Inicialmente pensei que fosse uma obrigação, pois vi a foto do presidente até num restaurante italiano, onde a dona era italiana. Perguntei para alguns membros da AIESEC na Tunisia, porque tinha tanta foto do presidente. Eles me disseram que era por respeito. O tal General está no poder há quase 30 anos e ele trouxe grande desenvolvimento para o país. Além disso, o presidente é o principal responsável pelo clima de paz da Tunisia. Seus vizinhos Libia e Algéria passam por conflitos internos por causa da religião e o presidente da Tunisia, diferentemente de seus vizinhos, adotou uma política de respeito sobre as minorias religiosas, além de não obrigar as mulheres a usarem burca ( véu na cabeça).
Nós em Sousse e a foto do Presidente

Tá, 99% da população é mulçumana. Por todos os lados se vê mesquitas e muitos param 4 vezes ao dia para rezar em direção à Meca. Porém, a população jovem, apesar de ser islâmica não pratica tanto a religião. É bem parecido com o Brasil com os católicos não praticantes. O que pude perceber é que a juventude com poder aquisitivo maior é mais “moderna”, não usam burca, tomam bebida alcoólica e até namoram. Conclusão tirada ao conhecer muitos jovens da Universidade de Carthage, a universidade mais cara da Tunisia. Já nas outras universidades que conheci, o uso de véu pelas mulheres era predominante. Além disso, ao conversar com eles, pude perceber que eram bem tradicionais. Beijo na boca só depois do casamento e bebida alcoólica nem pensar. Só cigarro. Aliás, TODO mundo fuma na Tunísia. Não só cigarro que é unânime entre a população, mas também a Chicha ou o Narguilê, muito comum na cultura árabe. Todos os cafés, restaurantes e bares possuem a chicha para os clientes. Faz parte do MENU ao lado do chá de amêndoas e dos cafés. A primeira coisa que o garçom pergunta quando sentamos em uma mesa é que sabor de fumo queremos para nossa chicha. O bom é que aqui eles usam um biquinho de plástico descartável para cada um que fuma.





Narguilê ou Shisha e Chá de amendoas
(Eu, Emil do Chile e Asma da AIESEC Carthage)


O país é extremamente machista. Apesar de não ser obrigatório o uso do véu, as mulheres que não o usam são vistas como “fáceis” e se estiver sozinha então é praticamente uma pu... Os homens não respeitam mesmo. No metro vi uma cena que me chocou. Havia uma jovem sem véu, sozinha à porta do metro. Quando a porta se abriu, alguns jovens pediram pra ela sair, pois eles queriam ficar onde ela estava. Como ela não aceitou, levou um tapão na cara. Fiquei chocada.
Remanescentes do Study Tour no metrô, indo visitar o centro de Tunes

Bom, eu descobri isso na marra... No primeiro dia depois do study tour, os remanescentes saíram para conhecer a cidade. Éramos 10 ao total e, coincidentemente éramos 5 homens e 5 mulheres. Fomos à uma Medina, para conhecer mesquitas e fazer compras em feirinhas locais. Chegando à feirinha nos dividimos em grupos menores. Estava com Emil do Chile e Ismael da Guatemala. No primeiro lugar que paramos para perguntar o preço, a primeira coisa que o comerciante perguntou era se eu era casada com o Emil. Ele, naturalmente disse não. Nesse mesmo instante, o vendedor ofereceu 200 camelos para casar-se comigo. Na hora fiquei um pouco assustada. Os meninos emendaram dizendo que eu não era casada, mas era comprometida. Pronto, a partir daí não andei mais sozinha e todo comerciante antes de fazer qualquer negócio perguntava se eu era casada. Por isso, sempre pegava pela mão o primeiro dos meninos que aparecia para ser meu namorado da vez.  Quando eles não estavam por perto e os comerciantes perguntavam, apontava para qualquer um dos meninos dizendo, olha aí oh, meu noivo. Ele é ciumento.

No Google dizia que o idioma oficial era árabe, mas que todos falavam Frances. Descobri que os jovens falam “Frarabic” uma mistura de Frances com árabe. Só os jovens estudam Frances na faculdade e começam a misturar os dois idiomas criando um 3º idioma completamente diferente. Fora isso, muitos jovens falam um pouco de inglês e até espanhol, o que facilitou um pouco a comunicação. Porém, a maioria apenas sabe o básico de inglês. Então a mímica ajudou bastante e algumas situações engraçadas foram inevitáveis.
No dia-a-dia eles não usam talher pra comer, vai na mãozona mesmo. No banheiro não tem papel-higienico, é uma duchinha e quando não tem duchinha tem um balde com um copinho dentro.  Isso eles me falaram que acontece mais em famílias mais humildes. 

