Nuestra Señora de La Paz

Postado por Babi Silva , quarta-feira, 16 de dezembro de 2009 12:03

A típica correria de final de ano me assombrou e não tive muito tempo de atualizar o blog nas ultimas semanas. Porém, no final do mês de Novembro e inicio de Dezembro fiz uma das viagens mais significativas pela Bolivia que fiz até agora e por isso vou puxar da memória e contar um pouquinho minhas aventuras em La Paz.

Visita Relâmpago à La Paz.
Estava super ansiosa para conhecer La Paz. Apesar de todos os avisos sobre o “mal da altitude”, não podia perder a oportunidade de conhecer a capital da Bolivia. Além disso, seria a primeira vez que iria viajar por ônibus na Bolivia...

A informalidade predomina na Bolivia. Até na hora de comprar passagem, a negociação (pechincha) é o que prevalece. O valor da passagem pode variar de acordo com o horário, o dia e seu ânimo na hora de negociar. Existem pelo menos 3 empresas e vários tipos de ônibus de Cochabamba para La Paz. Como ia viajar sozinha e era minha primeira vez, não pensei em economizar. Escolhi a empresa e o tipo de ônibus mais caros, na esperança de ter uma viagem mais tranqüila. Escolhi o Buscama, nosso Semi leito, da empresa Trans Copacabana. Mesmo assim, consegui baixar o preço de 90 para 60 bolivianos, menos de 20 reais =) .

E lá fui eu para o buscama. Dois andares e bonitão, pelo menos por fora. Quando entrei a primeira surpresa, além de parecer que nunca tinha sido lavado por dentro, o banheiro estava trancado e depois percebi que o ar condicionado também não funcionava. Água? Tinha até o compartimento próprio, mas estava vazio. Só me restou comprar água de um dos 20 ambulantes que entraram no ônibus gritando e vendendo inúmeras coisas. De lanterna que não precisa de pilhas para funcionar, até frango frito. Percebi que a água mineral é mais cara que a Coca-Cola até comprando de ambulantes. A garrafinha de 500ml de Coca-Cola custa 2,50 bolivianos, enquanto a garrafinha de água não sai por menos de 3 Bs. Ainda assim, estava bastante animada. Assim que o ônibus começou a andar, várias pessoas começaram a cobrir o chão com panos coloridos e deitaram ali mesmo, no corredor do ônibus. Três horas depois de muitas curvas e estrada estreita, fizemos a primeira parada.  Era uma pequena casa, onde haviam ambulantes vendendo sanduíches na porta. Procurei pela indicação de “Baño” parecia um labirinto, completamente escuro. Mesmo assim, decidi continuar seguindo as pessoas pra ver onde iria chegar. Depois de muitas curvas e longos corredores  cheguei numa portinha, paguei 1 boliviano e entrei. Havia buracos no chão e tambores de água. As pessoas pegavam baldinhos que estavam no chão, enchiam de água e entravam na casinha de madeira que tinha um buraco no chão, que seria o banheiro... Voltei para o Buscama e tentei dormir...

Oito horas depois do inicio da viagem, já com os primeiros raios de sol, cheguei à cidade de Nuestra Señora de La Paz. A incrível cordilheira dos Andes e seu gelo eterno, encheram meus olhos.  Desci do ônibus e percebi quão quentinho estava la dentro.  Minha cabeça estava doendo e não conseguia respirar direito... “ih, é o mal da altitude me atacando”, pensei.  Resolvi tomar um desayuno no terminal rodoviário mesmo e fiquei imensamente feliz quando vi que tinha chá de coca. Bom e velho companheiro para minimizar os males da altitude... Em pouquíssimos minutos estava pronta para começar minha expedição por La Paz. Tinha contatos de algumas pessoas de La Paz, mas só as encontraria na parte da tarde.

Resolvi então, conhecer  um pouco mais  a cidade sozinha mesmo. Peguei uma van e perguntei se iria pra Praça Principal (sempre é o melhor ponto turístico nas cidades da Bolivia), poucos minutos depois de subir à van, vi uma linda catedral e resolvi descer ali mesmo. Era a Basílica de San Francisco e logo reconheci um dos principais cartões postais de La Paz. A Basílica é grandiosa e muito linda. Junto a ela, dezenas de campesinos  ambulantes, vendendo tudo que é possível imaginar. Algumas crianças com rostos cobertos engraxavam  os sapatos dos transeuntes, logo percebi que por toda cidade é bem comum ver essas crianças com toca negra cobrindo todo o rosto, oferecendo seus serviços de engraxate por 5 bolivianos.
Segui caminhada e logo cheguei ao “Prado”, uma avenida cheia de cafés, teatros e museus. La Paz, assim como Cochabamba, também possui lindas praças e jardins floridos por toda parte... Entrei em uma agencia de turismo e lembrei-me do passeio por ônibus tour, que o Pablo tinha me dito que era ótimo. Resolvi arriscar. Nunca fui adepta a esses passeios, mas já que estava sozinha e não tinha feito meu dever de casa para saber os principais pontos turísticos, resolvi arriscar. Havia duas rotas (centro da cidade e Zona Sur). Resolvi ir pela Zona Sur, que é a zona baixa de La Paz que tem 2.500 metros de altitude. Realmente baixa, comparando-se aos 3.600 metros de altitude do restante da cidade.

“E a sua direita a casa presidencial”, ouvia pelo fonezinho, sentada no segundo andar do ônibus enquanto admirava a linda cidade. Uma coisa que me chamou a atenção foram as residências paceñas. A grande maioria delas não são pintadas e ficam aglomeradas nas serras da cidade... Às vezes , até se confundem com a cor amarronzada das montanhas. Parecem centenas de caixinhas grudadas nas serras.  Quarenta minutos depois do inicio do passeio, o ônibus para no parque do “Valle de La Luna”, um dos lugares mais incríveis que eu conheci na Bolivia até agora. Valeu a pena pagar os 15 bolivianos para entrar no parque. O Vale tem formações rochosas que lembram o solo lunar, daí o nome. Grandes estalagmites de várias cores que criam incríveis ilusões de ótica. Ficaria ali por horas se fosse possível, mas os 30 minutos da parada passaram sem eu sentir e logo ouvi o ônibus ligando seu motor e buzinando pra mim. Sai correndo e por pouco não perco o ônibus tour.

