Bolivia - Voltando à rotina normal

Postado por Babi Silva , terça-feira, 13 de abril de 2010 23:54


Música do momento: Paciência


Depois de quase 2 meses viajando de um país ao outro finalmente cheguei em Cochabamba... Estava com tanta saudade dos jardins, do clima, da linda cordilheira que aqui é muito mais verde que em outras partes dos Andes, da traquilidade das ruas, das pessoas...

A chegada foi um pouco conturbada. Fui assaltada no terminal de La Paz, quando estava à caminho de pegar o ônibus para Cochabamba. O ultimo meio de transporte de tantos que eu peguei nas últimas semanas... O malandro levou minha bolsa com cartão de banco, dinheiro e minha preciosa câmera... Pelo menos fiquei com meu passaporte e notebook... Bom, vão-se os anéis, ficam-se os dedos... A vida continua e afinal, estava voltando pra casa... Estava tão cansada e com tanta vontade de chegar logo, que nem consegui assimilar e sentir a perda.

Seguindo a rotina de conferencias, minha primeira semana em Cochabamba, também foi baseada em congressos. Dessa vez o congresso foi pela Fundação onde estou fazendo meu intercambio. Uma semana num congresso sobre diabetes e como orientar os diabéticos a viverem bem com a doença. Foi bom ver facilitadores, sessões e conteúdo “out of AIESEC”.
Apesar de ser um assunto de saúde, as palestras foram bem interessantes, focadas em estilo de vida saudável e de boa comunicação para grupos que possuem diabetes. Estilo de vida saudável e como se comunicar bem, são assuntos úteis para qualquer campo de trabalho.

Finalmente estava voltando à rotina normal... Sai da minha rotina no inicio de Fevereiro e por causa das tantas viagens, idas e vindas e conferencias nem percebi que o tempo tinha passado. Caramba, já estamos no final de Março!

Logo veio a semana santa. Feriado...aaahhh... Três dias em casa, me permitindo fazer nada... Como é boa a arte de fazer nada... e depois de quase 6 meses, decidi ligar a TV pra ver o que estava acontecendo nessa caixinha eletrônica que prende a atenção de bilhões de pessoas, mas que, por falta de paciência, não fazia parte da minha rotina há anos... Até que foi interessante... Era sexta-feira da paixão e pra variar estava passando filmes sobre a paixão de Cristo. Dessa vez, parei pra ver a versão em Espanhol... O filme também era de origem diferente dos que costumam passar no Brasil... Versão um pouco modificada... Entre um bloco e outro, propagandas... Nossa, como eu pude esquecer que ver propagandas era tão legal. Lembrei porque decidi entrar no curso de Publicidade e Propaganda... Fico ansiosa esperando os comerciais entre um bloco e outro... Sou muito mais os comercias que os próprios programas. Simplesmente passei a tarde inteira vendo televisão. Estava passando uma série de filmes e fiquei vendo um após o outro. Sem me preocupar em escolher o filme, simplesmente aceitando o que a emissora escolhia pra mim...

Aqui na Bolivia eles possuem a tradição dos 12 pratos no almoço da sexta-feira da paixão. Ainda não descobri a origem da tradição. Todos os 12 pratos são feitos com peixe ou são vegetarianos. Ai ai ai... não consegui chegar nem ao 3º prato. No domingo, a tradição de presentear as pessoas com ovos de páscoa também prevalece. Os pais costumam esconder os ovos de chocolate para que as crianças encontrem.

No sábado e domingo de Páscoa me dediquei a fazer nada também... Meditando e assimilando tudo que tinha acontecido comigo nas ultimas semanas... Tantos novos verdadeiros amigos. Pessoas que me ajudarão nessa nova fase que estou entrando. Tantos lugares novos que conheci. Quanta cultura! Quanta perspectiva! Quantos novos sonhos criados...

Depois da semana santa, finalmente voltei à rotina normal de trabalho. Ainda estou me adaptando à velocidade natural de trabalho. A Fundação também não é mais a mesma... Quase todos que deixei quando fui pra Tunísia, já não estão mais aqui... Sensação de perder a melhor parte do filme e voltar quando ele já está no final.

Erica, uma voluntária americana que conheci logo no 1º acampamento que ajudei a realizar, dias depois que cheguei em Cochabamba. Ela que tanto me ajudou na adaptação, planejamento e realização das atividades da Fundação. Que foi companheira de trabalho e de viagens, já tinha voltado para os EUAs quando voltei pra Cochabamba. Muito estranho viver em Cochabamba sem nossas conversas sobre tudo e nada...

