Tempestade no La Plata

Postado por Babi Silva , terça-feira, 3 de novembro de 2009 03:26



Um gato preto cruzou o nosso caminho, quando estávamos indo em direção ao Buque (tipo de barco) que iria cruzar o Rio La Plata e nos levar de volta à Buenos Aires. Não sou supersticiosa, mas a maneira como, de repente, do nada, num lugar como aquele, aparece um gato completamente negro e cruza nosso caminho, unido ao grito de espanto de algumas pessoas, fez com que temores cruzassem meus pensamentos. Claro que pouco tempo depois, com a empolgação em ficar relembrando as boas surpresas da viagem, logo todos esqueceram o episódio do gato.

Quando chegamos ao barco, o tempo começou a virar. Embarcamos em meio à ventos fortes e trovoadas, ainda não chovia. Enquanto esperávamos o barco sair, nos divertíamos relembrando historias, contando causos e conversando. De repente, o capitão pede atenção e explica que, por causa da tempestade, poderíamos ter que passar a noite no barco, ele disse que esperaria mais 2 horas para ver se a tempestade melhorava. A galera adorou a possibilidade de passar a noite no barco. A partir daí, o barco se tornou nossa casa. 
A Natalia, presidente eleita da AIESEC BH para a gestão 2010, aproveitou para ensinar aos membros um pouco mais sobre Branding Experience da AIESEC. Tati pegou a câmera de Marcelo e começou a fazer um videozinho sobre nosso momento tenso/ansioso de esperar pra ver o que acontecia.Eu e Olivia aproveitamos para assistir o filme que estava passando. O filme me inspirou e peguei o meu diário de viagem para escrever um pouco.

Algum tempo depois, o barco liga o motor e se prepara pra sair.

Perai, a tempestade ainda não passou? Tá doido, capitão?! A tempestade ainda ta muito forte! Todos se entreolharam assustados e voltaram aos seus lugares. Um dos meninos grita: “Ai, o gato preto!!! Agora estamos ferrados!” A partir daí começou uma das viagens mais emocionantes da minha vida.
Para tentar relaxar, continuei escrevendo em meu diário todas as emoções e  percepções do momento. Abaixo minhas palavras:

Chove lá fora. Estamos presos no barco esperando a tempestade passar.

Está passando o filme, “Antes de Partir”. Nossa, não teria título melhor para um momento como esse... Antes de partir: Dois homens com câncer terminal decidem viajar pelo mundo, realizando os últimos desejos de sua vida. Viajar pelo mundo fazendo tudo que sempre quiseram. O que eu busco em meu intercâmbio? Porque estou aqui agora, tão longe de casa? Será o desejo de conhecer o mundo realizando todos os meus sonhos? Quantos sonhos...

Amanhã meu vôo de volta pra Bolívia sai às 8:00 da manhã. Se ficar a noite toda aqui no barco irei perdê-lo e serei obrigada há ficar mais tempo na Argentina. Será um aviso do destino? Talvez a oportunidade de viver um pouco mais Buenos Aires e conhecer lugares que ainda não conheci...
O barco liga o motor em sinal de que vai sair, mesmo com o tempo muito ruim.

Ai o gato preto... ele não sai da minha cabeça...
As comissárias de bordo começam a distribuir saquinhos de vômito para todos os passageiros. Todos, com olhares apreensivos pegam 1,2, 3 saquinhos, já prevendo o que poderia vir.
O barco começa a navegar. Um burburinho forte começa. Olho para os lados e o que vejo são olhares apreensivos. TODOS, não importa de onde vêm, sua historia, se são amigos ou desconhecidos. Todos comungam um mesmo olhar.

Uma turma de jovens mulheres conversam animadas, com risadas nervosas, tentando espantar o medo. Uma das comissárias sorri e diz a elas: Isso, mantenham o humor, vai dar tudo certo.

Olho pra TV e o  filme está parado. Cena paralisada do filme: Morgan Freeman (um dos homens com câncer) está deitado na cama do hospital com a mão estendida para Jack Nicholson (o amigo que também tem câncer). Os dois estão na mesma situação e mesmo assim, ele estende o braço em sinal de socorro e pedindo apoio ao amigo. Nós estamos no mesmo barco, com olhares apreensivos como que pedindo apoio uns aos outros.