A arte de negociar. Desde o study tour, percebi que os preços começam alto para se ter uma margem de negociação. Bobo é aquele que paga o primeiro preço que eles oferecem.  Sem insistir muito, é possível baixar uns 30% do preço original. Se insistir um pouquinho, consegue uns 50% de desconto. Agora, se tiver paciência e tempo, é possível conseguir até 80% de desconto.  Comprei um narguilê que, inicialmente custava 50 Euros, por 15 Euros. E negociei um outro que custava 40 Euros por 9 Euros para o Ismael. Até o comerciante no final perguntou se eu era comerciante no meu país...Acho que Cochabamba está sendo uma ótima universidade... Aprender a negociar preço por aqui está sendo útil em outros lugares do mundo
.
Por ter ficado mais dias, tive mais tempo para conhecer o restante do país que não conheci no study tour. Tunísia é um país relativamente pequeno. O Elias, nosso antigo guia e membro da AIESEC Tunes, topou nos acompanhar e mostrar outros pontos turísticos que queríamos. O que mais tinha vontade de conhecer era o Coliseo de Eljem. Feito pelos romanos, é um dos Coliseos melhor conservados até hoje. Não conheço o de Roma, mas dizem que nesse da Tunisia, nós turistas, temos mais liberdade de conhecer todo os lugares. Eljem foi o ponto alto do meu pós study tour, o Coliseo é lindo e pude visitar até os salões subterrâneos onde os prisioneiros ficavam. Conhecemos também outras Medinas e o Monastir, um monastério construído na época dos Romanos.




Foi incrível conhecer uma cultura tão antiga e perceber como mantêm essa cultura até hoje. Por diversas vezes me senti nas histórias de mil e uma noites ou naquele jogo “Prince of Persia”. Tunisia foi também, o primeiro país que eu conheci que não tem uma forte cultura cristã. Foi interessante perceber as diferenças culturais...Diferenças de crenças e festividades religiosas.

É... já sinto falta de beber coca-cola escrita em árabe e de comer sanduíche árabe com carne de cordeiro.


Incrivel Tunisia - Conhecendo o Deserto do Sahara

Postado por Babi Silva , quinta-feira, 1 de abril de 2010 14:07

Depois de 12 dias confinada no maravilhoso Hammammet, saímos para conhecer a Tunisia. A conferencia foi realizada num complexo turístico. Havia muitas feiras, parque de diversões e tudo me fazia lembrar que eu estava numa verdadeira Medina (cidades milenares árabes). Claro que eu sabia que tinha sido criado para “Gringo se sentir nas arábias”.  Porém os dias de conferencias foram tão intensos que não conseguimos aproveitar nada. No dia anterior à nossa despedida, descobri que ficávamos a 2 quadras do Mar Mediterrâneo. Como assim, estou a 2 quadras do Mediterrâneo e nem percebi! Por isso, no final da última festa fiz questão de ficar até o final e ir ver o sol nascer no Mar Mediterrâneo.

Porém, depois das conferencias internacionais  sempre acontecem os famosos “Study Tours”, uma excursão feita pelos organizadores do evento. O mais interessante desses Study Tours, além de ter alguém nos guiando pelos melhores lugares da cidade, estamos entre AIESECos. Nesse caso da Tunisia, éramos 36 pessoas de pelo menos 25 países diferentes.  Finalmente iria conhecer a Tunisia.

Saimos a noite da Medina Hammammet e viajamos toda a madrugada até uma cidade ao centro do País. Ficamos em um hotel, que não era o luxuoso hotel da conferencia, mas era bem confortável. No dia seguinte saímos e fomos visitar ruínas no meio do deserto do que um dia foi uma cidade árabe. 

