Nuestra Señora de La Paz

Postado por Babi Silva , quarta-feira, 16 de dezembro de 2009 12:03

A típica correria de final de ano me assombrou e não tive muito tempo de atualizar o blog nas ultimas semanas. Porém, no final do mês de Novembro e inicio de Dezembro fiz uma das viagens mais significativas pela Bolivia que fiz até agora e por isso vou puxar da memória e contar um pouquinho minhas aventuras em La Paz.

Visita Relâmpago à La Paz.
Estava super ansiosa para conhecer La Paz. Apesar de todos os avisos sobre o “mal da altitude”, não podia perder a oportunidade de conhecer a capital da Bolivia. Além disso, seria a primeira vez que iria viajar por ônibus na Bolivia...

A informalidade predomina na Bolivia. Até na hora de comprar passagem, a negociação (pechincha) é o que prevalece. O valor da passagem pode variar de acordo com o horário, o dia e seu ânimo na hora de negociar. Existem pelo menos 3 empresas e vários tipos de ônibus de Cochabamba para La Paz. Como ia viajar sozinha e era minha primeira vez, não pensei em economizar. Escolhi a empresa e o tipo de ônibus mais caros, na esperança de ter uma viagem mais tranqüila. Escolhi o Buscama, nosso Semi leito, da empresa Trans Copacabana. Mesmo assim, consegui baixar o preço de 90 para 60 bolivianos, menos de 20 reais =) .

E lá fui eu para o buscama. Dois andares e bonitão, pelo menos por fora. Quando entrei a primeira surpresa, além de parecer que nunca tinha sido lavado por dentro, o banheiro estava trancado e depois percebi que o ar condicionado também não funcionava. Água? Tinha até o compartimento próprio, mas estava vazio. Só me restou comprar água de um dos 20 ambulantes que entraram no ônibus gritando e vendendo inúmeras coisas. De lanterna que não precisa de pilhas para funcionar, até frango frito. Percebi que a água mineral é mais cara que a Coca-Cola até comprando de ambulantes. A garrafinha de 500ml de Coca-Cola custa 2,50 bolivianos, enquanto a garrafinha de água não sai por menos de 3 Bs. Ainda assim, estava bastante animada. Assim que o ônibus começou a andar, várias pessoas começaram a cobrir o chão com panos coloridos e deitaram ali mesmo, no corredor do ônibus. Três horas depois de muitas curvas e estrada estreita, fizemos a primeira parada.  Era uma pequena casa, onde haviam ambulantes vendendo sanduíches na porta. Procurei pela indicação de “Baño” parecia um labirinto, completamente escuro. Mesmo assim, decidi continuar seguindo as pessoas pra ver onde iria chegar. Depois de muitas curvas e longos corredores  cheguei numa portinha, paguei 1 boliviano e entrei. Havia buracos no chão e tambores de água. As pessoas pegavam baldinhos que estavam no chão, enchiam de água e entravam na casinha de madeira que tinha um buraco no chão, que seria o banheiro... Voltei para o Buscama e tentei dormir...

Oito horas depois do inicio da viagem, já com os primeiros raios de sol, cheguei à cidade de Nuestra Señora de La Paz. A incrível cordilheira dos Andes e seu gelo eterno, encheram meus olhos.  Desci do ônibus e percebi quão quentinho estava la dentro.  Minha cabeça estava doendo e não conseguia respirar direito... “ih, é o mal da altitude me atacando”, pensei.  Resolvi tomar um desayuno no terminal rodoviário mesmo e fiquei imensamente feliz quando vi que tinha chá de coca. Bom e velho companheiro para minimizar os males da altitude... Em pouquíssimos minutos estava pronta para começar minha expedição por La Paz. Tinha contatos de algumas pessoas de La Paz, mas só as encontraria na parte da tarde.