A luz apaga, burburinhos aumentam, a luz acende... O barco balança muito, não dá pra ficar de pé...
Tati grita tentando animar a galera: Natália, você não queria uma montanha russa? Aí está!
Natália nem se move. Está com os olhos fechados desde que saímos. Como quem fecha o olho na Montanha Russa querendo que a brincadeira acabe logo.

Já temos uns 20 minutos de viagem. Um dos passageiros pergunta: Por que o filme parou?
O barco continua balançando muito. Olho para os lados e agora todos estão de olhos fechados.
Depois de tanto reclamar, o senhor tem seu filme de volta. Porém, ele está começando de novo.

Queria que fosse dia pra poder ver as ondas batendo contra o barco. Será uma imagem bonita?
Agradeço a Deus por ser noite e só sentir as ondas batendo contra o barco. Dá pra sentir as ondas batendo nas janelas bem ao nosso lado.  Acho que não iria gostar de ver essa cena...

Estou tremendo. Não sei se de medo ou se por causa do ar que ficou mais frio.
Pergunto a um dos comissários e ele diz que é para que as pessoas não passem mal...
Não passem mal? Como assim? Olho novamente para os lados e muitos já estão passando mal... o burburinho está diminuindo... Mas o balanço continua forte.

Já se passaram uns 50 min. Fui até o banco próximo de alguns dos meninos pra ver como estavam. Todos de olhos fechados. Matheus tenta se distrair conversando com a Tati. Muitos dos outros já passaram mal e a cada minuto mais um passa mal.
Quando começam a se sentir mal levantam a mão e o comissário logo trás um lenço úmido e coloca na testa. Marinninha pergunta pra que serve. Não sei, respondo, mas deve servir de algo, pois todos estão fazendo o mesmo.

Olho novamente para os lados e agora vejo a maioria dos passageiros com o lenço umedecido na testa. Lenços brancos. Como se fosse um pedido de desistência, uma bandeira branca pedindo rendição. Pedindo clemência e paz ao Deus Netuno.
Deus Netuno está mesmo furioso e continuamos a turbulenta viagem.

Agora o burburinho dá lugar ao silêncio. Só ouvimos o motor do barco, as respirações ofegantes em meio à pessoas passando mal.

Mais algum tempo, talvez 30 min, 1 hora. Não sei ao certo... O barco começa a diminuir a velocidade...

Todos levantam as cabeças tentando, em vão, ver além da escuridão das janelas. Os comissários sorriem satisfeitos. Chegamos.

4 Response to "Tempestade no La Plata"

Diego Gomes Says:

Nussa senhoraaa..

Sinistro isso..
Mas cade os pacotinhos de club social distribuidos pela aiesec hehhe

Cade os comentarios da naty hehehe

eu ri de mais quando voce me contou no skype hehe. E aqui eu fiquei apreensivo.

Babi Silva Says:

Hahahaha...É pra mostrar o lado tenso da viagem hahhahhahaha...

O mais legal foi que, alguns passageiros não satisfeitos com o presentinho oferecido, ainda pediam coca-cola para acompanhar o lanche!

Preferi não colocar o comentário da Nat pra não expor a imagem dela.rsrsrs

Nat começa a resmungar: "Não posso morrer, ainda não sou presidente!"

Gisele Araujo Says:

Babi!!! Acredita que fui de férias a Buenos Aires 2 meses atrás com meu namorado e tb passei um terror neste barco? E o pior é que foi na ida e de dia... Mas tb estou viva graças a Deus. rsss

Pelos seus posts estou vendo que a sua experiência na Bolívia esta sendo demais, né? Desejo ainda mais coisas boas nesta xp!!

Bjos!

Gisele Araújo

Babi Silva Says:

Ahh... Então é por isso que o capitão estava tão tranquilo! Ele já tá acostumado com essas tormentas! Estou amando a Bolivia!! Boa sorte pra vc também Gi =)