Incrivel Tunisia - Conhecendo o Deserto do Sahara

Postado por Babi Silva , quinta-feira, 1 de abril de 2010 14:07

Depois de 12 dias confinada no maravilhoso Hammammet, saímos para conhecer a Tunisia. A conferencia foi realizada num complexo turístico. Havia muitas feiras, parque de diversões e tudo me fazia lembrar que eu estava numa verdadeira Medina (cidades milenares árabes). Claro que eu sabia que tinha sido criado para “Gringo se sentir nas arábias”.  Porém os dias de conferencias foram tão intensos que não conseguimos aproveitar nada. No dia anterior à nossa despedida, descobri que ficávamos a 2 quadras do Mar Mediterrâneo. Como assim, estou a 2 quadras do Mediterrâneo e nem percebi! Por isso, no final da última festa fiz questão de ficar até o final e ir ver o sol nascer no Mar Mediterrâneo.

Porém, depois das conferencias internacionais  sempre acontecem os famosos “Study Tours”, uma excursão feita pelos organizadores do evento. O mais interessante desses Study Tours, além de ter alguém nos guiando pelos melhores lugares da cidade, estamos entre AIESECos. Nesse caso da Tunisia, éramos 36 pessoas de pelo menos 25 países diferentes.  Finalmente iria conhecer a Tunisia.

Saimos a noite da Medina Hammammet e viajamos toda a madrugada até uma cidade ao centro do País. Ficamos em um hotel, que não era o luxuoso hotel da conferencia, mas era bem confortável. No dia seguinte saímos e fomos visitar ruínas no meio do deserto do que um dia foi uma cidade árabe. 

Meu primeiro contato com o deserto do sahara. No caminho para as ruínas vimos os primeiros camelos selvagens correndo. Eram dezenas e todos juntos fizemos um uníssono “OOOHHHH”. Fora isso, era areia que não acabava mais. De repente, avistamos um  Oasis. E realmente é um alívio para os olhos ver tantas palmeiras e vida no meio de tanta areia. Chegamos às ruínas e o guia nos explicou que a cidade, foi uma importante cidade à séculos atrás, mas foi destruída por uma tempestade que durou 6 dias. Como no deserto não chove, as casas são feitas de areia.  Logo depois fomos visitar melhor o oásis. É lindo ver uma nascente saindo de pedras no meio do deserto. Depois do oásis, fomos a uma feirinha local. Meu primeiro contato com comerciantes árabes de verdade. Logo percebi que eles colocam o preço bem mais alto não só porque somos “Gringos”, mas também porque são ótimos negociantes e gostam de ter uma margem de negociação.




Depois disso, almoço árabe. Comemos um sanduba com carne de carneiro. Ah, que saudade dos almoços em Hammammet com dezenas de opções. A ansiedade em conhecer o país era maior, então nem ligamos. Depois do almoço fomos conhecer um cânion, deserto e mais feirinha... Depois disso iríamos conhecer o local onde foi filmado Star Wars.




Sanduba com a galera. Ao meu lado está um chico (esqueci o nome dele) de Togo, em frente à ele é a Cris da Espanha, ao lado da Nat do Panamá e Glori de Costa Rica.



Bah, nem lembro do filme direito. Já tava meio cansada de ver tanta areia em um único dia, que não estava muito animada para esse último passeio. Não estava esperando grande coisa, mas quando chegamos um outro “ooohhh”  foi inevitável. A cidade construída há mais de 30 anos para as gravações, ainda está intacta. Pudemos andar entre as casinhas construídas para o filme. No mesmo instante as lembranças do filme se fizeram bem claras e me senti em Star Wars. Onde está a Princesa Leia e o robozinho R2D2? Meu preferido, na época.

Aí também foi meu primeiro contato real com camelos. Paguei 3 dinares (1 dólar) para dar uma voltinha em um... Eram dois camelos, um amarrado ao outro e o guia ia puxando a gente...Quando olhei o guia puxando pensei. “Ah, assim não tem graça! Quero guiá-lo sozinha, deve ser como cavalo só que mais alto. Quando estava subindo percebi que não era assim tão fácil, porque o camelo está deitado, daí subimos, daí ele se levanta com a gente em cima dele... E quando estava em cima, percebi que ele balança muito mais que um cavalo...Ah, essa corcova só atrapalha... Que bom que tem o guia puxando os dois camelos...
Enquanto tentava me equilibrar em cima do camelo, conseguia observar melhor as dunas e a cidade cenográfica. 