A Mariana e o Thiago, os brasileiros que tanto animaram minhas horas de trabalho e diversão também já não estavam.

Dos cinco que estavam na Fundação agora só restaram a Aukje e eu. Aukje, holandesa que chegou 15 dias antes de eu viajar. Que quando eu fui ainda estava no período de adaptação à cultura, ao trabalho e principalmente ao idioma, agora está super adaptada, nos seus 3 meses de Bolivia. Agora é ela quem me atualiza e me ajuda na readaptação.

A lembrança dos “bons tempos” está registrada no porta-retrato, que está no escritório da diretora da Fundação, com a foto que tiramos no nosso almoço de despedida, na véspera da minha viagem pra Tunísia.

Foto do porta-retrato
Aukje, Mariana, Eu, Thiago, Dra.Blanco e Erica

O trabalho da Fundação também está super tranqüilo. Os projetos dos acampamentos para diabéticos estão suspensos por tempo indeterminado por falta de verba. Assim como os outros projetos. Meus dias se resumem em melhorar e reescrever o projeto do laboratório móvel para conseguir financiamentos com instituições internacionais. Finalmente estou conseguindo focar no projeto que me trouxe aqui. A Aukje tem mestrado em investigação, um dos objetivos do projeto e está sendo uma super ajuda nesse processo. Porém estou sentindo um pouco a falta da velocidade, dinamismo e trabalho sob pressão que tinha quando eu estava trabalhando nos outros projetos da Fundação...

Esse tédio que estou sentindo esta me fazendo questionar o que eu realmente gosto e quero fazer... Já percebi que não gosto de ficar sentada em frente ao computador escrevendo projetos... O meu negócio é ação... Que saudade de planejar e organizar tantos eventos...de resolver os problemas de ultima hora... de sair às ruas pra defender um projeto. Apresentar e defender idéias e responder questionamentos de gerentes e diretores de empresas... Não gostei desse negócio de buscar fundos internacionais... A gente passa dias escrevendo o projeto, envia para um email e espera a data da resposta. Daí vem a resposta: Sim ou Não. Sem olhar nos olhos, sem perceber os sinais que o corpo transmite sobre aceitação ou não daquilo que estamos dizendo... Sem possibilidade de mudar de estratégia de comunicação quando percebemos que nossa ideia não esta sendo aceita.  Simplesmente um email polido, agradecendo o interesse e dando uma desculpa qualquer pra justificar a não aceitação do projeto. Com uma notinha final dizendo que a resposta é irrefutável. Pronto. Só nos resta recomeçar a pesquisa por novos possíveis financiadores.

Estou aprendendo a arte de fazer aquilo que é necessário ser feito e não necessariamente aquilo que gosto de fazer. Também sei que essa é uma fase necessária e que sem ela a outra fase “legal” não irá chegar.  Meu objetivo atual é buscar outras atividades desafiantes entre um email e outro que enviamos para Instituições Internacionais. A diretora da Organização, Aukje e eu, estamos planejando os next steps da Fundação.

Boas idéias e possibilidades surgiram essa semana... Acho que em breve a ação volta a ser rotina... Oba =)

Durante as noites e finais de semana, me dedico às atividades da AIESEC. Reuniões com meus futuros diretores nacionais, com a diretoria local de Cochabamba e com os membros. Planejamentos e reuniões virtuais com membros da diretoria de todo o país. Encontros com os membros para eventos sociais nos finais de semana e conferencias locais, também animam meu dia-a-dia aqui na Bolivia. Já estou entrando no clima de trabalhar na AIESEC por mais 1 ano por aqui. Ainda não sei como será a transição e a adaptação entre o trabalho que faço na Fundação e a rotina de trabalho na diretoria nacional da AIESEC Bolivia.

Almoço durante a Conferencia para Novos Membros da AIESEC em Cochabamba

Por enquanto também não quero pensar muito nisso. Só penso em aproveitar bem minhas últimas semanas de trabalho na Fundação, preparar bem o “terreno” para os próximos voluntários que virão e meu retorno de férias para o Brasil.

Finalmente, depois de tanto viajar, conhecer e buscar entender outras realidades irei voltar para a minha realidade.

E haja paciência para superar a ansiedade de voltar pra casa, para os amigos e família. 
Recarregar as energias na minha BELO HORIZONTE e voltar com a força total pra Bolivia...

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