Meu primeiro contato com o deserto do sahara. No caminho para as ruínas vimos os primeiros camelos selvagens correndo. Eram dezenas e todos juntos fizemos um uníssono “OOOHHHH”. Fora isso, era areia que não acabava mais. De repente, avistamos um  Oasis. E realmente é um alívio para os olhos ver tantas palmeiras e vida no meio de tanta areia. Chegamos às ruínas e o guia nos explicou que a cidade, foi uma importante cidade à séculos atrás, mas foi destruída por uma tempestade que durou 6 dias. Como no deserto não chove, as casas são feitas de areia.  Logo depois fomos visitar melhor o oásis. É lindo ver uma nascente saindo de pedras no meio do deserto. Depois do oásis, fomos a uma feirinha local. Meu primeiro contato com comerciantes árabes de verdade. Logo percebi que eles colocam o preço bem mais alto não só porque somos “Gringos”, mas também porque são ótimos negociantes e gostam de ter uma margem de negociação.




Depois disso, almoço árabe. Comemos um sanduba com carne de carneiro. Ah, que saudade dos almoços em Hammammet com dezenas de opções. A ansiedade em conhecer o país era maior, então nem ligamos. Depois do almoço fomos conhecer um cânion, deserto e mais feirinha... Depois disso iríamos conhecer o local onde foi filmado Star Wars.




Sanduba com a galera. Ao meu lado está um chico (esqueci o nome dele) de Togo, em frente à ele é a Cris da Espanha, ao lado da Nat do Panamá e Glori de Costa Rica.



Bah, nem lembro do filme direito. Já tava meio cansada de ver tanta areia em um único dia, que não estava muito animada para esse último passeio. Não estava esperando grande coisa, mas quando chegamos um outro “ooohhh”  foi inevitável. A cidade construída há mais de 30 anos para as gravações, ainda está intacta. Pudemos andar entre as casinhas construídas para o filme. No mesmo instante as lembranças do filme se fizeram bem claras e me senti em Star Wars. Onde está a Princesa Leia e o robozinho R2D2? Meu preferido, na época.

Aí também foi meu primeiro contato real com camelos. Paguei 3 dinares (1 dólar) para dar uma voltinha em um... Eram dois camelos, um amarrado ao outro e o guia ia puxando a gente...Quando olhei o guia puxando pensei. “Ah, assim não tem graça! Quero guiá-lo sozinha, deve ser como cavalo só que mais alto. Quando estava subindo percebi que não era assim tão fácil, porque o camelo está deitado, daí subimos, daí ele se levanta com a gente em cima dele... E quando estava em cima, percebi que ele balança muito mais que um cavalo...Ah, essa corcova só atrapalha... Que bom que tem o guia puxando os dois camelos...
Enquanto tentava me equilibrar em cima do camelo, conseguia observar melhor as dunas e a cidade cenográfica. 

Que ótimo, dia perfeito, já podemos voltar. Não! Ainda tem passeio de moto pelas dunas. Uhuuu! Esse estava incluído no pacote do study tour. Então esperei minha vez e la fui eu, com outros 4 companheiros dar uma volta nas dunas do deserto do sahara em uma moto. Agora não estava mais me sentindo em Star Wars e sim em Mad Max. Depois do passeio de moto, enquanto esperava todo o grupo fazer o mesmo, decidi subir uma grande duna onde já haviam outras pessoas... Chegando La no alto não acreditei... A  paisagem era incrível. Por todos os lados que olhávamos só víamos dunas e mais dunas... Sentem-me ali com os outros e ficamos admirando o por do sol...
No dia seguinte saímos cedo do hotel. O Ellas, conhecido como Elias, nosso guia, apenas disse, “façam uma mochila com o essencial para uma noite”. Vamos dormir no deserto! Todos estavam ansiosos e apreensivos. Que será que nos espera? Um camping no deserto deve ser bom... Ah, que ótimo estar num grupo com gringos, assim eles irão preparar algo para gringo ver e não iremos passar perrengue.  Antes do deserto iríamos conhecer outro oásis. Porém, era um oásis artificial. Não artificial, mas ele é do tamanho de uma pequena cidade e se fosse esperar pela natureza, ele seria bem menor. Os nativos regam as árvores 2 vezes por semana, e fazer por eles mesmo a reprodução das palmeiras. Eles sobem na palmeira macho, tiram galhos com pólen, depois sobem na palmeira fêmea e colocam o pólen nas frutas. Assim, eles aceleram e aumentam as chances de sucesso do processo. Fora isso, tinha um senhor explicando as maravilhas das bananeiras. O Oásis parecia muito uma pequena mata tropical. Nada muito diferente do que há no Brasil e em outras partes da América Latina. Assim nós latino americanos ficamos zoando dos europeus para passar o tempo. Eles ficavam tirando fotos e mais fotos das bananinhas nos cachos e tirando foto de palmeiras...