Que ótimo, dia perfeito, já podemos voltar. Não! Ainda tem passeio de moto pelas dunas. Uhuuu! Esse estava incluído no pacote do study tour. Então esperei minha vez e la fui eu, com outros 4 companheiros dar uma volta nas dunas do deserto do sahara em uma moto. Agora não estava mais me sentindo em Star Wars e sim em Mad Max. Depois do passeio de moto, enquanto esperava todo o grupo fazer o mesmo, decidi subir uma grande duna onde já haviam outras pessoas... Chegando La no alto não acreditei... A  paisagem era incrível. Por todos os lados que olhávamos só víamos dunas e mais dunas... Sentem-me ali com os outros e ficamos admirando o por do sol...
No dia seguinte saímos cedo do hotel. O Ellas, conhecido como Elias, nosso guia, apenas disse, “façam uma mochila com o essencial para uma noite”. Vamos dormir no deserto! Todos estavam ansiosos e apreensivos. Que será que nos espera? Um camping no deserto deve ser bom... Ah, que ótimo estar num grupo com gringos, assim eles irão preparar algo para gringo ver e não iremos passar perrengue.  Antes do deserto iríamos conhecer outro oásis. Porém, era um oásis artificial. Não artificial, mas ele é do tamanho de uma pequena cidade e se fosse esperar pela natureza, ele seria bem menor. Os nativos regam as árvores 2 vezes por semana, e fazer por eles mesmo a reprodução das palmeiras. Eles sobem na palmeira macho, tiram galhos com pólen, depois sobem na palmeira fêmea e colocam o pólen nas frutas. Assim, eles aceleram e aumentam as chances de sucesso do processo. Fora isso, tinha um senhor explicando as maravilhas das bananeiras. O Oásis parecia muito uma pequena mata tropical. Nada muito diferente do que há no Brasil e em outras partes da América Latina. Assim nós latino americanos ficamos zoando dos europeus para passar o tempo. Eles ficavam tirando fotos e mais fotos das bananinhas nos cachos e tirando foto de palmeiras...

Depois disso, passeio de charrete até à cidade... Conhecemos outra Medina real. Imaginem 36 estrangeiros numa Medina... Tentávamos negociar o preço em inglês e os comerciantes tentavam se comunicar com a gente... Dizem que os árabes falam inglês. Na verdade eles sabem algumas palavras-chave em inglês. Não só em inglês, mas em quase todos os idiomas. Para conquistar o cliente eles soltam algumas palavras em quase todos os idiomas tentando adivinhar qual falamos e assim nos atrair para a tenda deles.  E funcionava, quando ouvia um “Oi, fala português? Brasil? Rio de Janeiro?” era fatal, já olhava para o lado e pronto, eles começavam a oferecer tudo que tinham em menos de 5 segundos. Quando perguntava o preço já vinha a resposta típica: “Tell me your price my friend”.  E assim passamos a tarde aprendendo a negociar com os comerciantes árabes. Voltamos para o ônibus cheios de lembranças, todos tinham pelo menos um lenço no pescoço.

Seguimos viagem rumo ao camping no deserto. No meio do caminho, parada para ver o salar. Um mar de sal. Linda paisagem pra fotos, mais comerciantes vendendo suas lembrancinhas e pronto, seguimos viagem. Umas 4 horas depois do salar, já estávamos ao sul do país, quase fronteira com Algéria.

O ônibus parou e disse: “Peguem só o essencial”. Ai ai ai, o que é essencial para uma noite no deserto? Só pude pensar em água. Comprei 2 garrafas de 2 litros, minha câmera, uma muda de roupa. Pronto. Descemos do ônibus e nos deparamos como o “Camel Stop”, parada de camelos. Escolha o seu e siga viagem. Eram centenas deles.... Ah, esse aqui parece ser muito alto, esse aqui tem cara de cansado, esse aqui... De repente, só vi um dos guias de camelo me chamando. Chamando não, ele estava me puxando pelo braço.  “Get up!” “Up!!” “Fast”! Tá bom, to subindo...Ih, La vem o frio na barriga de novo. Camelo deitado levanta primeiro as patas de trás. Quase caio pra frente, levanta as patas da frente, me equilibro e pronto.  Esse tem corcova muito alta!Enquanto vou me acostumando com a altura e aprendendo a me equilibrar em cima do camelo, vou vendo os outros na aventura de subir em um camelo. O “Uooouuuu” é inevitável a todos que sobem.

Poucos minutos depois começamos o passeio rumo ao camping. Era uma manada (não sei o coletivo de camelo) de camelos.  Eram 2 ou 3 camelos juntos, guiados por um árabe com lenço na cabeça.  Nessa hora pensei:”Caramba, estou no deserto! Tenho que me proteger do sol”. No deserto é quente, mas é seco, então a gente não sua e se a gente não sua, a gente nem percebe tanto o calor. Só o Sol queimando. Olhei para trás e vi todos meus companheiros colocando seus lenços comprados recentemente na Medina, na cabeça. O meu estava no pescoço e logo tratei de colocá-lo na cabeça também. Ficamos nessa viagem por quase 2 horas. Já tinha me acostumado com o balanço do camelo. Já tinha dado nome pra ele. Era o sheik. No meu grupo havia uma colombiana e uma russa. Ficávamos fazendo piadas sobre os camelos e ensinando palavras feias em espanhol para a Russa. De repente, percebemos que o sol estava se pondo ao nosso lado direito. Uau que lindo! Nesse mesmo instante alguém grita: “Look! The moon!”. A lua estava nascendo ao nosso lado esquerdo. Foi a lua cheia mais linda que vi em minha vida. Era enorme, bem maior que o sol. Foi um momento mágico. Nós, no meio do deserto vendo as incríveis cores do por do sol de um lado e a enorme e brilhante lua nascendo do outro.