Depois do passeio, ainda tinha algumas horas antes do horário marcado para encontrar a galera. Voltei ao prado para almoçar. Dentre as opções de pollos e Burguer King, escolhi experimentar a comida em uma Chifa (mistura de comida chinesa e comida típica da cidade).  Logo depois fui para a PUC, a maior universidade da Bolivia, encontrar alguns membros da AIESEC. Depois da reunião fomos a um café e nessa altura do campeonato já estava cansada demais pra pensar em balada. Poderia voltar domingo pela manhã, mas decidi voltar no sábado a noite mesmo.  Na volta fiquei com preguiça de estudar as opções de empresas e tipos de ônibus. Acabei aceitando a primeira oferta de um dos ambulantes que vendiam passagens para Cochabamba por 30 bolivianos (menos de 10 reais) num buscama. Doce ilusão, porque de buscama mesmo só tinha o nome. Ah saudade do Trans Copacabana... Nossos ônibus convencionais seriam vendidos como luxo por ali... Cadeiras imundas que não inclinavam, banheiro trancado, sem água , pelo menos a janela abria pra entrar um ventinho, pessoas deitadas no chão... Estava tão cansada que nem me incomodei tanto com isso... Dez horas depois, fui despertada pelos gritos dos ambulantes que subiram na chegada do ônibus para tentar vender passagens para aqueles que seguiriam viagem até Santa Cruz de La Sierra. Pronto, doce Cochabamba...

Viagem rápida, mas bem marcante. La Paz possui inúmeras opções de turismo. Ainda voltarei para conhecer a pista natural de esqui mais alta do mundo: Chalcataya (5.300m de altura), o templo de Tiwanaku, o Lago Titicaca,  Los Yungas dentre outros. Enquanto isso, aproveito a mini visita de volta ao Brasil... Em breve mais novidades sobre meu pseudo retorno ao lar.


Terminal Rodoviário de La Paz

Catedral de São Francisco



Campesinos na porta da Catedral


Tradição e modernidade andam juntos - Campesinos no Prado


Valle de La Luna

Bárbara Cocha

Postado por Babi Silva , sábado, 14 de novembro de 2009 03:20

Eu, Bárbara Regina Coelho Silva, estou fazendo meu intercâmbio em Cochabamba na Bolívia, desde o dia 14 de Setembro de 2009. Estou aqui há 60 dias e vou ficar até fins de Março de 2010, no mínimo.

Alguns amigos me chamam de Bá, outros de Babi, durante a infância de Binha, no trabalho, por vezes, sou reconhecida como Bárbara Coelho, Bárbara Silva ou simplesmente Bárbara.
Bárbara que possui lembranças. Lembranças de infância, adolescência, escola, faculdade, amigos, família, amores, trabalho...

Lembro-me docemente de minha infância, a incrível infância da década de 80. Quando brincava com meu irmão, amigos e primos. Quando imaginava que a sala de estar da minha casa era na verdade, uma imensa selva cheia de aventuras e fazíamos grandes barracas com o cobertor da mamãe. Lembro que brincava de casinha com os bonecos do “Comandos em Ação” dos meus primos. Lembro-me de passar 2, 3 noites em claro tentando zerar SONIC 2 e passávamos horas decifrando as passagens secretas e encontrando vidas extras. Lembro-me de acordar ouvindo a Xuxa cantar, “quem quer pão, quem quer pão” e tomar café com ela, que tinha bandejas cheias de frutas, sucos e croissants enquanto eu, tinha meu delicioso pãozinho com manteiga e café com leite. Lembro-me das músicas e danças do Trem da Alegria, Balão Mágico(ta, sou velha mesmo e daí?!), dos coleguinhas de escola, do castelinho mágico que meu pai fez e que meu irmão e eu pintamos e decoramos com toda alegria. De passar as férias lendo revistinha em quadrinhos da Turma da Mônica. Não me lembro muito bem como conheci minha primeira melhor amiga, a Lívia, mas lembro de muitas, muitas aventuras que vivemos, das nossas brigas, choros e sorrisos e das nossas tantas conversas que, hoje estão mais raras, porém tão especiais quanto antes.


Lembro-me com alegria da mudança da capital para o interior de Minas. A descoberta da natureza e como ela é tão barata, farta e saudável. Descobri que verduras e frutas não vêm dos supermercados e sim da terra. Descobri que poderia ter bichos de estimação e que não precisaria me limitar aos cachorrinhos doentes, que teimava em escolher no Mercado Central e que não duravam nem 15 dias. Tive coelhos, ramsters, porquinhos da Índia, galinhas, gansos, perus, patos, gatos e também cachorros de estimação. Lembro-me dos medos, descobertas, amizades, inseguranças, aventuras e mudanças da adolescência. O primeiro beijo, o primeiro namorado, a primeira “nossa música”. Lembro-me do retorno duro para a “cidade grande”. Dos novos amigos do colégio.  Depois o primeiro emprego, o primeiro chefe, o primeiro salário, o primeiro “bem” comprado com o próprio dinheiro. A faculdade, os amigos da faculdade, as aventuras e descobertas da faculdade.

 Lembro-me das coisas boas e ruins. Conheço bem a minha história, minhas experiências e estou acostumada a ter pessoas ao meu redor que as conhecem também. Conheço (até certo ponto) meus defeitos, minhas qualidades, meus limites. Será??? Bom, conheço o que julgo que conheço. Da mesma maneira que as pessoas que convivem comigo também julgam me conhecer e agem a partir desse conhecimento prévio da minha história e das experiências que viveram comigo.

E agora no intercâmbio?


Ninguém me conhece. Ninguém sabe minha historia, minhas lembranças, às vezes nem meu idioma. Minhas expressões tão comuns em “minha terra” e que explicam uma situação ou sentimento em poucas palavras, são incompreendidas, quando não são ignoradas, por aqui.