Depois disso, passeio de charrete até à cidade... Conhecemos outra Medina real. Imaginem 36 estrangeiros numa Medina... Tentávamos negociar o preço em inglês e os comerciantes tentavam se comunicar com a gente... Dizem que os árabes falam inglês. Na verdade eles sabem algumas palavras-chave em inglês. Não só em inglês, mas em quase todos os idiomas. Para conquistar o cliente eles soltam algumas palavras em quase todos os idiomas tentando adivinhar qual falamos e assim nos atrair para a tenda deles.  E funcionava, quando ouvia um “Oi, fala português? Brasil? Rio de Janeiro?” era fatal, já olhava para o lado e pronto, eles começavam a oferecer tudo que tinham em menos de 5 segundos. Quando perguntava o preço já vinha a resposta típica: “Tell me your price my friend”.  E assim passamos a tarde aprendendo a negociar com os comerciantes árabes. Voltamos para o ônibus cheios de lembranças, todos tinham pelo menos um lenço no pescoço.

Seguimos viagem rumo ao camping no deserto. No meio do caminho, parada para ver o salar. Um mar de sal. Linda paisagem pra fotos, mais comerciantes vendendo suas lembrancinhas e pronto, seguimos viagem. Umas 4 horas depois do salar, já estávamos ao sul do país, quase fronteira com Algéria.

O ônibus parou e disse: “Peguem só o essencial”. Ai ai ai, o que é essencial para uma noite no deserto? Só pude pensar em água. Comprei 2 garrafas de 2 litros, minha câmera, uma muda de roupa. Pronto. Descemos do ônibus e nos deparamos como o “Camel Stop”, parada de camelos. Escolha o seu e siga viagem. Eram centenas deles.... Ah, esse aqui parece ser muito alto, esse aqui tem cara de cansado, esse aqui... De repente, só vi um dos guias de camelo me chamando. Chamando não, ele estava me puxando pelo braço.  “Get up!” “Up!!” “Fast”! Tá bom, to subindo...Ih, La vem o frio na barriga de novo. Camelo deitado levanta primeiro as patas de trás. Quase caio pra frente, levanta as patas da frente, me equilibro e pronto.  Esse tem corcova muito alta!Enquanto vou me acostumando com a altura e aprendendo a me equilibrar em cima do camelo, vou vendo os outros na aventura de subir em um camelo. O “Uooouuuu” é inevitável a todos que sobem.

Poucos minutos depois começamos o passeio rumo ao camping. Era uma manada (não sei o coletivo de camelo) de camelos.  Eram 2 ou 3 camelos juntos, guiados por um árabe com lenço na cabeça.  Nessa hora pensei:”Caramba, estou no deserto! Tenho que me proteger do sol”. No deserto é quente, mas é seco, então a gente não sua e se a gente não sua, a gente nem percebe tanto o calor. Só o Sol queimando. Olhei para trás e vi todos meus companheiros colocando seus lenços comprados recentemente na Medina, na cabeça. O meu estava no pescoço e logo tratei de colocá-lo na cabeça também. Ficamos nessa viagem por quase 2 horas. Já tinha me acostumado com o balanço do camelo. Já tinha dado nome pra ele. Era o sheik. No meu grupo havia uma colombiana e uma russa. Ficávamos fazendo piadas sobre os camelos e ensinando palavras feias em espanhol para a Russa. De repente, percebemos que o sol estava se pondo ao nosso lado direito. Uau que lindo! Nesse mesmo instante alguém grita: “Look! The moon!”. A lua estava nascendo ao nosso lado esquerdo. Foi a lua cheia mais linda que vi em minha vida. Era enorme, bem maior que o sol. Foi um momento mágico. Nós, no meio do deserto vendo as incríveis cores do por do sol de um lado e a enorme e brilhante lua nascendo do outro.