Já era noite quando paramos. Estava claro por causa da lua. Olhamos para os lados e nos perguntamos: “Cadê o camping?”. Não tinha nada... só areia e mais areia... Descemos dos camelos e eles se foram... Calma, peraí e agora? Vamos dormir aqui? Não... seguimos a pé a partir de agora... Caminhamos mais uns 20 min e avistamos as barracas. Eram tendas armadas no meio da areia, não barracas de verdade. Abaixo da tenda areia e em cima da areia colchões.  Mal colocamos nossas coisas nas barracas já ouvimos o grito do Elias, “Let´s GO” . Pra onde? Bom, segui o grupo... Caminhamos uns 10 min e avistamos uma grande tenda. Era nosso jantar. Ficamos à luz da lua e das velas, a mesa era baixa e sentamos no chão (areia) para comer. O Menu: Cuscuz Tunisiense, com cordeiro.  Perguntei onde teria banheiro para lavar as mãos. Me olharam como se tivesse dito uma ofensa. Pô tem 2 horas que estou em cima de um camelo fedorento, cheia de areia na mão, quero lavar para comer! Ah, porque fui esquecer meu álcool na barraca? Ao final consegui um pouco de água para lavar a mão. O jantar estava magnífico. Voltamos às nossas barracas... Não tinha luz, mas tinha a lua... Não tinha banheiro, mas tinha uma tenda com uma caixa/privada dentro.
Fizemos 2 fogueiras cada uma com umas 15 pessoas... Começamos a  contar histórias e percebi quão privilegiados éramos quando cada um começou a contar coisas típicas de seu país. Pela proximidade e relacionamento que criamos nesses 15 dias, às vezes nos esquecíamos que éramos de países diferentes, que tínhamos histórias diferentes... Depois começaram a contar piadas. Como pode ser que uma piada sem graça cruza o mundo? De repente ouvi um Russo contando as mesmas piadas sem graça que ouvia quando era criança. Depois outra piada que ouvia quando era criança, agora contada por uma garota da Dinamarca... É... piada é uma coisa poderosa... Cruza o mundo, se infiltra na nossa cultura sem a gente perceber e sem sofrer muitas alterações...

Fui pra outra fogueira e percebi que tínhamos visitas. Eram 2 jovens. Perguntei de onde eram e ouvi um “Brazil”. Uai sô, você fala português! Falo uai! Uai, você fala mineirês! Foi uma risada só... Claro que os outros presentes não entenderam nosso diálogo. Eram 2 mineiros de Juiz de Fora. O Victor estava na sua última semana de intercambio na Tunisia e sua irmã veio visitá-lo e acompanhá-lo de volta pra casa.  Eles iriam fazer um mochilão pela Europa. Passamos boas horas falando sobre choques culturais, dicas de como viver bem em Tunez  (capital da Tunisia) e bons lugares para visitar, falou sobre sua experiência em trabalhar numa empresa de tecnologia em Tunez, como era seu dia-a-dia tentando se comunicar em Frances/árabe que os tunisianos falam, de suas aventuras durante o intercambio e do futuro agora que estava voltando para o Brasil.

No dia seguinte bem cedo (ao nascer do sol) levantamos acampamento. Pegamos nossas coisas e seguimos fomos ao mesmo lugar onde jantamos. Ali comemos nosso café da manhã. Logo depois os camelos chegaram. Obaaa, mais 2 horas em cima de um camelo. O retorno foi bem tranqüilo e sem surpresas... Foi uma alegria quando avistamos nosso bom e velho ônibus. Mais 8 horas de viagem rumo ao norte do país de volta pra Tunez. No caminho paramos em outras medinas, conhecemos uma tribo de aborígenes que vivem em casas feitas abaixo da terra. Uma maneira primitiva e muito inteligente de se proteger do clima do deserto. Por ser abaixo da terra, as casas mantêm uma temperatura média de 25 graus. Mesmo que do lado de fora esteja 50 graus durante o dia ou -5 graus durante a noite. 

Chegando em Tunez percebi o poder de negociação dos Tunisianos. O Elias nos conseguiu uma diária em um hotel à beira mar. O hotel era tipo 3 estrelas. Perguntei a diária e o rapaz da recepção me disse: 120 dinars quarto duplo. Uau! Isso é o que quero gastar em toda a viagem! Logo depois veio o Elias e ele me disse: “Não, nós vamos pagar 20 dinars”. Que?! Sim, de 120 para 20 dinars por uma diária em um lindo hotel com uma linda vista para o Mar Mediterrâneo. É, tenho que aprender a negociar com esse povo...
O Study tour terminou dia 1 de março e meu vôo estava marcado para o dia 6 de março. Cinco dias a mais na cidade de Tunez. O que fazer por tanto tempo na cidade e sem gastar muito?
Conto um pouco mais da minha aventura em Tunez no próximo post.

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