Há algum tempo venho analisando sobre o que é a experiência de intercâmbio e em uma conversa despretensiosa, enquanto caminhava pelas ruas de Buenos Aires com James e Laís, começamos expressar um pouco nossas profundas análises.

Intercâmbio é a oportunidade que temos de “nascer” de novo. Criar e experimentar um novo EU.  Não sou mais a Maria que sempre foi tímida, a Joana que sempre falou demais, o José que nunca tirou notas boas na escola ou o Renato reconhecido como o “chato” da turma.

Durante o intercâmbio, podemos experimentar uma nova maneira de ser, sem sermos julgados ou sem ter medo de sermos julgados. E assim, podemos encontrar o nosso verdadeiro EU que estava lá dentro escondido e que não saía por medo e/ou por pré-conceitos estabelecidos por nossos amigos, familiares e colegas. Também pode acontecer de percebemos que o nosso antigo EU, é realmente o EU verdadeiro e vai prevalecer onde quer que estejamos. Porém, é a chance que temos de experimentar novos EUs e isso torna o intercâmbio uma incrível experiência de auto-descoberta.

Ao mesmo tempo, passamos a viver a história e a cultura de outras pessoas.  Semana passada, durante uma festinha na casa de um amigo daqui, lá pelas tantas, todos começaram a lembrar das coisas boas de infância... Das músicas que todas as crianças gostavam, dos programas de TV, das personagens, desenhos, das brincadeiras tão comuns entre eles e tão novos pra mim.

Eu, Bárbara Silva, lá das Minas Gerais do Brasil, comecei a relembrar danças, músicas, brincadeiras e histórias que eu não vivi. Eu, Bárbara Silva, me transformei em Bárbara Cocha, com lembranças e histórias de uma infância que não são minhas.

Há Sessenta dias, viajei para o Exterior do Brasil e encontrei meu Interior. Hoje valorizo minha história e percebo como cada experiência foi importante para criar a Bárbara que sou hoje. Porém, agora também me permito mesclar meu EU com outros EUs, com outras histórias e culturas.  A Bárbara com toda sua essência e valores continua lá, mas agora o sobrenome Cochabamba virá agregando, não só conhecimento, mas experiências e descobertas da Bárbara em outra cultura.

Um intercâmbio muda pensamentos, conceitos, planos, projetos e às vezes, até sobrenome, que pode não ser o oficial no passaporte ou RG, mas é o mais verdadeiro no momento.

Carinhosamente,
Bárbara Cocha


Foto tirada no meu Trainee Shower.Como um chá de Bebê, mas feito para intercâmbistas. Afinal, nem tudo dá para trazer na mala né.

Tempestade no La Plata

Postado por Babi Silva , terça-feira, 3 de novembro de 2009 03:26



Um gato preto cruzou o nosso caminho, quando estávamos indo em direção ao Buque (tipo de barco) que iria cruzar o Rio La Plata e nos levar de volta à Buenos Aires. Não sou supersticiosa, mas a maneira como, de repente, do nada, num lugar como aquele, aparece um gato completamente negro e cruza nosso caminho, unido ao grito de espanto de algumas pessoas, fez com que temores cruzassem meus pensamentos. Claro que pouco tempo depois, com a empolgação em ficar relembrando as boas surpresas da viagem, logo todos esqueceram o episódio do gato.

Quando chegamos ao barco, o tempo começou a virar. Embarcamos em meio à ventos fortes e trovoadas, ainda não chovia. Enquanto esperávamos o barco sair, nos divertíamos relembrando historias, contando causos e conversando. De repente, o capitão pede atenção e explica que, por causa da tempestade, poderíamos ter que passar a noite no barco, ele disse que esperaria mais 2 horas para ver se a tempestade melhorava. A galera adorou a possibilidade de passar a noite no barco. A partir daí, o barco se tornou nossa casa. 
A Natalia, presidente eleita da AIESEC BH para a gestão 2010, aproveitou para ensinar aos membros um pouco mais sobre Branding Experience da AIESEC. Tati pegou a câmera de Marcelo e começou a fazer um videozinho sobre nosso momento tenso/ansioso de esperar pra ver o que acontecia.Eu e Olivia aproveitamos para assistir o filme que estava passando. O filme me inspirou e peguei o meu diário de viagem para escrever um pouco.

Algum tempo depois, o barco liga o motor e se prepara pra sair.

Perai, a tempestade ainda não passou? Tá doido, capitão?! A tempestade ainda ta muito forte! Todos se entreolharam assustados e voltaram aos seus lugares. Um dos meninos grita: “Ai, o gato preto!!! Agora estamos ferrados!” A partir daí começou uma das viagens mais emocionantes da minha vida.
Para tentar relaxar, continuei escrevendo em meu diário todas as emoções e  percepções do momento. Abaixo minhas palavras:

Chove lá fora. Estamos presos no barco esperando a tempestade passar.

Está passando o filme, “Antes de Partir”. Nossa, não teria título melhor para um momento como esse... Antes de partir: Dois homens com câncer terminal decidem viajar pelo mundo, realizando os últimos desejos de sua vida. Viajar pelo mundo fazendo tudo que sempre quiseram. O que eu busco em meu intercâmbio? Porque estou aqui agora, tão longe de casa? Será o desejo de conhecer o mundo realizando todos os meus sonhos? Quantos sonhos...

Amanhã meu vôo de volta pra Bolívia sai às 8:00 da manhã. Se ficar a noite toda aqui no barco irei perdê-lo e serei obrigada há ficar mais tempo na Argentina. Será um aviso do destino? Talvez a oportunidade de viver um pouco mais Buenos Aires e conhecer lugares que ainda não conheci...
O barco liga o motor em sinal de que vai sair, mesmo com o tempo muito ruim.

Ai o gato preto... ele não sai da minha cabeça...
As comissárias de bordo começam a distribuir saquinhos de vômito para todos os passageiros. Todos, com olhares apreensivos pegam 1,2, 3 saquinhos, já prevendo o que poderia vir.
O barco começa a navegar. Um burburinho forte começa. Olho para os lados e o que vejo são olhares apreensivos. TODOS, não importa de onde vêm, sua historia, se são amigos ou desconhecidos. Todos comungam um mesmo olhar.

