Negócios Sociais

Postado por Babi Silva , sábado, 9 de janeiro de 2010 21:51

Por que tenho que escolher entre ganhar dinheiro ou melhorar o mundo?

Bons empreendedores criam empreendimentos fortes que geram lucros, que são investidos no bem-estar dos proprietários, acionistas ou reinvestidos na empresa para que essa gere mais lucro para enriquecer ainda mais os proprietários e acionistas. Essa é a lógica da economia e dos empreendimentos há vários séculos... Só que essa, é uma prática insustentável ecologicamente e socialmente.
Sustentabilidade, aquecimento global e todo tipo de estratégia para diminuir o impacto que a busca crescente pelo desenvolvimento causou ao nosso planeta no último século, virou assunto da moda nos últimos tempos.  Porém, como equilibrar consumo, desenvolvimento, viabilidade econômica e ao mesmo tempo ajudar a melhorar o mundo? Daí surge o termo “Negocio Social”.

Negocio Social, não é assistencialismo e nem responsabilidade social corporativa. É um empreendimento como outro qualquer, que deve ser economicamente viável e possui a finalidade de prestar um serviço ou produto à sociedade. Porém, é um serviço ou produto que “ajuda a melhorar o mundo” e todo lucro adquirido pelo negócio é reinvestido no próprio negocio para que esse se multiplique e ajude mais e mais pessoas. Descobri que é isso que quero da minha vida. Promover ou ter negócios sociais.  E é isso que estou fazendo aqui em Cochabamba, na Bolivia.

Faço parte do  programa de Intercambio do Social Business Ventures, uma iniciativa da AIESEC e da Artemísia, onde são selecionados e capacitados jovens AIESECos empreendedores de todo o mundo para trabalharem em empreendimentos sociais da América Latina e India. A seleção acontece mais ou menos a cada 6 meses e a cada dia novas ONGs e projetos entram no programa do Social Business Ventures. Atualmente há projetos no Chile, Argentina, Peru, Brasil, India e Bolivia. Para fazer parte do programa, é necessário ser membro da AIESEC.

Estou aqui na Bolivia trabalhando na Fundação Vida Plena, especializada em diabetes e trabalho no projeto de um laboratório móvel que levará prevenção, detecção e tratamento da diabetes para comunidades de zonas rurais. Centenas de bolivianos e indígenas morrem nas zonas rurais por causa das complicações da diabetes e outras doenças não transmissíveis sem ter o diagnóstico correto de sua morte.  Ataque cardíaco é colocado como morte desconhecida ou natural. Promoção de estilo de vida saudável e prevenção de doenças crônicas  são assuntos recentes e a Fundação está tendo um papel importante na disseminação desses assuntos entre as entidades de saúde de Cochabamba.

Ainda não há um laboratório móvel e meu trabalho inicial, foi  verificar a real viabilidade desse projeto. Fizemos uma parceria com a Universidade Columbia e no inicio de Janeiro chegaram 4 estudantes de mestrado que usaram o projeto como estudo de caso. Fizeram um baita estudo e concluíram que o projeto é sim, viável. Próximo passo, buscar financiadores internacionais e promover ações locais para disseminação da idéia e busca por aliados locais.

O grande benefício deste intercâmbio, além de todo suporte que há em todos os intercâmbios promovidos pela AIESEC, é o network criado por todos os intercambistas que estão nesse programa. Atualmente, são pelo menos 10 jovens, como eu, vindos de diferentes partes do globo, focados num mesmo assunto: Negocios Sociais. Claro que cada um trabalhando em um projeto, país e ONGs distintas. Porém, os desafios de se trabalhar em um negócio social, são quase sempre os mesmos e um sempre acaba ajudando o outro. 

Outra grande vantagem é a capacitação promovida pela Artemísia. São capacitações virtuais e presenciais. Em dezembro tive o prazer de voltar para o meu lindo Brasil por causa de uma dessas capacitações. Foram 4 intensos dias de capacitação num sitio próximo à São Paulo, com todos os participantes do programa da América Latina. Fiz amigos de pelo menos 10 países diferentes. De todas as conferencias internacionais que fui até hoje, essa com certeza, foi a que mais me impactou pessoalmente.  A metodologia do evento criou uma conexão especial entre os participantes e fico até hoje com uma pontinha de inveja dos reencontros que estão acontecendo periodicamente entre os participantes que moram atualmente em São Paulo.
 

Não sei se os Deuses estão mesmo ao meu favor, mas a conferencia do Social Business, além de ter sido no Brasil, foi poucos dias antes do Natal, o que me deu a oportunidade de aproveitar o recesso de final de ano em casa. Ah, home, sweet home... Como é bom voltar pra casa depois de um tempo fora. Realmente, passamos a valorizar cada pequeno detalhe.

Foi  meio estranho... Era como ser estrangeira em minha própria terra. Cada lugar visitado, cada sabor experimentado, cada experiência. Vivi tudo como se fosse um turista, como se tivesse acabado de chegar em um novo país e estivesse querendo conhecer e vivenciar cada pequena coisa. É estranho também estar em casa, sem ser de casa. É a primeira vez que moro longe de casa e voltar para lá não morando mais foi meio estranho.  Era como se meu quarto não fosse mais meu, minha cama, a vista do meu quarto não me pertencesse mais. Porém, foi muito bom sentir o aconchego do lar. As longas horas de conversas com minha mãe, os assuntos sem muito nexo com meu irmão, as programações de final semana, as historias de família...
Dirigi meu carro ouvindo musica alta, comi temaki e muita comida japonesa, comi tropeiro e todo tipo de feijão, fui ao samba, dancei carnaval no meio da rua, fui em butecos, bebi Brahma gelada e cachaça, revi muitos amigos, fiz festa, vivi cada segundo como se fosse o último. Num misto de boas vindas e despedida. É...deu pra recarregar bem as energias e voltar com tudo para Bolivia...

No final da viagem, já estava sentindo falta da tranqüilidade e dos lindos jardins de Cochabamba, do reggateon, do espanhol, do sanduíche trancapecho das islas, das pessoas... Coisa estranha essa é sentir saudade...