Já era noite quando paramos. Estava claro por causa da lua. Olhamos para os lados e nos perguntamos: “Cadê o camping?”. Não tinha nada... só areia e mais areia... Descemos dos camelos e eles se foram... Calma, peraí e agora? Vamos dormir aqui? Não... seguimos a pé a partir de agora... Caminhamos mais uns 20 min e avistamos as barracas. Eram tendas armadas no meio da areia, não barracas de verdade. Abaixo da tenda areia e em cima da areia colchões.  Mal colocamos nossas coisas nas barracas já ouvimos o grito do Elias, “Let´s GO” . Pra onde? Bom, segui o grupo... Caminhamos uns 10 min e avistamos uma grande tenda. Era nosso jantar. Ficamos à luz da lua e das velas, a mesa era baixa e sentamos no chão (areia) para comer. O Menu: Cuscuz Tunisiense, com cordeiro.  Perguntei onde teria banheiro para lavar as mãos. Me olharam como se tivesse dito uma ofensa. Pô tem 2 horas que estou em cima de um camelo fedorento, cheia de areia na mão, quero lavar para comer! Ah, porque fui esquecer meu álcool na barraca? Ao final consegui um pouco de água para lavar a mão. O jantar estava magnífico. Voltamos às nossas barracas... Não tinha luz, mas tinha a lua... Não tinha banheiro, mas tinha uma tenda com uma caixa/privada dentro.
Fizemos 2 fogueiras cada uma com umas 15 pessoas... Começamos a  contar histórias e percebi quão privilegiados éramos quando cada um começou a contar coisas típicas de seu país. Pela proximidade e relacionamento que criamos nesses 15 dias, às vezes nos esquecíamos que éramos de países diferentes, que tínhamos histórias diferentes... Depois começaram a contar piadas. Como pode ser que uma piada sem graça cruza o mundo? De repente ouvi um Russo contando as mesmas piadas sem graça que ouvia quando era criança. Depois outra piada que ouvia quando era criança, agora contada por uma garota da Dinamarca... É... piada é uma coisa poderosa... Cruza o mundo, se infiltra na nossa cultura sem a gente perceber e sem sofrer muitas alterações...

Fui pra outra fogueira e percebi que tínhamos visitas. Eram 2 jovens. Perguntei de onde eram e ouvi um “Brazil”. Uai sô, você fala português! Falo uai! Uai, você fala mineirês! Foi uma risada só... Claro que os outros presentes não entenderam nosso diálogo. Eram 2 mineiros de Juiz de Fora. O Victor estava na sua última semana de intercambio na Tunisia e sua irmã veio visitá-lo e acompanhá-lo de volta pra casa.  Eles iriam fazer um mochilão pela Europa. Passamos boas horas falando sobre choques culturais, dicas de como viver bem em Tunez  (capital da Tunisia) e bons lugares para visitar, falou sobre sua experiência em trabalhar numa empresa de tecnologia em Tunez, como era seu dia-a-dia tentando se comunicar em Frances/árabe que os tunisianos falam, de suas aventuras durante o intercambio e do futuro agora que estava voltando para o Brasil.

No dia seguinte bem cedo (ao nascer do sol) levantamos acampamento. Pegamos nossas coisas e seguimos fomos ao mesmo lugar onde jantamos. Ali comemos nosso café da manhã. Logo depois os camelos chegaram. Obaaa, mais 2 horas em cima de um camelo. O retorno foi bem tranqüilo e sem surpresas... Foi uma alegria quando avistamos nosso bom e velho ônibus. Mais 8 horas de viagem rumo ao norte do país de volta pra Tunez. No caminho paramos em outras medinas, conhecemos uma tribo de aborígenes que vivem em casas feitas abaixo da terra. Uma maneira primitiva e muito inteligente de se proteger do clima do deserto. Por ser abaixo da terra, as casas mantêm uma temperatura média de 25 graus. Mesmo que do lado de fora esteja 50 graus durante o dia ou -5 graus durante a noite. 

Chegando em Tunez percebi o poder de negociação dos Tunisianos. O Elias nos conseguiu uma diária em um hotel à beira mar. O hotel era tipo 3 estrelas. Perguntei a diária e o rapaz da recepção me disse: 120 dinars quarto duplo. Uau! Isso é o que quero gastar em toda a viagem! Logo depois veio o Elias e ele me disse: “Não, nós vamos pagar 20 dinars”. Que?! Sim, de 120 para 20 dinars por uma diária em um lindo hotel com uma linda vista para o Mar Mediterrâneo. É, tenho que aprender a negociar com esse povo...
O Study tour terminou dia 1 de março e meu vôo estava marcado para o dia 6 de março. Cinco dias a mais na cidade de Tunez. O que fazer por tanto tempo na cidade e sem gastar muito?
Conto um pouco mais da minha aventura em Tunez no próximo post.