Uma turma de jovens mulheres conversam animadas, com risadas nervosas, tentando espantar o medo. Uma das comissárias sorri e diz a elas: Isso, mantenham o humor, vai dar tudo certo.

Olho pra TV e o  filme está parado. Cena paralisada do filme: Morgan Freeman (um dos homens com câncer) está deitado na cama do hospital com a mão estendida para Jack Nicholson (o amigo que também tem câncer). Os dois estão na mesma situação e mesmo assim, ele estende o braço em sinal de socorro e pedindo apoio ao amigo. Nós estamos no mesmo barco, com olhares apreensivos como que pedindo apoio uns aos outros.

A luz apaga, burburinhos aumentam, a luz acende... O barco balança muito, não dá pra ficar de pé...
Tati grita tentando animar a galera: Natália, você não queria uma montanha russa? Aí está!
Natália nem se move. Está com os olhos fechados desde que saímos. Como quem fecha o olho na Montanha Russa querendo que a brincadeira acabe logo.

Já temos uns 20 minutos de viagem. Um dos passageiros pergunta: Por que o filme parou?
O barco continua balançando muito. Olho para os lados e agora todos estão de olhos fechados.
Depois de tanto reclamar, o senhor tem seu filme de volta. Porém, ele está começando de novo.

Queria que fosse dia pra poder ver as ondas batendo contra o barco. Será uma imagem bonita?
Agradeço a Deus por ser noite e só sentir as ondas batendo contra o barco. Dá pra sentir as ondas batendo nas janelas bem ao nosso lado.  Acho que não iria gostar de ver essa cena...

Estou tremendo. Não sei se de medo ou se por causa do ar que ficou mais frio.
Pergunto a um dos comissários e ele diz que é para que as pessoas não passem mal...
Não passem mal? Como assim? Olho novamente para os lados e muitos já estão passando mal... o burburinho está diminuindo... Mas o balanço continua forte.

Já se passaram uns 50 min. Fui até o banco próximo de alguns dos meninos pra ver como estavam. Todos de olhos fechados. Matheus tenta se distrair conversando com a Tati. Muitos dos outros já passaram mal e a cada minuto mais um passa mal.
Quando começam a se sentir mal levantam a mão e o comissário logo trás um lenço úmido e coloca na testa. Marinninha pergunta pra que serve. Não sei, respondo, mas deve servir de algo, pois todos estão fazendo o mesmo.

Olho novamente para os lados e agora vejo a maioria dos passageiros com o lenço umedecido na testa. Lenços brancos. Como se fosse um pedido de desistência, uma bandeira branca pedindo rendição. Pedindo clemência e paz ao Deus Netuno.
Deus Netuno está mesmo furioso e continuamos a turbulenta viagem.

Agora o burburinho dá lugar ao silêncio. Só ouvimos o motor do barco, as respirações ofegantes em meio à pessoas passando mal.

Mais algum tempo, talvez 30 min, 1 hora. Não sei ao certo... O barco começa a diminuir a velocidade...

Todos levantam as cabeças tentando, em vão, ver além da escuridão das janelas. Os comissários sorriem satisfeitos. Chegamos.

Aventuras no Uruguai

Postado por Babi Silva , sexta-feira, 30 de outubro de 2009 01:11

Já que estávamos em Buenos Aires, aproveitamos para dar um pulinho no Uruguai. Uma viagem de apenas 1 hora, por buque (um tipo de barco) pelo Rio La Plata, que mais parece o mar e pronto, pisamos em terras Uruguaias. Destino inicial: Colonia del Sacramento, fundada no século XI, é um vilarejo tombado pelo Patrimônio Histórico da Humanidade. Conhecida localmente como “Manzanas de la Discordia” (Maçã da discórdia) ou “Madre de Las ciudades” por ter sido a primeira “terra” a ser pisada pelos portugueses no Uruguai e palco de séculos de disputas entre portugueses e espanhóis.


Depois de uma correria danada para chegarmos a tempo de pegar um ônibus para Montevidéo, alguém dá a brilhante idéia: “Que tal alugarmos um carro?” . A idéia que, inicialmente parecia um devaneio sem sentido, começou a reverberar em nossas cabeças... Por que não alugar um carro? Natália saiu correndo e já foi perguntando pra Tati: “Tati, que tal alugar um carro?” . Pronto, a empolgação da Tati contagiou a todos e depois de algumas negociações e muita conversa, lá estávamos nós, dentro do “Litlle Blue”, rumo à Montevidéo. 





Era uma van que comportava 09 pessoas, toda plotada com propaganda e fotos de Uruguai. Depois de algumas fotos em frente ao novo “companheiro de viagem” e um cd perdido dentro do som da van, seguimos viagem e 2 horas depois estávamos em Montevideo. Os membros da AIESEC de lá, já estavam nos esperando. Conhecemos o pessoal durante a conferencia da AIESEC em Buenos Aires e eles logo foram se disponibilizando em nos recepcionar, nos alojar em casas de alguns dos membros (aeeê) e nos mostrar as maravilhas do Uruguai.


Na noite que chegamos, fomos a uma Salsa Uruguaia. Brasileiro quando sai do Brasil quer logo aprender a dançar o ritmo latino e acha que todo lugar tem salsa, merengue, essas coisas. Então eles fizeram o que queríamos, nos levaram pra dançar salsa. Depois descobrimos que não é tão comum dançar salsa em Montevideo e o “Boliche” (Boate) que fomos chamado Savache, é frequentado por alunos de salsa. No inicio ficamos vendo aquela galera dançando salsa como se fosse num show de performance, mas depois que o “show” acabou, o lugar se tornou uma casa noturna como qualquer outra do Brasil. Aliás, diferente, porque tocou mais musicas brasileiras do que no Brasil. Pude relembrar velhos sucessos como, “É o Tchan”,”Boquinha da Garrafa” dentre outros  maravilhosos.