Resolvi então, conhecer  um pouco mais  a cidade sozinha mesmo. Peguei uma van e perguntei se iria pra Praça Principal (sempre é o melhor ponto turístico nas cidades da Bolivia), poucos minutos depois de subir à van, vi uma linda catedral e resolvi descer ali mesmo. Era a Basílica de San Francisco e logo reconheci um dos principais cartões postais de La Paz. A Basílica é grandiosa e muito linda. Junto a ela, dezenas de campesinos  ambulantes, vendendo tudo que é possível imaginar. Algumas crianças com rostos cobertos engraxavam  os sapatos dos transeuntes, logo percebi que por toda cidade é bem comum ver essas crianças com toca negra cobrindo todo o rosto, oferecendo seus serviços de engraxate por 5 bolivianos.
Segui caminhada e logo cheguei ao “Prado”, uma avenida cheia de cafés, teatros e museus. La Paz, assim como Cochabamba, também possui lindas praças e jardins floridos por toda parte... Entrei em uma agencia de turismo e lembrei-me do passeio por ônibus tour, que o Pablo tinha me dito que era ótimo. Resolvi arriscar. Nunca fui adepta a esses passeios, mas já que estava sozinha e não tinha feito meu dever de casa para saber os principais pontos turísticos, resolvi arriscar. Havia duas rotas (centro da cidade e Zona Sur). Resolvi ir pela Zona Sur, que é a zona baixa de La Paz que tem 2.500 metros de altitude. Realmente baixa, comparando-se aos 3.600 metros de altitude do restante da cidade.

“E a sua direita a casa presidencial”, ouvia pelo fonezinho, sentada no segundo andar do ônibus enquanto admirava a linda cidade. Uma coisa que me chamou a atenção foram as residências paceñas. A grande maioria delas não são pintadas e ficam aglomeradas nas serras da cidade... Às vezes , até se confundem com a cor amarronzada das montanhas. Parecem centenas de caixinhas grudadas nas serras.  Quarenta minutos depois do inicio do passeio, o ônibus para no parque do “Valle de La Luna”, um dos lugares mais incríveis que eu conheci na Bolivia até agora. Valeu a pena pagar os 15 bolivianos para entrar no parque. O Vale tem formações rochosas que lembram o solo lunar, daí o nome. Grandes estalagmites de várias cores que criam incríveis ilusões de ótica. Ficaria ali por horas se fosse possível, mas os 30 minutos da parada passaram sem eu sentir e logo ouvi o ônibus ligando seu motor e buzinando pra mim. Sai correndo e por pouco não perco o ônibus tour.

Depois do passeio, ainda tinha algumas horas antes do horário marcado para encontrar a galera. Voltei ao prado para almoçar. Dentre as opções de pollos e Burguer King, escolhi experimentar a comida em uma Chifa (mistura de comida chinesa e comida típica da cidade).  Logo depois fui para a PUC, a maior universidade da Bolivia, encontrar alguns membros da AIESEC. Depois da reunião fomos a um café e nessa altura do campeonato já estava cansada demais pra pensar em balada. Poderia voltar domingo pela manhã, mas decidi voltar no sábado a noite mesmo.  Na volta fiquei com preguiça de estudar as opções de empresas e tipos de ônibus. Acabei aceitando a primeira oferta de um dos ambulantes que vendiam passagens para Cochabamba por 30 bolivianos (menos de 10 reais) num buscama. Doce ilusão, porque de buscama mesmo só tinha o nome. Ah saudade do Trans Copacabana... Nossos ônibus convencionais seriam vendidos como luxo por ali... Cadeiras imundas que não inclinavam, banheiro trancado, sem água , pelo menos a janela abria pra entrar um ventinho, pessoas deitadas no chão... Estava tão cansada que nem me incomodei tanto com isso... Dez horas depois, fui despertada pelos gritos dos ambulantes que subiram na chegada do ônibus para tentar vender passagens para aqueles que seguiriam viagem até Santa Cruz de La Sierra. Pronto, doce Cochabamba...

Viagem rápida, mas bem marcante. La Paz possui inúmeras opções de turismo. Ainda voltarei para conhecer a pista natural de esqui mais alta do mundo: Chalcataya (5.300m de altura), o templo de Tiwanaku, o Lago Titicaca,  Los Yungas dentre outros. Enquanto isso, aproveito a mini visita de volta ao Brasil... Em breve mais novidades sobre meu pseudo retorno ao lar.


Terminal Rodoviário de La Paz

Catedral de São Francisco



Campesinos na porta da Catedral


Tradição e modernidade andam juntos - Campesinos no Prado


Valle de La Luna