No dia seguinte pegamos o “Litlle Blue” com destino à Punta Del Leste. Que lugar mais bonito... fotos, praia, fotos, La Mano, fotos, pegamos pôr-dos-sol na cidade de Piriápolis que tem o famoso Pan de Azucar (qualquer semelhança não é mera coincidência), mais fotos e então voltamos para Montevideo onde tinha uma festinha de recepção da AIESEC Montevidéo. O povo bacana viu... nos acompanharam em todos os passeios. No dia seguinte da festa, nos levaram pra conhecer a cidade de Montevidéo e comer o famoso churrasco uruguaio. Depois do almoço voltamos para Colonia. Conhecemos melhor o pequeno e romântico vilarejo, que também entrou na lista de cidades que eu gostaria de morar pelas belas praias, ruínas históricas e tranqüilidade.



Saldo da viagem ao Uruguai:



- Conheci lindos lugares e praias.
- Fiz novos amigos.
- Aprendi a fazer conversão rapidamente em 4 tipos de moedas, pois podíamos comprar qualquer coisa utilizando pesos Argentinos, Uruguaios, Dólar e até Real. Enchemos o tanque da van utilizando as 4 moedas.
- Quebrei minha câmera fotográfica na noite de salsa =(
- Realizei o sonho de alugar um carro e viajar com amigos conhecendo novos lugares =)
- Sobrevivi a uma tempestade em alto mar, ops alto rio. rsrsrs...




Que Buenos Aires

Postado por Babi Silva , quinta-feira, 29 de outubro de 2009 14:11





Vivo e trabalho na Calle Buenos Aires. Minha chefe é uma médica Argentina de Buenos Aires e recebi um convite para participar de uma conferencia da AIESEC, em Buenos Aires. É... algo me dizia que isso era um sinal de sorte.

Apesar de nunca ter pensado em viajar para Argentina no meio do meu intercâmbio e muito menos ter me planejado, acabei resolvendo ir. Normalmente faria uma big pesquisa sobre o país e as cidades que gostaria de conhecer pela internet,  pegaria mapas, faria um roteiro de lugares pra conhecer, planejaria durante semanas o que levar ou não levar. Pesquisaria o melhor lugar pra dormir, levando em consideração o melhor custo beneficio. Porém, dessa vez não fiz nada disso. Adiantei ao máximo meu trabalho, comprei minha passagem 1 dia antes da viagem e arrumei minha mala horas antes de viajar. Quando se está em outro país, não se tem tanta coisa assim para arrumar. Nunca foi tão fácil fazer as malas.

Além da possibilidade de conhecer outro país, participar de uma conferencia internacional e conhecer novas pessoas, o que mais me motivou a fazer a viagem foi a possibilidade de rever 20 membros da AIESEC BH. Pessoas queridas, que foram imensamente importantes em minha vida nos últimos meses. 20 brasileiros se aventurando em terras portenhas.  Isso sim, me animava muito.

No vôo para Buenos Aires, meu coração batia forte. Senti uma ansiedade imensa, ficava contando os minutos pra chegar logo. Era como se estivesse voltando pra casa. Estranho sentir essa sensação de lar indo para um lugar desconhecido.  Acho que pra sempre Buenos Aires vai me trazer essa sensação de aconchego. 

Foram 9 dias convivendo intensamente com essas pessoas. Matando a saudade de falar mineirês, de saber dos causos e novidades de BH.

Por causa dessa vontade de matar um pouco a saudade, acabei não mergulhando muito na cultura Argentina. Apesar disso, tentei aproveitar o “turismo” durante a viagem e fazer isso com a galera foi bom demais da conta. Me senti fazendo aquelas excursões escolares de final de ano, mas organizar uma tchurma de 20 pessoas não foi coisa fácil. Levávamos horas decidindo o que e para onde irmos. Ao final, formamos pequenos grupos e cada um se aventurou à sua maneira.

Os primeiros 3 dias foram dedicados à Conferencia da AIESEC. Era a Conferência da região do Cono Sur (Argentina, Chile e Uruguai). Fizemos uma delegação de 21 pessoas da AIESEC BH, uma invasão, levando em consideração que cada cidade levava em média 10 pessoas. Todos perguntavam o que tantos brasileiros estavam fazendo ali.
 Nas Conferências da AIESEC temos palestras com profissionais e executivos de grandes empresas locais, nacionais e até internacionais. Aprendemos mais sobre negociação, liderança, gestão de equipe, vendas etc. Também aprendemos um pouco sobre as diversas áreas e oportunidades que a AIESEC oferece.  Além de ser uma ótima oportunidade de se fazer network, pois há pessoas dos mais diversos segmentos e países. Mais uma experiência de abertura de horizonte. Sai da conferência cheia de novos amigos, idéias e novas perspectivas para implementar em meu trabalho e para meu futuro também.

Já como turista, fui a lugares como Plaza Mayo, Casa Rosada, Puerto Madero, Café Tortoni (um café que existe há 150 anos), Caminito entre outros. Claro que fui ao Tango também e me encantou ver pessoas dançando Tango pelas ruas. Claro que é pra Turista ver e cobram 10 pesos pra tirar foto com eles. Aproveitei também para ir ao cabeleireiro. Ai que medo de ficar com corte estilo poodle, mas no final até que ficou bom.   Buenos Aires é uma cidade linda e já entrou na minha lista de cidades onde quero morar. O custo de vida é bem em conta. Só foi difícil se adaptar ao espanhol Portenho e estranhei um pouco também os táxis com taxímetro. Senti falta dos baixos preços das corridas de táxi daqui de Cochabamba.
E de repente ouço uma música que ilustra bem minha semana:

Clique para ouvir - En todas partes - Habana Blues




Eu tenho diabetes.

Postado por Babi Silva , quarta-feira, 7 de outubro de 2009 01:13






Diabetes mellitus  ou  apenas Diabetes é uma doença metabólica caracterizada por um aumento anormal da glicose ou açúcar no sangue. A glicose é a principal fonte de energia do organismo, mas quando em excesso, pode trazer várias complicações à saúde.
Apesar de não ter cura, uma pessoa diabética pode viver por vários e vários anos com a doença, desde que faça um tratamento adequado e controle sistematicamente a quantidade de glicose no sangue. Se não for tratada adequadamente, além de matar, a diabetes pode causar doenças e complicações como, infarto, derrame cerebral, insuficiência renal, cegueira, lesões de difícil cicatrização, amputações de membros do corpo dentre muitas outras.
Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 240 milhões de pessoas sejam diabéticas em todo o mundo, o que significa que 6% da população tem diabetes e segundo uma projeção internacional, a população de diabéticos pode aumentar em mais de 50% até 2025.
Existem 2 tipos principais de diabetes:
O tipo 1 – Onde o corpo não produz insulina. A doença tende a aparecer em jovens de até 30 anos e, geralmente tem origem genética, onde o  estilo de vida também influi.
O tipo 2 – Onde o corpo tem uma resistência à insulina natural. Há o mal funcionamento ou diminuição dos receptores de glicose das células do corpo. Geralmente aparece em pessoas de idade avançada e está muito ligada ao estilo de vida e hábitos alimentares.


Bom, há quase 1 mês, eu sou diabética do tipo 3
Assim são chamadas as pessoas que moram ou convivem muito com pessoas diabéticas. Um diabético tem sua vida alimentar completamente controlada, mudando o hábito de vida, de todos aqueles que convivem com ele.
Vim para Bolívia, trabalhar na Fundación Vida Plena, especializada em diabetes. A fundação é da médica argentina Patricia Blanco, que é diabética do tipo 1 há mais de 25 anos e decidiu dedicar sua vida, energia e também dinheiro a dar suporte às pessoas que não tem acesso e nem condições de controlarem bem a diabetes.
Moro e trabalho na Fundación. Então, acabei me adaptando à vida da Doutora. Produtos dietéticos, alimentação balanceada e com horários controlados agora fazem parte da minha rotina. Isso está sendo muito bom pra minha saúde.


A Fundación Vida Plena é um Ashoka Felow há mais de 10 anos e sempre cria projetos sociais que ajudam a melhorar a qualidade de vida das pessoas aqui da Bolívia. A Ashoka e a Artemísia são parceiras da AIESEC e financiam a vinda de jovens profissionais AIESECos, para o desenvolvimento de empreendimentos sociais. Foi assim que eu vim parar aqui.
Em pouco mais de 4 anos de parceria com a AIESEC, mais de 5 intercambistas vieram ajudar a Fundação a realizar empreendimentos sociais. Atualmente, eu trabalho com Alonso, um intercâmbista  da AIESEC Peru, em um projeto de um laboratório móvel, que irá levar educação, tratamento e prevenção de diabetes à comunidades de classe baixa e zonas rurais em todo o país. Várias pessoas morrem por não saberem que possuem diabetes e quando sabem, não recebem orientação nem tratamento adequados, diminuindo muito sua qualidade de vida por causas das complicações que a diabetes trás.

Semana passada, participei da organização de um acampamento nacional da Rede Boliviana de Jovens Diabéticos. O objetivo dessa conferencia é desenvolver o potencial de liderança desses jovens para que eles possam ser multiplicadores no tratamento e na qualidade de vida de outros jovens diabéticos de suas comunidades.


Foi uma experiência que mudou minha vida. Convivi por 3 dias com jovens diabéticos de toda parte da Bolívia. Fiz amigos e agora tenho companhia para conhecer muitas partes da Bolívia que quero conhecer.

Jovens que gostam de se divertir, cantar, dançar, até ensinei a eles a sambar, dançar forró, e dançar alguns rollcalls da AIESEC. Eles amaram e ficavam me pedindo que colocasse de novo. Claro que os médicos presentes ficavam controlando a quantidade de exercícios para evitar hipoglicemias.
São jovens que contam histórias de como já estiveram várias vezes, bem próximos da morte com uma tranqüilidade emocionante. Jovens que, apesar de conviverem com a morte, possuem sonhos como qualquer jovem. Buscam se desenvolver e mais que isso, buscam ser agentes de mudança nas comunidades em que vivem.
Jovens que, além de se ocuparem com tudo que qualquer jovem se ocupa como estudo, trabalho, família, amigos, namoros, precisam se preocupar com detalhes, que nós nem imaginamos. Como por exemplo, como meu corpo está absorvendo isso que estou comendo agora? Será que tenho insulina suficiente para comer esse pedaço de pizza com meus amigos? Até que horas posso ficar na balada, tomando uma cervejinha sem precisar de insulina? Tenho insulina suficiente para dormir até mais tarde hoje? Porque se comem demais ou de menos ou se calculam mal a quantidade de insulina que seu corpo precisa, podem morrer. De tempos em tempos medem a quantidade de insulina no corpo com um aparelho que se chama glucômetro e, dependendo do resultado, precisam comer (mesmo sem fome) ou injetar insulina no sangue.

Durante 3 dias aprendi, vivi um pouco do cotidiano deles, muito mais intensamente do que costumo viver só com a doutora. Aprendi um pouco mais como respeitar meu corpo e me alimentar equilibradamente. Contar quantos carboidratos possuem uma alimentação, quanto de cada tipo de alimento meu corpo precisa diariamente para funcionar bem. Passei a ver o alimento como algo necessário à vida e não como um capricho do gosto.
A diabetes pode aparecer em qualquer pessoa. Conheci jovens que possuem diabetes desde tinham 4, 5 anos até jovens da minha idade que adquiriram a pouco mais de 1 mês e estão se adaptando ainda ao novo estilo de vida.
Adquirir... soa como uma aquisição que buscamos ter. Como evitar isso? Como o câncer, há muitas especulações e poucas certezas sobre a real causa da diabetes. O único que se sabe é que a genética e a qualidade de vida podem estar ligados à fatores de risco.
Essa experiência realmente está mudando minha maneira de ver o mundo. Já não bastasse estar vivendo o intercambio e a nova cultura, também estou vivendo uma nova realidade e isso está me fazendo valorizar ainda mais tudo que tenho e sou.
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Turista em Cochabamba?

Postado por Babi Silva , segunda-feira, 28 de setembro de 2009 01:12

Já estou em Cochabamba a pouco mais de 10 dias. 

É estranho, mas ainda me sinto uma turista. Parece que minha ficha ainda não caiu e me sinto como se estivesse passando férias na Bolívia. Pelo menos tento aproveitar tudo como se eu fosse ir embora amanhã. A altura já não incomoda mais, apesar de sentir o ar bem seco e ainda ser difícil respirar durante a tarde por causa do ar quente que entra machucando o nariz. Estamos entrando na primavera e o clima varia entre 23 a 27 graus durante o dia e entre 17 a 23 graus durante a noite. É um bom clima pra se viver...





Fiz minha 1ª apresentação cultural sobre o Brasil na semana passada. Foi durante a reunião semanal do comitê local da AIESEC Cochabamba. Apresentei um vídeo e trouxe alguns “regalos” para os chicos. Trouxe postais, revistas, informativos e claro, a cachaça.

Quando disse que tinha trazido cachaça, alguns logo disseram: “Conheço cachaça brasileira. O nome dela era 51”. Na mesma hora já vem a lembrança (ou a falta dela) da minha festa de despedida. Logo digo: “Não! Trouxe cachaça mesmo. De verdade. Da boa!”. A cachaça 51 aqui é bem famosa. TODAS as cachaças brasileiras que vi aqui são 51... Algo me diz que isso é coisa do destino...


Olha a fila de desgustação de cachaça abaixo:


 


Encontrei um local pra morar. Depois que passei 2 dias na casa bonita, me mudei para a sala de estar do meu trabalho. 
Procurei vários lugares e, ou eram longes e baratos ou próximos ao trabalho e caros. Quando consegui um quarto, numa casa de brasileiras mais ou menos dentro da minha expectativa, minha chefe, a doutora que é dona da Fundação onde trabalho, disse que estava programando alugar um quarto que fica em anexo à fundação. Como não queria morar com brasileiros, logo perguntei o preço e era mais barato do que eu esperava. O único problema é que o outro trainee do Peru, que também trabalha na Fundação, já estava ficando no quarto. O intercâmbio dele não é financiado como o meu. Então, no lugar do salário ele ganha comida e casa pra morar. A doutora me disse que precisava mudá-lo para outro quarto, pois estava precisando do dinheiro do aluguel. Pronto. Depois de 1 dia, me mudei para o quarto que fica a 10 passos de meu trabalho. A fundação funciona na casa da doutora, dona da fundação e por isso, durmo, faço minhas refeições e trabalho em um mesmo local. 
Outro lado bom é que o horário de trabalho tornou-se mais flexível. Leia-se: Trabalho FULL TIME com direito à reuniões no domingo a noite. Porém estou amando. O trabalho é apaixonante e o próximo post será dedicado à ele.
A parte ruim é que eu perdi os momentos de caminhada entre a casa e o trabalho, onde podia ver a paisagem, o transito louco, as pessoas na rua e podia caminhar pensando na vida. Tenho medo também, de enjoar em estar SEMPRE no mesmo ambiente, mas por enquanto, estou adorando. 
Depois de 1 semana foi ótimo poder desfazer minhas malas do Brasil. Percebi que mesmo tentando trazer só coisas úteis, trouxe muitas coisas que sei que não vou usar tão cedo. O melhor foi poder ter um cantinho só meu. Tem uma bandeira do Brasil pendurada na parede e várias fotos, de amigos, família e da AIESEC BH que estão na cabeceira da cama.

Sai poucas vezes. Só fui à um café chamado Dali, onde em todas as mesas os jovens ficam jogando “Cacho” um jogo de dados que é manina dos jovens de Cochabamba.
Fora isso, tenho ido mais à festinhas informais que acontecem nas casas de alguns amigos da AIESEC, onde jogamos Cacho ou vemos filmes.





Mais Impressões de Cochabamba:



- O transporte público é de uma informalidade que assusta, mas até que funciona. Não há empresas de ônibus e sim, donos de ônibus e linhas. Assim, cada um enfeita e dá um nome ao seu transporte. É um festival de criatividade. Não há pontos de ônibus. A gente para na esquina, faz o sinal com o braço e o ônibus pára. Na hora de descer é só gritar: “Baja en la esquina, por favor!”. O melhor é o preço: 1,50 bolivianos, menos que 50 centavos de real, cada viagem! Há também os TRUFIS, que são vans ou táxis que no lugar do adesivo do Batman, possuem placas sinalizadoras no alto do carro e fazem roteiros pré-estabelecidos (os mesmos intinerários dos ônibus). O preço neles também é de 1,50 Bolivianos.



- Apesar de menos enfeitados, os táxis daqui, como os de Santa Cruz, também não possuem taxímetro. O negócio é negociar o valor antes da viagem. Porém, se percebem que você é estrangeiro já dobram o preço. Bolivianos são bons negociadores e adoram pechinchar. Então a gente entra, pergunta o preço. Eles dizem 10 bolivianos, você responde 5 bolivianos e ao final sai por 7 bolivianos (2 reais). Essa é a média de preço que estou pagando por uma corrida de táxi. 


- Tenho a impressão de que vou voltar pão-dura para o Brasil. Viver aqui realmente é muito barato. Fiz uma compra básica para o mês, semana passada e saiu por 100 bolivianos, menos que 30 reais! Uma saída na night não te custa mais que 20 reais. Um almoço fora, em um bom lugar, sai por em torno de 10 reais. Se for num lugar mais popular sai em torno de 3 reais. Por isso há tantos brasileiros fazendo medicina por aqui. Ainda estou evitando fazer amigos brasileiros. Afinal, se quero ver brasileiro vou para o Brasil!


To be continued...

Cochabamba, Cidade Jardim

Postado por Babi Silva , sexta-feira, 18 de setembro de 2009 19:21




Bom, durante o vôo de Sta Cruz de La Sierra à Cochabamba, pude perceber os contrates. Primeiro voei durante muito tempo sobre kilometros e kilometros  de rios secos. Era quase que assustador ver rastros de algo que seria largos e compridos rios.



Depois começou a paisagem de montanhas. Muitas altas montanhas. E de repente, um grande vale com muitas casinhas lá embaixo. Pronto, cheguei à Vale de Cochabamba.


A cidade é linda, cercada de montanhas como minha Belo Horizonte. Cochabamba fica realmente em um vale, é plana e para todos os lados se vê as montanhas ao fundo. 
Quando desci do avião meu primeiro susto: Cadê minha mala!? Não estava na esteira. Fui até o senhor que desligou a esteira e arranhei um portuñol pra saber onde estava minha mala. Ele me indicou um balcão e surpresa, lá estava ela linda me esperando. Depois que peguei minha mala outro susto: Cadê  a plaquinha escrita AIESEC? Vixe, agora danou-se. Não sei para onde devo ir. Ligo para um número. Desligado. Ligo para o segundo numero que tenho. Não atende. Começo a me desesperar. Ligo para o 3º e último número que tenho.

Ufa, Mauricio atende. “Hola Barbara, como estás? Nosotros estamos llegando.” Ok. Aguardei um pouquinho e quando olho para o lado o que vejo. Não só uma plaquinha, mas uma enorme faixa da AIESEC. Ai que lindo! Quando chegamos do lado de fora do aeroporto havia uma caminhonete abarrotada de gente. Todos ali para me dar as boas vindas. Aeeeê, me senti em Sta Cruz novamente. Claro que tiramos a famosa foto coletiva antes de irmos almoçar.



Cochabamba é conhecida por seus jardins (realmente lindos) e por sua comida. Bom, minha primeira refeição em Cochabamba não foi nada típico. Comemos uma pizza. O que me chamou a atenção da pizza foi seu tamanho. Aqui tem o tamanho pequeno, médio, grande, gigante e interminável! Comemos a interminável que é quase interminável mesmo. Ainda bem que estávamos em 10 pessoas.
Depois fomos deixar minhas malas na casa que seria minha pelos próximos 2 dias.


 Uma casa onde vive 1 trainee da Dinamarca, o diretor de projetos da AIESEC Cochabamba, Pablo que também é o responsável por minha vinda até aqui e outro membro da AIESEC cochabamba. A casa tem 3 quartos, então não poderia ficar por lá muito tempo. Sim, não tenho casa pra morar. Tudo bem, penso nisso depois. Agora quero conhecer um pouco a cidade Jardim.
Cheguei  1 dia antes do aniversário da cidade (que sorte). As ruas estavam cheias de gente e havia muitos desfiles, como parada de 7 de Setembro, mas com a diferença que havia 1 desfile em  cada praça. Aqui tem muitas praças. Todas muito grandes e cheias de jardins. Não tenho fotos, pois esqueci de carregar a bateria da minha câmera. Ai meu amigo Murph...


Depois que vimos alguns desfiles e conhecemos algumas praças fomos em direção a La Cancha, um lugar conhecido por vender coisas típicas e coisas baratas. É uma mistura de Shopping Oi e Feira Hippie, mas é numa rua. Lá as coisas são ainda mais baratas que o normal. É possível comprar 3 dvds  de filme por 10Bs (3 reais).  Estava vendo algumas bandeirinhas e outras lembranças da Bolívia quando, de repente, minha vista começou a escurecer, fiquei enjoada e por pouco não cai. Sentei-me e todos vieram me ajudar. Diziam coisas que não conseguia entender por causa do enjôo. Entrei no taxi e fui pra casa.
Chegando a casa já me deram um chazinho... Pensei: Pô, eu aqui, quase morrendo e esse povo em vez de me levar ao médico me dá chazinho!  Sim, o milagroso chá de Coca. Passei mal por causa da altitude. Não deveria ter ido de avião, pois a mudança na altura foi brusca. Santa Cruz de La Sierra está a uns 500 metros de altitude e Cochabamba está a 2500 metros.  Por causa da altitude é difícil respirar. A gente respira, respira, mas parece que a quantidade de ar que entra não é suficiente, dá uma agonia imensa. Além disso, o ar daqui é muito seco, entra queimando e ferindo o nariz que, por vezes sangra por causa disso. A cabeça dói muito nos primeiros dias por causa da alta pressão. E se caminho um pouquinho mais rápido já fico tonta e sem ar.  Meu plano de entrar na academia está suspenso, por enquanto. Dizem que esses sintomas passam depois de uns 15 dias. Por enquanto, o chá de Coca é meu companheiro, pois alivia a dor de cabeça, parece que diminui a pressão e o vaporzinho que sai é bom para respirar.

Primeiras impressões de Cochabamba


- Uau... não é Rio, mas a cidade é maravilhosa. Cheia de jardins e praças bem cuidadas.
- Ah, tem o Cristo também. Dizem até que é maior que o Cristo do Rio (vou averiguar pessoalmente).
- Aqui tem um lugar chamado Copacabana, às margens do Lago Titicaca.
- A altitude realmente está sendo um problema. Espero que passe logo.
- O trânsito é bem melhor que o de Sta Cruz, mas ainda é confuso. (acho que perdi o referencial de trânsito organizado).
- Os taxis são mais discretos, mas ainda existem alguns bem enfeitados e com várias luzes piscando (acho que estou sentindo falta da extravagância de Sta Cruz).
- Aqui também não se usa cinto de segurança.
- Há muitos motoqueiros pela cidade e nenhum usa capacete (Pra quê? É bem melhor sentir o vento no rosto).
- As pessoas são mais tranqüilas e caladas. Não são muito de farra, como as pessoas de Sta Cruz. Levei quase 3 dias para beber minha primeira cerveja.
- Há muitos quéchuas e camponesas (aquelas que carregam seus filhos nas costas embalada por um pano colorido) circulando pela cidade.
- Cochabamba é uma cidade de Jovens universitários. Tem muito brasileiro estudando por aqui, mas por enquanto, não trombei com nenhum.

Bom, fiquei na casa bonita só por 2 dias. Por enquanto, estou dormindo no trabalho. Espero resolver isso até domingo.

To be continued...